Topo

Bala na Cesta

Brasileiras 'ativam o passaporte' e buscam rodagem no exterior

Fábio Balassiano

05/10/2017 06h00

Não é segredo pra ninguém que a situação do basquete feminino brasileiro é muito ruim. Já são oito anos de resultados terríveis com a seleção, em 2017 a equipe nacional não jogará o Mundial pela primeira vez desde 1959 e falta renovação. Em entrevista divulgada na terca-feira aqui neste blog, Carlos Lima, treinador da seleção, destacou inúmeras vezes que falta rodagem às atletas, no que (ao menos em minha opinião) ele tem total razão.

O panorama pode começar a mudar a partir dessa temporada. Ao contrário de 2016/2017, quando apenas Érika, Isabela Ramona, Nádia e Clarissa atuavam no exterior, em 2017/2018 um total de 11 atletas ativaram seus passaportes, foram buscar experiência internacional e jogarão em Espanha, Portugal, França e Coreia do Sul (no final do texto há a lista completa).

Os destaques ficam por conta de Érika, campeã e MVP da Supercopa da Espanha no meio da semana passada, Nádia e Taty Pacheco, que jogarão na primeira divisão espanhola, Clarissa, no forte Flammes, vice-campeão da França, e Damiris, que estará na recém-criada e remodelada liga da Coreia do Sul. E isso pode contribuir para o sucesso do basquete feminino na seleção.

"Acredito que quando a atleta busca o crescimento individual consequentemente haverá uma melhora coletiva. Jogar contra outras escolas de basquete sempre será enriquecedor, sem falar na experiência de vida que elas terão. Quando você está fora da sua zona de conforto é o momento ideal para progredir, evoluir, tomar decisões, enfrentar problemas como a adaptação com outro idioma, outros costumes, jogos difíceis, entre outras coisas. Isso também lhes dará um amadurecimento em geral. Por tudo isso acredito, sim, que esta ida das atletas para o exterior poderá contribuir para o sucesso da seleção brasileira", avalia Adriana Santos, Coordenadora da seleção feminina.

Em sua primeira incursão no exterior, a ala Tatiane Pacheco, uma das melhores da nova geração, foi buscar a evolução a caminho do aeroporto também. Depois de atuar na Copa América da Argentina, Taty recebeu proposta do tradicional Estudiantes, de Madri, e está jogando a temporada 2017/2018 da Liga Espanhola pela primeira vez. Na primeira partida ela teve 3 pontos em 22 minutos. De acordo com a jogadora, o desempenho ruim da seleção não foi a principal motivação para jogar no exterior, mas ela confessa que a vontade de evoluir falou mais alto pós-Copa América.

"Na verdade jogar no exterior era uma coisa que eu sempre sonhei e agora estou realizando. Nas competições internacionais que fui, sempre jogava contra as melhores e via que tinha muito o que aprender. Espero que essa minha temporada fora seja apenas a primeira de muitas que virão e que eu possa adquirir mais experiência a cada dia", avalia Taty, que concorda com a tese de que muitas jogadoras brasileiras atuando no exterior farão a equipe nacional melhorar as suas performances coletivamente: "Com certeza contribui. A gente pode usar como exemplo a Érika, Clarissa, Nadia e Damiris, que já jogam fora do Brasil há mais tempo e são muito importantes pra nossa seleção. Acredito que com a saída do país, nós adquirimos mais conhecimento, mais experiência. Podemos aprender com outras escolas, outros técnicos e as outras atletas. Acredito que tudo é aprendizado e, no final, quem ganha é a seleção".

Quem também faz coro é Fábio Jardine. Empresário e sócio da agência First Pick, uma das maiores do planeta na atualidade, Jardine, considerado um verdadeiro anjo da guarda pelas atletas, é o responsável por 10 das 11 jogadoras que estão atuando no exterior nesta temporada (Damiris é a exceção).

"A ida de jogadoras brasileiras para fora do país sempre aconteceu, só que já faz alguns anos que todas estavam jogando no Brasil. Mas na geração anterior de Alessandra, Adrianinha, Helen, entre outras atuavam com brilhantismo na Europa também. Para esta temporada voltamos a ter muitas atletas no exterior, o que é excelente. Jogar fora te traz uma bagagem importante, pessoal e profissional, mas obviamente dependendo de uma série de fatores. Ao longo da temporada vamos ver como será o crescimento individual de cada uma delas. Para pensar em seleção, é importante dizer que o sucesso da equipe nacional depende de vários fatores como como treinamento, jogos etc.  Pro feminino o que é bom é que a ida das jogadoras pra fora não impede nada, já que não existe conflito de calendários com a seleção porque a Federação Internacional obedece um padrão mundial pras meninas. O problema que sempre ocorre é com a WNBA, que acontece no período de preparação das seleções", analisa Fábio Jardine, principal agente de atletas do país (da lista das 11 no exterior, 10 são de sua empresa, a First Pick), que faz um contraponto em relação a próxima Liga de Basquete Feminino: "Com certeza a ida destas atletas pra fora do Brasil é algo que afeta a LBF, mas temos meninas de talento que estão no brasil, meninas novas que terão oportunidade de se desenvolverem com tempo em quadra e estrangeiras novas e já conhecidas do público brasileiro como a cubana Casanova e a argentina Melissa Gretter.  Vejo também que há muitos times novos com intenção de entrar e a liga está se estruturando, então acredito que será uma edição de sucesso e com muitas caras novas".

 

Abaixo a lista completa:

ESPANHA

PRIMEIRA DIVISÃO
Érika de Souza (pivô, 35 anos) – Perfumerias Avenida; Nádia Colhado (pivô, 28 anos) – Girona; e Tatiane Pacheco (ala, 26 anos) – Estudiantes

SEGUNDA DIVISÃO
Izabella Sangalli (ala, 22 anos) – Gijón; e Isabela Ramona (ala, 23 anos) – Valencia

DIVISÃO DE ACESSO
Joice Coelho (ala, 23 anos) – Santander

FRANÇA – Clarissa (pivô, 29 anos) – Flammes Carolo Basket Ardennes (vice-campeão da temporada passada na liga local)

COREIA DO SUL – Damiris (24 anos) – KB Stars de Seul

PORTUGAL
Raphaella Monteiro (ala, 22 anos) – União Sportiva; Leticia Rodrigues (pivô, 22 anos) – União Sportiva; e Tainá (armadora, 25 anos) – Benfica

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.