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Bala na Cesta

O que esperar de Petrovic como técnico da seleção brasileira com o esquizofrênico calendário da FIBA?

Fábio Balassiano

24/10/2017 07h00

O croata Aleksandar Petrović será apresentado hoje em São Paulo durante evento promovido pela Confederação Brasileira de Basketball como o novo técnico da seleção brasileira masculina adulta para o ciclo olímpico que terminará após a Olimpíada de Tóquio, em 2020. No sábado havia noticiado aqui que o acordo estava próximo, então agora é a hora de fazer uma avaliação sobre o que podemos esperar do irmão do grandíssimo Drazen, um dos melhores jogadores que este mundo já produziu.

Em primeiro lugar, parece claro que Petrovic é um bom nome. Se não é do primeiríssimo nível onde figuram David Blatt, Obradovic, Ettore Messina e poucos mais, sobretudo porque no basquete, tal qual no futebol, o primeiro escalão praticamente todo está nos clubes e não nas seleções, me parece que seus últimos trabalhos com a Croácia, onde aplicou uma metodologia de jogo bem arejada, o credenciam para fazer um bom trabalho com a seleção brasileira.

Isso é um fato e alguém que convive com uma escola tão tradicional e tão em linha com o que de melhor se pratica na modalidade pelo mundo tende a trazer uma metodologia bem interessante para o país. Ao invés do jogo travado que víamos com o antigo técnico, o argentino Rubén Magnano, que teimava em jogar um jogo que não se vê mais em nenhum lugar do mundo, espera-se agora o que de melhor há no basquete europeu – velocidade, cortes, chutes de três (o planeta todo joga assim!) e espaço para criatividade.

O problema para Petrovic chama-se calendário. O novo calendário da FIBA que é unânime em avaliações. Ninguém gosta. De técnicos a atletas. Passando por dirigentes e imprensa. Só quem gosta é a Federação Internacional. Mas o fato é que ele, europeu e acostumado a ver o basquete brasileiro pelas "lentes" dos que atuam em NBA e Europa, terá que convocar atletas que jogam basicamente no NBB e em times europeus que não jogam Euroliga, por exemplo.

E convocar não é somente o problema. Haverá pouquíssimo tempo (menos de uma semana) para o croata implantar a sua filosofia com um grupo novo, recém-formado e de cara com desafios de duas partidas de eliminatórias para jogar (e, para evitar problemas futuros, vencê-las). O time que deve se reunir na segunda quinzena de novembro tem pela frente o Chile (24/11 fora de casa) e Venezuela (27/11 no RJ).

Entendo que este é um requisito que a CBB não abre mão, mas de novo volto no ponto. Cercar o recém-chegado Petrovic, de 58 anos, com personagens que já tenham a vivência de seleção, notadamente Neto, Gustavo de Conti e Demétrius, seria o mundo ideal, mas a gestão de Guy Peixoto abre mão de tudo que foi feito no governor Magnano e esta decisão parece imutável. Respeito a decisão, claro, mas não concordo e creio que o croata se ressentirá bastante de ter profissionais experientes para dialogar não só sobre parte tática, mas sobre o panorama do esporte brasileiro de uma maneira mais ampla. Cenários que treinadores que vencem e chegam às finais dos NBB's e campeonatos continentais como os três citados neste parágrafo poderiam auxiliar, sem dúvida alguma.

Torço pra dar certo e acho, sim, que a CBB acertou no nome. Mas com este novo formato das eliminatórias da Copa do Mundo (de 2019), talvez seja o caso de dizer que Petrovic é o técnico certo para o calendário internacional errado. E este calendário, errado, equivocado, esquizofrênico, de verdade não é culpa dele, nem da Confederação e muito menos uma crítica inicial. É o novo jogo da FIBA e cabe aos países tentar jogá-lo da melhor maneira possível (se é que isso será factível). Como todo profissional novo em sua função, o treinador precisa de um tempo razoável até que se tenha "caldo" para análise.

Cabe a nós (e também à Confederação Brasileira) torcer para que ele se adapte ao basquete brasileiro com rapidez e que os atletas consigam suas liberações com os clubes para atuar pela seleção no maior número de vezes.

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