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Com apenas 3 anos, Fórmula E atrai poderosas e se coloca no caminho da F-1

Lucas Di Grassi comemora título da Fórmula E - Divulgação/Audi Sport
Lucas Di Grassi comemora título da Fórmula E Imagem: Divulgação/Audi Sport

Brunno Carvalho e Karla Torralba*

Do UOL, em São Paulo

06/08/2017 04h00

A Fórmula E terminou recentemente sua terceira temporada e já começa a pensar em voos mais altos. A partir de 2019, as poderosas Porsche e Mercedes passarão a fazer parte da categoria de carros elétricos. Um passo grande para quem era vista como uma novidade estranha no início – a falta de barulho de motor chegou a ser apontada como um possível problema para atrair fãs.

“É uma categoria que vem crescendo muito e que tem muito a crescer ainda”, analisou Felipe Massa ao UOL Esporte. Desde a rápida aposentadoria ao final de 2016, o brasileiro passou a ser especulado em um possível futuro nos monopostos elétricos. Uma possibilidade que o vice-campeão de Fórmula 1 de 2008 sempre deixa em aberto. “Existe essa possibilidade, mas não sei como será meu futuro para ser sincero. Está muito cedo para falar sobre isso, mas sem dúvida existe essa chance”.

Uma possível ida de Felipe Massa para a Fórmula E não seria a primeira de um piloto da Fórmula 1. A categoria dos elétricos conta com nomes que já tiveram passagem pela ainda principal categoria do automobilismo: Nick Heidfeld, Jean-Éric Vergne, Estaban Gutiérrez, os brasileiros Lucas di Grassi e Nelsinho Piquet, entre outros.

Apesar do aumento da popularidade, a Fórmula E ainda parece estar longe de incomodar a Fórmula 1. Com outras categorias, porém, a evolução da competição de elétricos já é vista com relativo incômodo. A DTM, categoria de carros de turismo, viu a Mercedes largá-la para criar uma equipe na F-E. O mesmo aconteceu com o WEC, de endurance, que perdeu a tradicional Porsche.

"Depois de a Mercedes anunciar que vai sair da DTM, acredito que a categoria vai acabar. Assim como eu vejo, e já via antes, uma LMP1 (uma das classes das 24 horas de Le Mans) com uma dificuldade tremenda e ainda mais agora. Então o futuro da DTM e da LMP1 é bem difícil", prosseguiu Massa.

Nelsinho Piquet, durante etapa da Fórmula E - Charles Coates/Getty Images - Charles Coates/Getty Images
Nelsinho Piquet, primeiro campeão da F-E
Imagem: Charles Coates/Getty Images

Atual campeão, Lucas Di Grassi já vê a Fórmula E como a segunda categoria do automobilismo, atrás da Fórmula 1. Para o brasileiro, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da F-E, a tradição de quase 70 anos da Fórmula 1 pesam na comparação.

"A Fórmula 1 tem uma história muito grande, e a Fórmula E existe há apenas três anos. Acho que se pensar daqui 60 anos, a F-E será a principal categoria do automobilismo. Mas em curto-prazo, já vejo a Fórmula E como a segunda categoria e com tudo para ir se aproximando da F-1".

Campeão da primeira edição da Fórmula E, Nelsinho Piquet tem uma visão semelhante à de Di Grassi. Para o brasileiro, a Fórmula 1 corre o risco de acabar caso não se adapte ao futuro com motores elétricos.

"Acho que já assusta. Tem umas equipes falando, pilotos. Se a única comparação é a F-E é porque é a categoria mais próxima de chegar e poder derrubá-la", afirmou Piquet. "Quando a indústria virar 100% elétrica, e em vários países isso acontecerá em 10 anos, vai ser só Fórmula E e a Fórmula 1, a menos que vire uma Fórmula 1 E. Mas aí teria que mudar os dois formatos para achar um meio-termo (entre F-E e F-1), até pelas duas serem da mesma dona (Liberty)".

Carros "tradicionais" estão com os dias contados pelo mundo

Abastecimento em posto de gasolina - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

Enquanto a discussão sobre a importância dos compostos elétricos no automobilismo engatinha, no dia-a-dia ela já começava a apresentar propostas concretas. O Reino Unido anunciou no final de julho que proibirá a venda de carros movidos a gasolina e a diesel a partir do ano de 2040. A tendência já é seguida por países como Noruega e Índia, que esperam extinguir o motor a combustão até 2025 e 2030, respectivamente.

A decisão britânica aconteceu depois que os tribunais locais obrigaram o governo a cumprir as metas europeias de combate à poluição do ar. Nesta linha, os veículos a bateria são vistos como mais sustentáveis do que os com motor a combustão.

“Em um veículo elétrico, você tem emissão zero de poluente. Porém, se você olhar a cadeia como um todo, desde a geração de energia elétrica até a disponibilização dessa energia ao veículo, ele não é 100% limpo como às vezes é vendido”, pondera Fábio Delatore, professor de Engenharia Elétrica da FEI e coordenador do projeto “Fórmula Elétrico”, competição de carros movidos a bateria da faculdade.

Preço ainda é problema

Model S, da Tesla, será vendido no Brasil a partir de R$ 720 mil - Divulgação/Tesla - Divulgação/Tesla
Model S, da Tesla, será vendido no Brasil a partir de R$ 720 mil
Imagem: Divulgação/Tesla

O fim dos carros movidos a combustível fóssil ainda esbarra em um problema: o preço. Diante disso, Estados Unidos e Europa esperam que até 2030 os valores de um veículo elétrico sejam reduzidos em até 77%, de acordo com uma pesquisa feita pela Bloomberg New Energy Finance.

No Brasil, as medidas para incentivar a produção de carros elétricos ainda são discutidas. Desde 2015, ao menos, não há imposto para importação de veículos movidos a bateria. Ainda no Governo Dilma, a alíquota de 35% deixou de ser cobrada para a entrada de automóveis elétricos no Brasil.

“Você ainda vê pouco incentivo ou subsídio do Governo Federal e Estadual no Brasil para a produção de carros elétricos. Você vê um aumento de vendas de carros elétricos na Europa em detrimento aos de combustão Aqui no Brasil ainda estão definindo qual será a tributação”, explica Fábio Delatore.

O Governo Federal ainda discute uma redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que incide sobre veículos elétricos. Atualmente em 25%, a taxa poderia ser reduzida a 7,5%, o mesmo cobrado sobre veículos flex.

“Queremos pelo menos igualar aos 7,5%. Alguns defendem até que seja menos que isso”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, em junho deste ano.

*Colaborou Julianne Cerasoli

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