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Saque e Voleio

Cossenza Responde #1

Alexandre Cossenza

24/07/2017 08h00

Bem-vindos à primeira edição do antigo "Perguntas & Respostas", que desde agora passa a se chamar Cossenza Responde (simplesmente para facilitar a criação de uma hashtag diferente). Para quem não conhece, a coisa funciona de um jeito bastante simples: os leitores mandam perguntas via Twitter e eu escolho algumas para responder no blog.

Era um pouco diferente na antiga casa do Saque e Voleio, mas como a moderação aqui é feita pelo próprio UOL e não por mim, a maneira mais simples de fazer a brincadeira agora é por meio das hashtags do Twitter. No início da semana passada, pedi que enviassem as perguntas, e as mais interessantes estão abaixo, junto com minhas opiniões. Leiam e participem do próximo mandando questões ou levantando polêmicas. Basta perguntar via Twitter com a hashtag #CossenzaResponde.

Pra começar a responder qualquer coisa sobre "Big Four", é preciso lembrar o conceito. Big Four nunca significou que existem quatro tenistas no mesmo nível nem quis dizer que eram os quatro melhores do ranking em um determinado dia. A expressão começou a ser usada para o quarteto Federer, Nadal, Djokovic e Murray porque durante um bom tempo (vejam os finalistas de slam de 2008 a 2013, por exemplo) os quatro dominaram o circuito, vencendo slams e Masters 1.000. Por isso, eu sempre repito que nunca fez sentido encaixar Stan Wawrinka como membro de um novo Big Four ou até mesmo de um suposto Big Five. Só para exemplificar: quando Wawrinka fez sua primeira final de Slam (Australian Open/2014), Murray já tinha no currículo cinco finais de slam (um título) e uma medalha de ouro olímpica em simples.

Comparar os quatro é duro. Federer teve um auge antes dos outros três, mas foi derrubado do topo por Nadal, que foi melhor do que os outros três em 2008, 2010, 2013 e poderia ter reinado por mais tempo não fossem as lesões de 2008, 2009 e 2012. Murray ganhou muito menos do que s outros, mas Djokovic teve um ápice impressionante. Nos seus melhores momentos, foi superior ao excelente Nadal de 2011 e ao fantástico Federer de 2014 e 2015. Acho até que a versão 2017 do suíço não é tão melhor assim do que a dessas duas temporadas. A diferença é que agora ele não encontra "aquele" Djokovic pela frente. Não que a "volta" de Federer deva ser menosprezada por isso, mas se é para fazer a comparação mais justa, é preciso analisar o melhor momento de cada um.

Uma resposta para duas perguntas. A princípio, parece difícil associar Bellucci ao circuito de duplas, afinal o paulista não tem um grande voleio. Maaaas ao longo da carreira Bellucci obteve resultados muito dignos na modalidade. Fez quartas em um slam (Australian Open/2013), somou duas finais de ATP (ganhou Stuttgart/2013) e fez duas belas apresentações em Jogos Olímpicos ao lado de André Sá. Em Londres, tiraram set dos irmãos Bryan. No Rio, eliminaram os irmãos Murray. Existe um potencial a ser trabalhado se Bellucci realmente quiser ingressar por esse caminho. Com seu problema crônico de desidratação, pode ser uma maneira interessante de alongar a carreira se ele tiver esse desejo, e ninguém melhor para guiá-lo do que André Sá.

Quanto ao futuro em simples, não sei se há um "cara certo" (como escreve o Johnny Garbin). Uma das críticas que se pode fazer sobre Bellucci é que o trabalho com João Zwetsch estagnou muito por culpa do atleta. Sim, Zwetsch sempre soube tirar bons resultados de Bellucci, mas nunca conseguiu fazer o ex-top 25 incorporar armas a seu tênis. O quanto isso é responsabilidade de um ou de outro, não dá para dizer estando fora do grupo de trabalho deles. O que se pode dizer com certeza é que Bellucci nunca se mostrou confortável com técnicos que quiseram mudar seu tênis. Nem com Larri nem com Orsanic nem com Clavet (este último decidiu que não queria mais treinar o brasileiro). A escolha por um segundo período com Zwetsch, então, pareceu a mais cômoda e não a mais ambiciosa.

