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Nova F-1 tem menos regalias para a Ferrari, mais barulho e limite de gastos

Chefe da Ferrari, Maurizio Arrivabene, conversa com Ross Brawn na China - Clive Mason/Getty Images
Chefe da Ferrari, Maurizio Arrivabene, conversa com Ross Brawn na China Imagem: Clive Mason/Getty Images

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Manama (Bahrein)

09/04/2018 04h00

A Liberty Media, empresa americana que assumiu o controle da F-1 ano passado, anunciou às equipes os princípios das mudanças que quer implementar na categoria em 2021. A reação no geral foi positiva, especialmente de equipes menores, com Claire Williams chegando a dizer que a sobrevivência de seu time depende de que tais medidas saiam do papel.

Já os poderosos não gostaram tanto, especialmente Ferrari, Mercedes e Red Bull, que vão arrecadar menos dinheiro dos direitos comerciais e terão de se adequar a um teto de gastos.
Pedidos dos fãs também foram atendidos pela Liberty Media, como o aumento do volume dos motores e carros que deem mais ênfase ao piloto.

Confira as propostas dos donos da F-1 para 2021.

Teto orçamentário e distribuição de renda
A proposta da Liberty é mexer em um dos fatores mais complicados da F-1 atual: a distribuição dos lucros vindos dos direitos de imagem. E a ideia é simplificar um sistema que hoje é repleto de privilégios e causa grande discrepância na quantia de dinheiro destinada às equipes grandes, especialmente a Ferrari.

Mas os privilégios da Scuderia, contudo, não acabaram. O time Ferrari receberá bônus histórico de 50 milhões de dólares, ainda que a quantia represente cerca de metade do que ganha atualmente. E os fabricantes de motores também receberão 10 milhões por ano. Fora isso, a distribuição vai ser proporcional à posição da equipe no campeonato.

Mas o que promete dar o que falar é a proposta de um teto orçamentário, que seria de 150 milhões de dólares. Isso teria um grande impacto nas maiores equipes, cujo orçamento atualmente está na casa dos 300 milhões de dólares.

Mercedes, Ferrari, Red Bull e Renault teriam de diminuir consideravelmente seu número de funcionários, enquanto a McLaren já está operando perto do que seria o teto. Já as demais equipes não seriam impactadas nesse sentido. Por conta disso, as grandes devem pressionar a Liberty para que a inclusão de peças que entram dentro deste teto seja paulatina a fim de que eles tenham tempo de se adaptar.

Fim do veto da Ferrari
As decisões serão tomadas com maioria simples e, no caso de temas muito polêmicos, será necessário a aprovação de 75% dos times. Isso acaba com o Grupo de Estratégia, que vinha sendo central na tomada de decisões mesmo sendo composto apenas por seis equipes, e também é o fim do poder de veto que a Ferrari tinha desde os anos 1980.

O presidente ferrarista, Sergio Marchionne, que vinha sendo bastante duro em relação às tentativas da Liberty de acabar com as vantagens dos italianos, ainda não se pronunciou sobre o assunto. Ele não foi ao Bahrein para participar da reunião.

Motores mais barulhentos
Haverá menos punições, mas a manutenção da tecnologia híbrida, ainda que simplificada. Uma das mudanças já acertadas para 2021 é a adoção de um novo motor, cujo formato ainda não está 100% definido, mas basicamente mantém o MGU-K, que aproveita energia cinética, e elimina o complicado MGU-H, de energia calorífica. Motores serão mais barulhentos e terão peças padronizadas (bateria e turbo), diminuindo seu custo.
Isso deve atrair novas fornecedoras para a F-1. Logo após o anúncio das mudanças, o chefe da Aston Martin, que está na categoria como patrocinadora máster da Red Bull, se manifestou positivamente.

Isso talvez explique o silêncio da Red Bull. O time vai perder seu bônus de valor histórico e não pode se beneficiar da quantia dada aos fornecedores, pois é cliente da Renault. Porém, cogita-se que a equipe seja vendida para a Aston Martin ou se torne a equipe de fábrica da Honda em um futuro próximo, mudando sua situação.

Mais ultrapassagens
O anúncio da Liberty também focou nas diretrizes para os novos carros. Houve a tentativa de chegar a um acordo para mudar as regras já para o ano que vem, mas as equipes não chegaram a um consenso. A proposta da Liberty é basicamente voltar a focar no aumento das ultrapassagens, depois da mudança de 2017 ter priorizado aumentar a velocidade dos carros por meio do aumento da pressão aerodinâmica, algo que teve efeito negativo nas disputas na pista.

A Liberty também apontou que a habilidade do piloto tem de ser mais testada no novo regulamento, ainda que o desafio de engenharia também seja importante.

A implantação de todas essas mudanças ainda depende de aprovação das equipes e negociações vão acontecer nos próximos meses para acertar os detalhes, mas o fato da maioria das propostas terem sido bem recebidas dá a impressão de que elas têm tudo para sair do papel.

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