Sem espionagem, F-1 vê história do campeonato de 10 anos atrás se repetindo
Duas equipes, três pilotos na briga. E muitas reviravoltas. O campeonato de 2017 não tem o mesmo clima de intriga do ano que ficou marcado pelo escândalo de espionagem, com direito a Fernando Alonso delatando a própria equipe, mas se desenha de uma maneira que pode ser tortuosa para a Mercedes.
Em 2007, os personagens eram o bicampeão Alonso e o companheiro novato Lewis Hamilton na McLaren, contra Kimi Raikkonen, na Ferrari. Na melhor campanha já feita por um novato, Hamilton liderou boa parte do campeonato, chegando a abrir o equivalente na pontuação atual 30 pontos em relação ao companheiro após nove etapas. Alonso, porém, cresceu na segunda parte do ano, assim como a tensão interna na McLaren, permitindo uma virada histórica de Raikkonen.
O finlandês chegou à penúltima prova com uma desvantagem que seria equivalente hoje a 41 pontos para Hamilton, que seguia na liderança (naquela época a vitória dava 10 pontos, hoje são 25). Envolto na briga interna na McLaren e cometendo erros nas últimas duas provas, o inglês permitiu a virada e perdeu por um ponto na decisão no Brasil.
Em 2017, há ingredientes parecidos. A Ferrari está na frente com Vettel, que tem 14 pontos de vantagem após 11 etapas, enquanto os pilotos da Mercedes vêm tirando pontos um do outro. E seus próprios papeis também são semelhantes: Hamilton tenta o terceiro título pelo time alemão, enquanto Valtteri Bottas surge como o elemento surpresa em sua temporada de estreia por uma equipe grande.
O finlandês está relativamente longe de Vettel, a 33 pontos, mas vem crescendo e é o piloto que mais pontuou nas últimas cinco provas. Com isso, a opção da Mercedes é dar chances iguais a seus pilotos. E, segundo Toto Wolff, será assim até o final, mesmo que custe o título. “Nós seguiremos nossos valores esportivos”, garantiu o chefe do time.
Para Felipe Massa, contudo, chegará um momento em que a Mercedes terá de mudar sua postura. “A Ferrari tem uma grande chance de vencer o campeonato e eles vão tentar de tudo para ganhar, especialmente depois de tantos anos [o título de 2007 foi o último mundial de pilotos conquistado pelo time]. E daí a Mercedes vai ter que fazer o mesmo”, opinou ao UOL Esporte.
O quarto integrante
Em 2007, nas provas finais do campeonato, a disputa ficou restrita a Raikkonen, Alonso e Hamilton, mas Massa, então na Ferrari, passou boa parte da temporada entre os primeiros. Isso, até uma quebra em um momento crucial o tirou da disputa, como lembrou ao UOL Esporte seu então engenheiro, Rob Smedley.
“Todo mundo lembra de 2008 mas o campeonato que era para o Felipe ter ganho foi o de 2007”, disse em entrevista exclusiva. “Ele pilotou maravilhosamente bem naquele ano e, se não fosse aquela quebra em Monza, era para ele estar na posição em que Kimi estava no final.”
O engenheiro se refere aos pontos perdidos no GP da Itália, a cinco provas do final, quando uma falha de motor o tirou da corrida. Àquela altura, Massa estava na frente de Raikkonen e era terceiro no campeonato, praticamente empatado com o segundo, Alonso. Mas a Ferrari decidira antes da prova que o piloto que estivesse na frente após Monza ganharia a prioridade, e coube ao brasileiro ajudar Raikkonen até o final, inclusive cedendo uma vitória no GP do Brasil.
Neste ano, é difícil imaginar que Raikkonen, hoje segundo piloto na Ferrari, esteja na mesma posição de entrar na briga, uma vez que já tem 76 pontos de desvantagem para o companheiro Vettel. A briga nas nove provas restantes em 2017, portanto, deve ser como naqueles últimos GPs de 10 anos atrás.
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