Topo

Olhar Olímpico

Após 27 times de futebol, roupeiro anão desafia preconceito no basquete

Demétrio Vecchioli

19/01/2018 04h00

(Divulgação)

Na foto posada do novo time de basquete feminino de Itu (SP), o Ituano/Funvic, apesar da presença de ex-atletas da seleção brasileira como a pivô Kelly e a ala Palmira, ninguém chama mais atenção do que o roupeiro Robertão. O nome engana, mas a imagem, não. Com declarados 1,30m de altura, Robertão é anão. Possivelmente, o primeiro a participar de um campeonato nacional de basquete.

Como roupeiro, Robertão faz parte da comissão técnica do Ituano. O que significa que, se a equipe atingir seus objetivos na sua estreia na Liga Feminina de Basquete (LBF), que começou no fim de semana passado, ele será um dos campeões, com direito a medalha. A comissão é liderada pelo técnico Antônio Carlos Barbosa, técnico da seleção na Rio-2016.

A experiência no basquete é inédita, mas Robertão está longe de ser um novato no ramo. "Já trabalhei em 27 clubes", conta o roupeiro, que estava há quase três décadas no futebol. A primeira experiência foi em 1989. "Eu trabalhava em São Paulo, peguei férias e vim para Itu visitar minha família. Aí surgiu a oportunidade de ser gandula do Ituano. Peguei amizade com todo mundo, um dia o roupeiro faltou, e me perguntaram se eu queria ser o roupeiro. Topei e estou até hoje nisso."

No Ituano, foram 10 anos. De lá, seguiu para o São Caetano, antes de rodar o país. Voltou ao Ituano para mais seis anos, já convidado por Juninho Paulista, gestor do clube e um dos seus jogadores preferidos nos anos 1990, quando o depois craque do São Paulo e da seleção brasileira ainda começava a carreira no Ituano.

E foi justamente o ex-meio-campista que o chamou para voltar, agora em um novo desafio. "Eu estava na Votuporanguense, mas recebi o convite para voltar para cá, para trabalhar com basquete. É minha primeira vez fora do futebol", diz Robertão, que não sente tanta diferença entre a nova modalidade e o futebol. Difícil, para ele, é lidar com as jogadoras. "As mulher são mais estressada, né?", diz. Diferente do trabalho com os homens, o roupeiro só busca as roupas sujas no vestiário delas depois que todo mundo já está trocada.

Outra diferença importante é que, agora, Robertão não precisa subir em uma escadinha para mexer no armário de chuteiras do vestiário do Ituano. O resto da rotina é a mesma. "Preparo gelo, faço bolsa de gelo, cuido das águas, das garrafinhas, ajudo em tudo que precisa", explica.

Apesar das dificuldades, Robertão não gosta de falar em preconceito. Diz que isso aí tem "em todo lugar", mas que, no basquete, ao menos neste início de trabalho, não se sentiu excluído. Mas já avisa: "E se tiver, também, eu não me importo, nunca me importei. Eu respondo fazendo meu trabalho direitinho".

Sobre o autor

Demétrio Vecchioli, jornalista nascido em São Roque (SP), é graduado e pós-graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Começou na Rádio Gazeta, foi repórter na Agência Estado e no Estadão. Focado na cobertura olímpica, produziu o Giro Olímpico para o UOL e reportagens especiais para a revista IstoÉ 2016. Criador do Olimpílulas, foi colunista da Rádio Estadão e blogueiro do Estadão, pelo qual cobriu os Jogos do Rio-2016.

Está disponível para críticas, elogios e principalmente sugestões de pautas no demetrio.prado@gmail.com.

Sobre o blog

Um espaço que olha para os protagonistas e os palcos do esporte olímpico. Aqui tem destaque tanto os grandes atletas quanto as grandes histórias. O olhar também está sobre os agentes públicos e os dirigentes esportivos, fiscalizados com lupa.