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Bala na Cesta

Estreante na NBA, Teodosic afirma: 'Vim na hora certa e pro time certo'

Fábio Balassiano

19/10/2017 06h30

A temporada do Los Angeles Clippers começa nesta madrugada no clássico local contra o rival Los Angeles Lakers. Depois da Era Chris Paul, a franquia vê um novo armador preparado para guiar o time na NBA. Trata-se do sérvio Milos Teodosic, que aos 30 anos fará a sua estreia na liga norte-americana nesta noite cercado de muita expectativa.

Melhor armador da Europa há anos, Teodosic era cortejado pela NBA fazia tempo, mas só agora fez o "salto" do velho mundo para os Estados Unidos. Já desfilando seu talento na pré-temporada com passes incríveis, Milos conversou com o blog com exclusividade direto de Los Angeles e falou sobre o campeonato, seleção da Sérvia e muito mais.

BALA NA CESTA: Há um ano eu lhe entrevistei e você me disse que jogar na NBA iria acontecer na sua carreira em muito breve. E ocorreu um ano depois. Como foi a tomada de decisão para sair da Europa, onde você é um ídolo e um dos melhores jogadores da atualidade, e ir pra NBA? Como foi, também, o approach do Clippers para com você para fechar a negociação?
MILOS TEODOSIC: Como você disse bem, era meu objetivo jogar na NBA, mas eu sempre quis fazer no momento certo, da melhor maneira possível e indo jogar em um time certo, em um lugar que me sentisse confortável e confiante. Foi assim que optei por jogar no Los Angeles Clippers. Recebi algumas ofertas, algumas delas divulgadas até pela imprensa norte-americana (Nota do Editor: ele se refere a do Chicago Bulls, muito noticiada pela mídia dos EUA), mas estou seguro que fiz a melhor opção. O que mais pesou para que optasse pela franquia foi a chance de ter bons minutos e um time competitivo para ganhar muitos jogos. Estamos todos muito animados para essa temporada. Vamos jogar bem, nos divertir muito e quem sabe irmos longe também nos playoffs.

BNC: Na Europa você, como disse acima, é um armador reconhecido, craque, dono dos times em que jogou. Está preparado pra ser testado, provado, analisado como se fosse um calouro na NBA, onde jogos e exigências são completamente diferentes?
MILOS: Estou preparado não pelas minhas qualidades apenas, mas porque tive todo suporte da franquia, dos meus companheiros, da comissão técnica e dos fãs. Não há dúvida que são dois jogos completamente diferentes, o da Europa com o qual estava acostumado, e o da NBA que passarei a ser testado a partir de agora. Estou preparado para o desafio e para tentar dar mais um passo em minha carreira. O esporte é o mesmo. Mas muda a forma como é encarado, a exigência física, o número de jogos e sem dúvida também a dificuldade que é imposta por uma temporada de 82 jogos e com tantos craques divididos em tantos times sensacionais. E eu estou jogando no Oeste, você pode imaginar o que é isso, né?

BNC: Sei que foram poucos dias de treinos e também poucos jogos de pré-temporada, mas quais você detectou que são as principais diferenças entre o jogo europeu e o da NBA? No que você vai ter que se adaptar mais rápido para se tornar o grande jogador que sabemos que é no Clippers? Houve algum tipo de preparação especial para compreender isso, conversando com os atletas ou vendo jogos, por exemplo?
MILOS: Adoraria te responder a estes questionamentos, mas eu não tive tanto tempo assim para desenvolver essas respostas (risos). É pouco tempo, muito pouco tempo mesmo. O tempo se encarregará de dizer exatamente como eu vou me adaptar e performar aqui na NBA. Mas posso te dizer que não tive nenhuma preparação diferente da que tinha na Europa. Tenho meu preparador físico, minha equipe, nada mudou em relação a isso. O apoio do time é o principal que tenho tido nestes primeiros momentos e isso realmente tem sido fantástico. Pode ter certeza que a única coisa que terei que me adaptar muito rápido é a lançar a bola mais alto, porque o que DeAndre Jordan e Blake Griffin saltam é um verdadeiro absurdo, surpreendente demais. Ver de perto é algo de outro planeta. Se duvidar eu jogo a bola no teto do ginásio eles vão lá e pegam pra enterrar (risos).

BNC: Você acha que a sua qualidade de passe, que é incrível, será ainda mais potencializada jogando em um basquete mais veloz, de quadra aberta, e também tendo ao lado atletas com um potencial físico incrível, como são DeAndre Jordan e Blake Griffin? Por outro lado, seus defensores serão também mais atléticos, como Russell Westbrook, John Wall, entre outros. Isso não é tão visto na Europa…
MILOS: Veremos exatamente quando a temporada começar, mas em relação a potencializar a qualidade dos armadores jogando no Clippers não há a menor dúvida. Quem joga com Blake, DeAndre e os outros jogadores do Los Angeles Clippers tem, do ponto de vista do armador, uma vida realmente bem bacana. O mais legal de tudo é que pra mim, que gosta de jogar em um estilo mais aberto, mais rápido, é que temos jogado desde a pré-temporada em um ritmo mais acelerado, mais rápido, mais fluído. Isso é fantástico pra mim.

