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Bala na Cesta

Em busca de afirmação, armador Ricardo Fischer fala da estreia na Liga Espanhola pelo Bilbao

Fábio Balassiano

29/09/2017 06h34

Um dos mais talentosos jogadores da nova geração do basquete brasileiro, Ricardo Fischer estreia neste sábado na Liga ACB espanhola. Contratado pelo tradicional Bilbao Basket, do país Basco, o armador de 26 anos, ex-Flamengo, Bauru e São José, enfrenta fora de casa o Fuenlabrada, em Madri, disposto a começar a escrever uma história de sucesso no basquete do velho mundo.

Conversei por telefone com Fischer, que já havia morado na Suíça em sua adolescência, sobre essa sua segunda etapa no basquete europeu, as expectativas para a temporada, a adaptação a um basquete fortíssimo espanhol, a campanha ruim da seleção brasileira na Copa América e também se ele conseguirá defender a equipe nacional nas eliminatórias devido a indefinição do calendário envolvendo FIBA e clubes europeus. Confira o papo.

BALA NA CESTA: Qual a sua expectativa para a temporada que começa neste fim de semana? Até onde o Bilbao Basket espera chegar no campeonato?
RICARDO FISCHER: A expectativa é muito boa. Estou ansioso para que comece logo. Foram 40 dias de uma pré-temporada longa, intensa e com muita coisa nova pra mim. É um país novo, liga nova, novo time e novos objetivos! Quero e espero recuperar minha confiança e meu melhor jogo e ajudar o Bilbao a conseguir uma vaga nos playoffs. Este é o nosso grande objetivo!!

BNC: Este é seu primeiro campeonato na Espanha. Como está sendo a adaptação, o dia a dia com um novo ritmo de treinamento, comissão e atletas? Mais fácil ou difícil em relação ao que você esperava?
FISCHER: A adaptação está sendo muito boa. As pessoas da cidade e da organização são sensacionais e me ajudam muito e em tudo o que preciso. Posso destacar e quero agradecer muito ao Alex Mumbru e ao Javi Salgado, dois dos caras mais experientes do grupo e que não tenho palavras para descrever o que estão sendo para mim aqui. Uma mistura de companheiros de time, irmãos, pais, sei lá. Todos me dão o auxílio necessário, mas Alex e Javi são caras especiais. Os treinamentos são muito duros, como eram e são no Brasil. A diferença mesmo são as ideologias de trabalho! São conceitos diferentes, formas distintas de ver o jogo. Eu esperava exatamente o que estou tendo. Aqui sou "desconhecido" e sei que estou começando a minha história do zero. Então cada dia tenho que mostrar meu valor. É instigante e estimulante.

BNC: Mesmo com pouco tempo de treinamento, onde você já viu que terá que melhorar mais o seu jogo para se adaptar ao basquete europeu? É a parte defensiva mesmo? Onde mais o técnico Carles Duran, também jovem (41 anos), tem te cobrado para evoluir?
FISCHER: Defensivamente com certeza é o lado do jogo que mais preciso melhorar, não há dúvida. Nos outros aspectos estou me adaptando ao espaço do jogo e melhorando o arsenal de arremessos, pois os jogadores são bem maiores. O Carles, técnico, me cobra muito a marcação pressionada pela quadra inteira e para que eu dê ritmo à equipe.

BNC: O Brasil já teve alguns ótimos armadores na Liga Espanhola. Um deles, inclusive, já jogou aí, o Marcelinho Huertas, que está inclusive de volta à ACB. Você chegou a conversar com ele, Luz e Raulzinho para saber melhor como se preparar para o basquete do país? Se sim, o que eles te passaram?
FISCHER: Conversei bastante com o Huertas e também com o Vitor Benite, que está no Murcia. Os dois me ajudaram bastante passando com a ideologia daqui, como são os técnicos, a relação com a cidade, essas coisas. Basicamente falaram para treinar muito, ter confiança e fazer meu jogo independente de qualquer coisa! Os dois me passaram confiança e falaram que vou me dar muito bem por aqui. Vou fazer de tudo pra eles estarem certos (risos).

BNC: Fora de quadra, como está sendo a sua adaptação ao país? Não é a primeira vez que você mora fora, porque você já morou na Suíça, mas é um momento diferente, não? E em uma cidade diferente, que tem um componente político também distinto (o País Basco busca, tal qual a Catalunha, a independência da Espanha desde sempre). Consegue falar um pouco sobre isso?
FISCHER: Claro que minha experiência na Suíça me ajudou muito mas como você mesmo disse era outro momento. Agora estou mais velho, casado, sabendo exatamente o que quero da minha vida profissional. Encaro esta oportunidade na Espanha de uma maneira muito especial e vou agarrá-la. Mas uma coisa que ajuda são as pessoas daqui. Para quem não conhece, o povo de Bilbao é como nos brasileiros, bem quentes. São agregadores, alegres, então facilita muito. A cidade é fantástica. Pequena mas muito ativa, um polo gastronômico e que respira basquete.

BNC: Você não estava lá, mas como você viu o desempenho da seleção brasileira na Copa América? Pela primeira vez o país não jogará o Pan-Americano, competição inclusive que você fez parte e venceu em 2015. Bate uma grande tristeza, não?
FISCHER: Não podemos falar que foi boa, né? Mas primeiro tem que agradecer e valorizar a todos jogadores que foram, que deram a cara para bater. Tenho certeza que tentaram de tudo mas infelizmente o resultado não veio por diversos fatores. Começou tudo na correria por causa da suspensão, e com isso foram poucos dias de treino. Embora a gente torcesse, e torcesse muito, não tinha muito como dar certo! Mas acho que é um começo de ciclo, é preciso ter paciência, principalmente de vocês da imprensa (risos). A diretoria nova da CBB está tentando organizar a casa, que sabemos que estava uma bagunça. A partir daí definir técnico e comissão e ter PLANEJAMENTO, que é essencial para obter resultados que tenho certeza que vão vir. Acho que não é hora de baixar a cabeça e ficar triste, mas sim trabalhar TODOS em prol do nosso esporte e da nossa seleção.

BNC: Talvez seja cedo pra falar e/ou pensar, mas vale perguntar. Já houve algum tipo de conversa sua com o clube ou sua com a CBB em relação a seleção brasileira? Em breve haverá eliminatórias e a gente está vendo que os clubes Europeus, notadamente os da Euroliga, têm entrado em embate com a FIBA para liberar seus jogadores. Qual a sua expectativa em relação a isso? É uma situação complicada, não?
FISCHER: Tive contato, sim, com o Renato Lamas, Coordenador da Seleção Masculina, logo após essa Copa América que passou. Trocamos ideias e nossas vontades. Deixei claro que estou à disposição da seleção a qualquer momento! Acho que haverá em breve uma conversa da CBB com o clube daqui para deixar a par das coisas. Creio que não haverá problemas pois não jogamos Euroliga. Nosso time joga Eurocup, mas nunca se sabe. O que todos estão vendo é que está uma grande confusão aqui na Europa sobre essa questão do calendário e nenhum jogador sabe de fato de como vai ser e o que vai acontecer!

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