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Fórmula 1

Chorei à toa? "Retorno" de Massa faz fãs lembrarem do adeus em Interlagos

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

17/01/2017 04h00

Felipe Massa se despediu da Fórmula 1 menos de dois meses antes de oficializar sua “volta”. Depois de gerar comoção espontânea em Interlagos, o piloto começa a se preparar para visitar o mesmo autódromo mais uma vez em 2017, de novo pela Williams. E como fica quem chorou em novembro com o primeiro “adeus”?

Foi com esse espírito que parte dos fãs de Fórmula 1 recebeu a notícia do acerto de Massa com a Williams. Com a ida de Valtteri Bottas para a Mercedes, na inesperada vaga aberta por Rosberg, o brasileiro foi chamado pela escuderia inglesa para renovar seu compromisso. O “tchau” sem nunca sair incomodou:

A reação é tão natural que foi lembrada até pela Globo. “Para você que acompanhou toda essa despedida, que se debulhou em lágrimas, puxa o lenço do bolso e enxuga porque tem mais. O cara vai voltar pra Fórmula 1, e pra Williams”, disse a repórter Mariana Becker, no Globo Esporte, ao anunciar a permanência de Felipe ao lado do piloto.

No marketing, essa “volta atrás” pode muitas vezes ser prejudicial. Não foram poucas as comparações entre Massa e grupos musicais que se estendem em várias despedidas. Depois de gerar uma enorme repercussão positiva pela maneira como se despediu da Fórmula 1, o piloto podia sofrer com essa mudança de panorama.

“Essa relação entre o atleta e o público é como uma relação afetiva. Até as palavras usadas, como ‘eu amo’, ‘eu confio’, são as mesmas. As pessoas vão abrindo espaço para aquele atleta aos poucos conforme vão recebendo informações positivas sobre ele. E qualquer relação humana é baseada em confiança. Quando há uma quebra de confiança, há um processo de frustração e as pessoas podem reagir negativamente”, explica Marcos Bedendo, professor de gestão de marcas da pós-graduação da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

O que pesa a favor de Felipe Massa é a maneira como ele conduziu o processo. Desde o anúncio da aposentadoria, o piloto sempre deixou claro que parar não era uma decisão totalmente sua. O brasileiro sabia que não teria espaço na Williams e não estava disposto a se arrastar com um carro pior no fundo do grid. Permanecer foi, acima de tudo, foi uma oportunidade.

“As pessoas demonstraram um respeito muito grande por ele, é lógico que ele tem de pensar nisso. Mas ele decidiu parar porque ali era o melhor para ele. Se agora surgiu um projeto que não existia há 30 dias e é o que vai fazer ele feliz, tem mais é que voltar”, disse Cacá Bueno, piloto e amigo de Massa, que conversou com a reportagem em dezembro, quando o Grande Prêmio noticiou pela primeira vez a permanência do piloto. “Essa transparência pode ajudar. Não foi aquela coisa de que nunca mais quero correr. Ele foi bastante claro”, complementa Marcos Bedendo.

O próprio Felipe Massa, em seu pronunciamento após a confirmação, falou sobre a importância daquele “adeus” em Interlagos na tomada de decisão. “Voltar depois de um encerramento tão incrível [de 2016] não foi nada fácil, mas é lógico que o que gosto de fazer é correr. Eu iria correr em outra categoria. Eu iria parar de correr na Fórmula 1, pois só aceitaria continuar correndo se fosse um caso importante para mim, em uma equipe importante para mim, onde eu iria poder ter um trabalho bacana, para tentar ser competitivo, para tentar evoluir. A Williams sempre foi uma equipe onde eu enxerguei isso”, disse ele.

O problema é que, se não perde tanto por ter sido sincero, Felipe Massa também não poderá repetir o rito de passagem. A cena dele caminhando para os boxes sob aplausos de mecânicos de todas as equipes foi classificada por um Galvão Bueno aos prantos como uma das mais emocionantes da história e dificilmente ocorrerá de novo.

“O legal da despedida é que ela é um evento único. Se ela for acontecer toda hora, perde o sentido. Se fizer de novo, não vai ser igual, perde o impacto”, diz Bedendo.
 

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