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Enterradas divertem, mas aro mais baixo no feminino divide opiniões

Demétrio Vecchioli

10/04/2018 04h00

A imagem pode conter: 8 pessoas, atividades ao ar livre

As argentinas foram as primeiras a tentar. Convidadas do Jogo das Estrelas da Liga de Basquete Feminino (LBF), passaram longe de justificarem a participação no Torneio de Enterradas. Quando muito, foram bloqueadas pelo aro. Mas aí vieram as quatro brasileiras inscritas e todas não só conseguiram a cravada, como o fizeram com alguma acrobacia. Quem estava no ginásio Pedro Dell'Antonia em Santo André (SP) se animou, ainda mais com a vitória da pivô Bianca, do time local. O intuito da LBF estava alcançado.

O torneio só foi possível graças a um detalhe quase imperceptível a olho nu. O aro foi colocado 30 centímetros mais baixo do que a altura oficial. Ou seja: a 2,75m. Aí, atletas que nos treinos quando muito conseguem se pendurar na cesta, nunca enfiar a bola dentro do aro, realizaram o sonho da cravada, com direito a muita vibração das companheiras/adversárias e, claro, da torcida.

"A brincadeira foi gostosa para a gente. No treino eu tento cravar, mas só consigo puxar o aro. Então foi muito divertido aqui", comentou Thayná, destaque do São Bernardo e vice-campeã do torneio. Na final, ela tentou enterrar passando por cima de uma jogadora que estava de cócoras, saltando de longe, mas parou no aro.

Tati, do Sampaio Corrêa, também se saiu bem. Mais baixa entre as competidoras, mas também mais atlética, ela contou que quando mais nova treinava enterradas. Tem impulsão inclusive para ultrapassar o aro com a bola, mas ainda sofre para fazer o movimento de empurrar a bola no aro. "Gostei da ideia e acho até que vou voltar a treinar para conseguir enterrar no aro normal", disse ao blog.

A reação do público que lotou o ginásio de Santo André em plena hora de almoço do domingo mostrou que não foi só as jogadoras que gostaram da ideia. O torneio de enterradas passou no teste, proposto pela LBF. A liga quer saber quão mais plástico e mais interessante o jogo pode ficar com o aro mais baixo. Inclusive, a ideia inicial era que o Jogo das Estrelas em si, um duelo entre a seleção da liga brasileira e o time da liga argentina, fosse com a tabela mais baixo.

 

"A gente tem uma equipe da Unicamp contratada para fazer uma avaliação do que pode ser melhorado na dinâmica do basquete feminino com o aro mais baixo. Como os estudos não foram concluídos, a gente fez de uma forma não didática ainda. A gente tem que entender se baixar o aro vai mudar a dinâmica. Nosso objetivo é fazer um estudo com calma e o torneio de enterradas foi uma forma de a gente provocar, repensar tudo", contou ao Olhar Olímpico o presidente da LBF, Ricardo Molina.

Ele é um entusiasta da ideia, que já apareceu diversas vezes na história do basquete feminino. Argumenta-se que no vôlei, por exemplo, a rede mais baixa permite que a dinâmica das partidas femininas não se distingue tanto das masculinas. Mas há opiniões contra e a favor.

"É interessante. Tudo tem que ser analisado, fazer testes. Mas o aro mais baixo pode tornar o jogo mais atrativo em si. Quando eu estava jogando eu gostava de tentar e conseguia até enterrar no aro mais baixo. Eu acho que tudo tem que ser natural. Como alguns esportes tem algumas regras para mulheres, acho que pode ter no basquete feminino também", opinou Janeth, uma das juízes do desafio.

Outra referência do basquete brasileiro, Magic Paula não estava presente ao evento em Santo André, mas acompanhou as enterradas pelas redes sociais. E, em entrevista ao Olhar Olímpico por telefone, não se mostrou empolgada com a ideia de abaixar o aro. "Eu acho que numa festa como a de domingo é interessantíssimo, mas não acho que valha adaptar ao campeonato. Porque aí, quando você vai jogar internacionalmente, vai ficar estranho. Você treina e joga com tabela mais baixa, mas no torneio internacional muda. Sempre houve esse movimento, mas a Fiba nunca mostrou interesse. Então eu não acho que para a LBF seria o ideal", argumentou.

Para Ricardo Molina, pesa a favor da decisão o fato de as brasileiras terem mostrado desenvoltura com a proposta. "Apesar de ser mais baixo, as mesmas jogadoras de outro país não conseguiram, mas as brasileiras sobraram. Isso mostra que a gente tem que mexer com isso, a gente tem capacidade. É uma ansiedade que a gente provocou e deu certo".

 

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.