Falta de base forte deixa Brasil sem piloto na F-1 por 1ª vez desde anos 60
O que parecia ser uma questão de tempo se tornou realidade com o anúncio de Felipe Massa de que estará fazendo suas duas últimas corridas na F-1 neste final de semana, no Brasil, e no encerramento da temporada, em Abu Dhabi: pela primeira vez desde 1969, o Brasil não terá um representante na categoria em 2018. Os motivos para isso são vários, e passam por desde a falta de incentivo das categorias de formação no país à mudança do próprio cenário internacional.
A carreira do próprio Massa é um exemplo: o piloto fez toda sua carreira como kartista e começou em carros de fórmula ainda no Brasil, sendo campeão da F-Chevrolet, que tinha um nível forte na época. Tanto, que Massa, aos 19 anos, foi para a Europa e rapidamente começou a conquistar títulos - na F-Renault Italiana e Europeia logo em seu primeiro ano e na Euro 3000 no segundo.
E ele estava longe de estar sozinho. Na época em que Massa corria nas categorias menores na Europa, o número de brasileiros era bem maior do que hoje. Nomes como Pizzonia, da Matta, Bernoldi, Burti e Zonta surgiram paralelamente ao atual piloto da Williams. E todos chegaram à F-1.
Pelo menos nos últimos 10 anos, o nível da base no Brasil caiu, e o próprio Massa criticou por várias vezes a inoperância da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo).
“Acho que o problema é a federação, que nunca fez nada pelos pilotos. Não temos categorias de base e isso é algo que está acontecendo há muito tempo. Então, o dia em que o Brasil não teria mais representantes na F-1 chegaria mais cedo ou mais tarde”, defendeu o piloto.
De fato, o piloto teoricamente mais próximo da F-1 seria Sergio Sette Camara, que evoluiu ao longo de sua primeira temporada de F-2, obtendo inclusive uma vitória, no GP da Bélgica, mas fará pelo menos mais um ano na categoria antes de tentar uma promoção.
Geração de adolescentes
Lutar contra a “geração Verstappen”, que já sai muito bem preparada do kart e consegue pular etapas nas categorias de fórmula e chegar mais rapidamente na F-1, diminuindo a idade dos estreantes na categoria - hoje dificilmente um piloto começa a carreira com mais de 22 anos - também prejudicou os brasileiros.
Afinal, sem categorias fortes no Brasil, eles são obrigados a saírem muito cedo do país, o que gera custos altos, geralmente pagos pelas próprias famílias, o que limita o número de pilotos que tem essa oportunidade.
"O grande choque é a preparação que os europeus têm desde muito cedo, o que nós não temos no momento. É aí que nós fomos pegos de surpresa porque antes tínhamos uma base muito boa para nossos pilotos e era esse nosso diferencial. Nós chegávamos na Europa com uma bagagem muito além do que os europeus tinham", disse o ex-piloto e dono de equipe Amir Nasr, tio e mentor de Felipe Nasr.
Vendo essa nova realidade, alguns brasileiros já estão saindo do país mais cedo, como é o caso dos kartistas Caio Collet, de 16 anos e que há três corre internacionalmente, e Gianluca Petecof, que faz 15 anos neste mês e passou a competir na Europa neste ano. Ambos, contudo, ainda teriam um longo caminho até a F-1.
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