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Sloane Stephens: inteligente, madura e pronta para ser campeã

Alexandre Cossenza

09/09/2017 20h22

Sloane Stephens fez sua ascensão ao top 100 em 2012 e explodiu quando 2013 começou. Então número 25 do mundo, a americana que tinha 19 anos derrotou Serena Williams nas quartas de final do Australian Open. A compatriota estava lesionada, mas o peso do resultado foi o bastante para jogar todos os holofotes em cima de Sloane. Ela, infelizmente, ainda não estava pronta.

Aquele ano de 2013 marcou seu melhor ranking da carreira (#11, em outubro), mas também será lembrado sempre pelas polêmicas. A primeira delas aconteceu ainda antes de Melbourne. Foi em Brisbane, quando as câmeras mostraram Stephens chamando de "desrespeitosos" os gritos de "come on" de Serena, que venceu por 6/4 e 6/3 naquele dia (veja no vídeo abaixo).

A coisa piorou em maio, quando Stephens deu uma entrevista cheia de declarações fortes, contando, entre muitas outras coisas, que Serena não falava com ela desde janeiro e que o mundo precisava saber que a compatriota não era o exemplo de simpatia e educação em que todo o planeta acreditava. Isso foi depois daquele famoso tweet em que Serena escreveu "eu fiz você", e Stephens disse "você realmente acha que eu não sei que aquilo é sobre mim?"

Enquanto isso tudo rolava – e houve mais uma polêmica no Australian Open de 2014, quando Sloane supostamente torceu por Ivanovic contra Serena – fora das quadras, a jovem tenista tentava corresponder às novas expectativas. Não conseguiu. Não teve períodos desastrosos, mas só voltou às quartas de final em slams uma vez. Não eram raros os jogos que ela começava muito atrás no placar. Aos poucos, foi caindo no ranking até sair do top 40 em 2015.

O começo de 2016 foi promissor, com títulos em Auckland, Acapulco e Charleston, mas foi aí que veio a lesão diagnosticada como fratura por estresse no pé. Sloane ficou longe do circuito por 11 meses. Em julho de 2017, cerca de 40 dias atrás, ocupava o 957º posto no ranking. E foi aí que veio o salto. A americana fez uma semi em Toronto, outra em Cincinnati e chegou ao US Open como #84 do mundo.

Desta vez, Sloane estava pronta. Sem pressão, afiada e mais madura. Passou pela experiente Roberta Vinci na estreia, bateu Dominika Cibulkova em seguida e emendou com uma boa atuação diante de Ashleigh Barty antes de superar Julia Goerges nas oitavas. Nas quartas, venceu um duelo dramático com Anastasija Sevastova que terminou 7/6(4) no terceiro set. Não foi muito diferente contra Venus nas semifinais. Mais consistente do que a rival e sem se afobar, fez 7/5 na parcial decisiva. Faltava, ainda, um jogo para o título.

O último obstáculo, no jogo mais importante de sua vida, era a amiga Madison Keys. Pois Sloane não se intimidou com o momento nem se deixou afetar pela adversária. Apostou no seu jogo de consistência – o mesmo que havia derrotado Venus – e foi com ele desde o começo. Enquanto Keys disparava suas pancadas (mais) a torto e (menos) a direito, Sloane aprofundava bolas, acertava passadas e empilhava games. Cometeu só dois erros não forçados durante o 6/3 do primeiro set. Errou o dobro na segunda parcial, mas fez 6/0 e fechou o jogo em 60 minutinhos. Sem drama, sem titubear.

Abraçou a amiga Madison, abraçou todos em seu box no Estádio Arthur Ashe e brilhou mais ainda no discurso de campeã. Contou que uma vez um diretor de academia de tênis colocou pouca fé em seu futuro no esporte e agradeceu à mãe pelo apoio irrestrito apesar do diagnóstico de um especialista. Por fim, mandou um belo recado aos pais de tenistas, pedindo que acreditem nos filhos e deem o mesmo suporte que sua mãe lhe deu. Porque a campeã deste US Open joga um tênis inteligente, mas também é muito mais madura do que a de 2013. Sloane Stephens estava pronta.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.