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Bala na Cesta

Fala, Leitor: Vão-se os anéis, ficam os dedos, por Rodolfo Neves

Fábio Balassiano

15/06/2017 14h00

* Rodolfo Neves

Aos amantes do basquete, a questão é quase obrigatória: quem foi o melhor jogador da história da NBA?

Uma pergunta, inúmeras respostas. Mas, quase sempre, as respostas variam ao redor de um par de jogadores para cada época. Quando comecei a acompanhar a liga, nos anos 1980, a disputa pelo trono era entre Magic Johnson e Larry Bird. Eu, como fã dos Lakers, nunca titubeei. Magic e seu número 32 púrpuro eram uma verdade incontestável. Contudo, o tempo passou e a forma com a qual eu via basquete também mudou. Hoje, com quatro décadas nas costas, sei que não haveria Magic sem Bird e vice-versa. A rivalidade era a essência dos dois mitos. O amarelo e o verde não eram antagônicos. Eram as cores complementares do showtime!

Isso começaria a mudar em 1984. Nesse ano, um certo Michael Jeffrey Jordan mudaria o jogo. Jordan não teve uma rivalidade específica com um jogador. Jordan foi rival de uma liga! Ele era o homem a ser batido, o nome a ser perseguido, o jogador a ser parado. De 1984 a 1991, MJ mostrou que o jogo poderia ser diferente. Mais físico, mais rápido, mais técnico e mais… aéreo. Porém, foi só a partir de 1991 que Jordan começou a escrever o seu nome com quatro letras: GOAT (maior jogador de todos os tempos). Desde 1989, com a chegada de Phil Jackson no Chicago Bulls, a filosofia dos triângulos começou a mudar a forma de jogo do Chicago e de Jordan.

O resultado final dessa combinação foi a conquista dos dois tricampeonatos (1991-1993 e 1996-1998). Sem Jordan, o Chicago não ganhou mais nada. Contudo, teria Jordan vencido os seis títulos sem Phil Jackson, Scottie Pippen, John Paxson, Tony Kukoc e Denis Rodman? Provavelmente não. Talvez dois ou três títulos, sem dúvida. Um jogador que tem em sua história o famoso "jogo da gripe" não passaria à aposentadoria sem um par de anéis. Mas penso que dificilmente o tricampeonato seria uma realidade. Sem Jordan, o Bulls seria apenas mais uma franquia da Liga. Sem o Bulls da década de 1990, Jordan seria "apenas" um jogador excepcional (o que, convenhamos, não é raridade numa liga com nomes como Patrick Ewing, John Stockton, Karl Malone e Allen Iverson, jogadores fenomenais que nunca ganharam um título muito por culpa do binômio Bulls-Jordan).

Em 1984, enquanto Jordan estreava na Liga, nascia LeBron James. Mais uma dessas coincidências que só viram fato pelo acaso. Em 2003, LeBron chegava à NBA, mesmo ano da aposentadoria de MJ (ah, essas coincidências…). Jogando pelo Cleveland, nada feito. Sem títulos, a estrada que o levaria ao primeiro anel passava por Miami. E, em Miami, LeBron encontrou seu Pippen e seu Rodman: Dwyane Wade e Chris Bosh. Além disso, por trás das decisões técnicas de Erik Spoelstra, um certo Pat Riley conversava com LeBron e mostrava a ele o melhor caminho para o tão sonhado anel. O back-to-back (2011-12 e 2012-13) foi a prova de que LeBron era a nova realidade da Liga.

Em 2014, LeBron volta a Cleveland, mas em outro patamar. O time, obviamente, era dele. E, mais uma vez, King James fez por merecer sua majestade: mudou a forma de jogar e conseguiu algo até então inimaginável para a liga: virar uma série final que estava 3-1 contra a melhor equipe da temporada regular. O título da temporada 2015-2016 foi a consagração de LeBron como o melhor jogador atual da Liga. Seus números, o título e sua nova forma de jogar após os anos em Miami não deixam dúvidas, ao menos para mim: LeBron é o novo Rei.

Mas a história é impiedosa com os reis. Um Rei não existe sem seus súditos. Estes, LeBron tem aos milhões. Mas, mais do que súditos, um Rei precisa de escudeiros. Infelizmente, o atual time do Cavs não tem apresentado um elenco equilibrado. Kyrie Irving, Kevin Love e Tristan Thompson são ótimos… no papel. Mas, para um time sair do papel e ir para as quadras como campeão, não bastam jogadores. Sem cérebro, um time pode ser galáctico (como o Real Madri de Zidane e Ronaldo) e simplesmente perder. Convenhamos, quem é o cérebro do Cavs? King James. Tyronn Lue é um cara legal. E só.

Do outro lado da quadra, temos o Golden State de Steve Kerr, Mike Brown, Steve Nash (um dos responsáveis pela impressionante melhora de Kevin Durant) e… Jerry West (isso, o homem do logo)! Some-se a isso um time que foi montado a partir de escolhas inteligentíssimas de draft e que trouxe Kevin Durant (mais uma cesta de Jerry West) e um time contra o qual não podemos baixar o ritmo de jogo por quatro minutos, tempo suficiente para uma chuva de bola dos três (ou do meio da quadra, dependendo de como está a vontade de jogar de Curry). Para mim, LeBron é gênio. Mas gênios jogando em times como o atual Cleveland geram mais estatísticas do que títulos. Novamente, lembre-se do que o Bulls da década de 1990 fez com uma geração de jogadores brilhantes como Stockton e Ewing: estatísticas de tirar o chapéu e nenhum anel no dedo.

LeBron é o atual Rei! King James é a majestade. Como Jordan na década de 1990, ninguém consegue rivalizar com ele. Mas um Rei sozinho dificilmente ganha uma guerra. Pode até vencer batalhas, mas guerras, não. E plebeus sempre podem surpreender com uma guilhotina aqui e outra ali. Um rei nunca perde a majestade. Mas pode perder seu trono. E um Rei sem trono é tão útil quanto um dedo sem anel para a NBA.

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