BNC: Recentemente outro craque da Europa foi para NBA, o Sarunas Jasikevicius, mas ele não brilhou tanto na liga americana como brilhou na Europa. Isso lhe preocupa? É algo que você teve em mente quando assinou um contrato de 1+1 ano, ou não há nenhuma relação?
MILOS: Sinceramente não, Fábio. Eu só olho pra mim mesmo quando tomo as decisões. O motivo pelo qual eu escolhi este tipo de contrato é que quero ver como me saio para, logo em seguida, optar por algo mais longo, mais duradouro. Cada pessoa é diferente da outra, e eu tenho meu método de pensar.

BNC: Há uma história engraçada com o Patrick Beverley, que jogou com você no Olympiacos e que agora te reencontra no Clippers. Ele usava um nome falso para fazer reservas em hotéis de modo a evitar o assédio dos fãs. E era… Milos Teodosic. Você sabia disso? Agora ele não poderá mais fazer isso, né?
MILOS: Claro que soube. Ele me contou e a gente sempre ria disso juntos. Mas agora acabou esse tipo de brincadeira, né? Foi a primeira coisa que mandei pra ele quando assinei com o Clippers: "Pat, procura outro apelido porque estou chegando aí". E aí ele me ligou dando gargalhadas. Jogamos juntos na Grécia e é ótimo tê-lo novamente como companheiro. Ele irá me ajudar demais na adaptação.

BNC: Com a saída do Chris Paul, o Coach Doc Rivers declarou à imprensa norte-americana que o jogo do Clippers seria menos de pick-and-roll e mais passes, ball movement. Menos corta-luzes e mais passes, muitos deles inclusive sendo iniciados com o Blake Griffin, fazendo com que o armador jogue mais fora da bola também. Você acha que foi por isso que ele lhe procurou para contratação? Como tem sido os primeiros dias com o Rivers? Vocês têm conversado muito sobre isso também?
MILOS: É difícil para mim, né? Não vou conseguir te responder a estas perguntas. São do passado. Eu só sei que tenho um grande suporte e um apoio incrível da comissão técnica e dos meus companheiros para que tenhamos sucesso nesta temporada. Não posso abrir muito nossa maneira de jogar, mas estamos muito confiantes e eu, particularmente, muito feliz porque é algo que não só sei fazer mas que também acredito que dará resultado. Sobre o Blake ter a bola nas mãos dele, não creio ser um problema, pois sei jogar sem ter a bola comigo o tempo todo e em alguns momentos eu até prefiro. Isso me dá a possibilidade de ver o jogo com mais calma, sem tanta pressão do marcador e procurar meus espaços. Pode ter certeza que vou tirar coisas positivas e vantagens competitivas de jogar com grandes atletas, como os que temos aqui no Clippers.

BNC: Recentemente seu país foi vice-campeão europeu e foi recebido em Belgrado com milhares de pessoas. Apesar de você não ter estado nesta edição, como é ser uma estrela do basquete em uma nação que ama tanto a modalidade como é a Sérvia? O que isso representa pra você, sobretudo neste momento onde as eliminatórias mudarão seu formato?
MILOS: A Sérvia é um país cujo esporte número um é o basquete. Isso é um fato. As pessoas amam o nosso esporte e os atletas são muito reconhecidos na rua, na imprensa, em todos os lugares. Isso é bem legal realmente. Especialmente depois de conquistar medalhas e chegar às finais isso aumenta bastante. Infelizmente o nosso time não conseguiu ganhar uma medalha de ouro nos últimos anos, mas estou muito orgulhoso do que eles atingiram como equipe, sinceramente. Não pude estar desta vez, mas acompanhei e torci demais. Sobre a mudança de regulamento, as eliminatórias, de fato agora há uma mudança bem gigantesca no formato e isso acarretará em uma adaptação monumental por parte dos times, atletas, comissões técnicas e torcedores. Grande parte dos atletas não poderá atuar na eliminatória, e tenho certeza que isso causará um problema imenso na Europa e também nos demais continentes do mundo. É uma pena realmente.

BNC: Por fim, qual foi a emoção de ter feito mais uma vez o seu Camp para ensinar meninos mais jovens? Qual é o sentimento quando você olha garotos sérvios te tendo como uma grande referência?
MILOS: TEO4 (o nome do Camp) é meu orgulho e meu prazer. Estamos fazendo o Camp há dois anos e neste período conseguimos fazer com que mais de 2 mil crianças fossem aprender um pouco de basquete. É engraçado porque embora eu tenha uma equipe imensa de treinadores para dar suporte às crianças eu me envolvo em todas as etapas, fazendo parte do dia a dia e ensinando um pouco do que aprendi. Me misturo a elas e sou mais um ali me divertindo, brincando, levando o esporte como ele deve ser levado. No próximo verão será de 20 de junho a 15 de agosto em Belgrado e você já está convidado (risos). Mais informações podem ser encontradas aqui. Meu maior objetivo é produzir mais e mais campeões no basquete e na vida.

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