Com André Sá, Bellucci optou alguém próximo em vez de um profissional com mais experiência no cargo e que pudesse chegar cobrando mudanças. Novamente, não parece o mais ambicioso dos caminhos quando o ânimo (ou "motivação", "desejo", "ambição" – tanto faz o substantivo), nesse momento da bela carreira de um atleta que se aproxima dos 30 anos, precisa vir do próprio atleta.

Para começar, Lázaro, eu acho que o calendário de Federer em 2017 passa longe de ser "minúsculo". Seu começo de ano foi o "padrão", com um evento antes do Australian Open, emendando com Dubai, Indian Wells e Miami. Sim, ele tirou o saibro, que equivale a quatro semanas (dois Masters e Roland Garros) a menos do que seria seu calendário mais comum nos últimos anos. Fora isso, é bem provável que Federer faça um segundo semestre como quase sempre (jogando quase tudo menos um dos Masters de quadra dura pré-US Open).

Maaaas fica bastante claro para quem acompanha o circuito que o calendário é puxado para quem joga acima de 20 semanas e vence com a frequência de gente como Federer, Nadal, Djokovic e Murray. O sérvio está sentindo agora o desgaste físico e mental de uma sequência enorme jogando e ganhando de forma absurda. O britânico, que fez um segundo semestre gigante em 2016, deixa a desejar agora e também lida com lesões. Logo, os melhores resultados ficaram com Federer, que ficou seis meses fora, e Nadal, que também teve uma temporada mais curta no ano passado.

Vai ser interessante ver que "mensagem" esse incrível 2017 de Federer e Nadal vai mandar para o resto do circuito. Será que gente como Murray e Djokovic vai optar por tirar seis meses de férias para a cabeça e o corpo? Difícil dizer. Sobre o resto do grupo acima dos 30, é difícil generalizar porque são atletas com resultados muito menos estáveis. Depende muito mais de com que frequência um tenista vai vencer e, consequentemente, ficar em quadra. De qualquer modo, a tendência parece ser no sentido de quem ganhar mais vai precisar (e poder!) descansar mais.

Eu gosto muito do trio Kyrgios-Zverev-Thiem, só para citar os que já são "realidade" (os três estão no top 20 enquanto escrevo esta resposta) na chamada #NextGen. Há uma mistura sensacional de talento e personalidades contrastantes entre eles. Para quem gosta de estereótipos, é um prato cheio: Kyrgios é o falastrão, Zverev é o bom moço, e Thiem é o fechadão misterioso. A ATP pode brincar o quanto quiser de "The Good, The Bad and The Ugly" com eles para "vender" o tênis pelos próximos dez anos (se Kyrgios não se aposentar antes disso, claro).

Primeiro, às prioridades: temos um vencedor! Filipe Ribeiro é o primeiro ganhador do "Minha Pergunta Preferida" do #CossenzaResponde. Imagine-se, Filipe, levantando uma estatuetazinha esculpida em Oreo de um jornalista de formas arredondadas.

Agora, à resposta: não é segredo nenhum que me incomoda a aplicação da regra dos 20 (em torneios ITF e WTA) e 25 (ATP) segundos entre os pontos. Os árbitros não seguem um padrão, nem sempre mostram bom senso, e o resultado é uma série de advertências aplicadas em momentos inoportunos, o que só gera confusão com os tenistas. Logo, essa seria a minha regra a ser modificada.

Como mudar? "Minha" regra teve ajuda de Bruno Soares, com quem conversei sobre esse assunto um tempo atrás. Sob meu poder supremo, tenistas teriam 30 segundos rígidos entre os pontos. Sem direito nem a "bom senso" dos árbitros em caso de longos ralis, maaaas com uma opção estilo Hawk-Eye. Cada jogador pode pedir uma prorrogação de 30 segundos três vezes por set (apenas em seu saque). Assim, o atleta decide quando vai querer mais tempo entre os pontos, seja para recuperar o fôlego ou simplesmente para quebrar o ritmo do adversário.

Considerando que nem Rio de Janeiro nem Hamburgo – os ATPs 500 dessas respectivas giras – quer continuar no saibro, a coisa é complicada e dá para fazer essa sua comparação, sim. Este ano, o evento alemão não conseguiu um top 20 sequer. O cabeça 1 é Albert Ramos Viñolas, que é o sonho de diretor nenhum. A lista dos oito seeds ainda tem Cuevas, Khachanov, Simon, Paire, Schwartzman, Verdasco e Ferrer. Não é o pior dos torneios e, tirando Nishikori e Cuevas, é tão atraente quando o torneio carioca, que teve Lorenzi e Sousa entre os oito cabeças.

