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Bala na Cesta

Em festa 'fechada' do Paulistano, basquete perde oportunidade de crescer na maior capital do país

Fábio Balassiano

25/05/2017 00h03

Então quer dizer que um time da capital de São Paulo vai jogar o primeiro jogo de uma final de um campeonato nacional masculino adulto na maior capital do país desde 10 de maio de 1996, quando o Corinthians, de Oscar Schmidt, foi campeão em cima do seu homônimo time de Santa Cruz do Sul e conseguiu "murchar" o evento antes mesmo dele acontecer?

Por mais inacreditável que isso possa parecer, é isso mesmo que aconteceu. O Paulistano, que em 2014 chegou à final em jogo único do NBB (perdeu para o Flamengo no Rio de Janeiro), agora repete a dose, mas dessa vez com uma decisão em melhor de cinco partidas. A primeira, com mando de quadra do clube, será na capital de São Paulo no sábado às 14h. Dos cerca de 1.400 lugares disponíveis no ginásio, apenas (creiam) 50 serão disponibilizados para torcedores comuns (não-sócios). E através de um sorteio (mais aqui), algo totalmente diferente do que foi feito pela agremiação ao longo do campeonato.

O motivo é claro: os sócios do Paulistano, que de fato bancam o clube com mensalidades e tudo mais, reclamaram e esgotaram os ingressos nesta quarta-feira. Há dois agravantes nisso aí: isso só está acontecendo na final e nenhum torcedor, digamos, comum sabia que havia este privilégio para os mensalistas da agremiação.

A novidade gerou uma série de reclamações no Facebook e também no Instagram do clube, que tentou minimizar o ocorrido conversando com os torcedores que, com toda razão, diziam ter apoiado o time ao longo de toda campanha e que na hora mais importante seriam deixados de fora, tornando a final em uma espécie de "festa fechada" dos sócios do Paulistano. Vale dizer que com ações de comunicação criativas e muito bem boladas pela agência de marketing contratada pelo clube (a ótima Old Coach), um dos mais tradicionais de São Paulo conseguiu encher o seu ginásio de TORCEDORES (e não sócios) em vários jogos ao longo da temporada com atrações que iam de DJ a dançarinas, passando pelo fotos gigantes dos atletas e muito mais.

O clube não pode vender ingressos por ser social e, com o interesse crescente pela modalidade e pela equipe que foi se desenvolvendo ao longo da competição, viu filas quilométricas em partidas de fase regular e de playoff, em uma prova de que o trabalho de comunicação e de aproximação de atletas e torcedores estava funcionando muitíssimo bem. Na hora mais importante, portas fechadas pra galera fidelizada (ou ex-fidelizada) que acompanhou quase tudo do certame. Ou seja: foi plantada uma semente durante todo o campeonato, mas na hora do fruto quem está aproveitando não é quem o regou por meses. Erro grave do Paulistano ao meu ver.

No momento mais lindo do NBB nesta temporada, no momento mais surpreendente da história do torneio, no momento da grande efervescência em redes sociais e com duas equipes fazendo uma final inédita a Liga Nacional e sobretudo o basquete perdem uma oportunidade absurda de levarem, fidelizarem e apaixonarem torcedores na maior capital do Brasil. Entendo a dificuldade de colocar o Jogo 1 no Ibirapuera (custo, calendário, um evento da Disney no gelo ou algo parecido), mas restringir demais como o Paulistano está fazendo e com uma regra que só está sendo adotada agora (a hora do "filé) não me parece o mais adequado, não. Ouvi todas as partes envolvidas e confesso que nenhuma explicação faz sentido pra mim que não a da "carteirada" dos sócios do clube. Uma pena.

Não obstante isso (e lá vou eu entrar de novo neste tema) me choca bastante a imagem abaixo:

O que há de errado com o print da tabela de jogos das finais, senhores? Há muita gente reclamando que as finais não poderiam ser disputadas nos ginásios de Bauru e Paulistano, como ocorrerá nas partidas 1 e 2 a partir de sábado, mas acho que nem é por aí. Há uma brecha no regulamento no Artigo 66 quando se fala em mando de quadra pras finais (clique aqui e consulte a partir do artigo 61), houve alinhamento entre os clubes e pra mim está tudo certo, então.

O que me choca (de novo) é que a partir do jogo 3 o público (o consumidor, gente!) não saiba a menos de 10 dias onde será a partida. Os clubes já sabem, cogitam-se o ginásio do Corinthians para o jogo 4 e Araraquara ou Botucatu para os duelos 3 e 5, mas o fato é que no site oficial da Liga Nacional de Basquete existe um "local não confirmado" que não pega nada bem. Em fases anteriores dos playoffs o problema eram os dias e horários. Agora, o local. Faltam 10 dias para o jogo 3.

Planejar é preciso. Informar é obrigação. Enxergar o torcedor como cliente final e tratá-lo com carinho é essencial para o crescimento. O basquete perde a chance de crescer em São Paulo, a maior capital do país, porque o Paulistano optou por uma festa fechada. E o fã (consumidor / cliente) mais uma vez fica esperando confirmações de última hora para saber onde serão os jogos mais importantes da temporada.

Não é fácil gostar e acompanhar basquete por aqui, não.

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