Os motivos é que são diferentes. O Rio tem um problema adicional, que é o geográfico. Muitos europeus preferem ficar em seus continentes, jogando indoor, viajando pouco e atuando em temperaturas adequadas para seres humanos. Hamburgo não sofre o dilema do deslocamento, mas fica numa parte do calendário em que a elite precisa (mesmo!) descansar após uma sequência com três Masters, dois 500 e dois slams.

Até o fim do ano, a ATP decidirá o que fazer com o calendário de 2019 (é a partir desse ano que será possível fazer todo tipo de mudança). Nos bastidores, comenta-se que a mudança de piso pode não resolver o problema de nenhum dos dos torneios. É esperar para ver o que acontece…

Eu nunca escondi que não gosto de comparar gerações diferentes, e Federer e Nadal estão jogando em altíssimo nível há tanto tempo que o mesmo vale para esses jogos. Concordo que não vi no Australian Open de 2017 o mesmo nível de tênis das três outras partidas que você cita, mas também não sei dizer se é justo fazer essa comparação. Talvez seja pura preferência pessoal. Eu acho que o Federer de hoje é mais tenista do que aquele de oito, nove, dez anos atrás. Não penso o mesmo de Nadal em quadras duras (embora ele tenha feito uma sequência estupenda no saibro).

Não sei se é justo, viu? São momentos diferentes. A temporada 2016 foi o ano do salto; 2017 é um ano de se habituar a conviver e jogar nesse nível mais alto. Obviamente, Monteiro sentiu a diferença. Os adversários passaram a observá-lo mais. Logo, alguns buracos em seu tênis ficaram mais óbvios. Não é que eles não existiam em 2016. A frequência de jogos mais duros este ano é que os trouxe à luz de forma mais frequente.

O bom é que em todas entrevistas Monteiro se mostra consciente de quanto precisa melhorar. No saque, nas devoluções, nas variações de jogo. São adições que não acontecem da noite para o dia. Resta saber quais delas o cearense vai conseguir trabalhar na próxima pré-temporada e como ele vai encarar 2018.

A crise econômica do país tem um peso grande nisso, especialmente nos Challengers, onde os custos aumentaram desde a alta do dólar, alguns anos atrás. Os Futures também foram afetados por isso. Também pesou o fato de a CBT parar de dar a pequena ajuda financeira que já deu. E nem é uma decisão condenável da entidade, viu? Alguns anos atrás o Brasil tinha muitos Futures, mas pouquíssimos com bom nível de tênis. Isso gerou pontos no ranking para vários tenistas do país que não tinham nível técnico para sobreviver nos Challengers (o que ficou bastante óbvio na época). Era brasileiro ganhando de brasileiro – quando não vinham tenistas de países vizinhos e "roubavam" os pontos distribuídos aqui.

O torneio da Costa do Sauípe é o Brasil Open, que existe até hoje. Ele foi levado por sua promotora, a Koch Tavares, para São Paulo em 2012. Foi realizado no ginásio do Ibirapuera por quatro anos. Em 2016 e 2017, a sede foi o Esporte Clube Pinheiros, também na capital paulista.

Até onde eu sei, zero. Aquela data hoje está com Budapeste, que fez o torneio em 2017 na mesma data do Rio Open, que hoje é "apenas" um ATP 500. Sempre foi uma tarefa ingrata trazer bons nomes para a América do Sul na mesma época dos WTAs de Doha e Dubai – o Rio, que pagava US$ 250 mil em prêmios, era na mesma semana de Dubai, com premiação de US$ 2,6 milhões.

Coisas que eu acho que acho:

– Foi um grande equívoco da minha parte usar a hashtag #PeR para este post. Logo vi que as perguntas se misturaram a todos tuítes sobre alguma seleção do Peru (rs). Por isso, daqui em diante, tocarei a nova seção com o nome de "Cossenza Responde" e com a hashtag #CossenzaResponde.

– A ideia é fazer uma seção mensal, mas nada impede que eu publique algo fora do período (quinzenal talvez) em caso de perguntas legais ou assuntos "quentes".

– Quem quiser fazer sua pergunta, tirar uma dúvida ou levantar uma polêmica, basta ir até o Twitter e postar a pergunta acompanhada da hashtag #CossenzaResponde.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.