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Saída de chefão linha dura da Fiat é boa notícia para Ferrari na F-1

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Ferrari elétrica não é prioridade, afirma Sergio Marchionne

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Hockenheim (ALE)

22/07/2018 06h25

Uma troca no controle da empresa em meio a um campeonato disputadíssimo nas pistas não parece ser a melhor das realidades, mas a Scuderia Ferrari tem tudo para sair ganhando com a saída prematura do presidente do Grupo Fiat, ao qual ela pertence. A companhia anunciou neste sábado o afastamento do presidente Sergio Marchionne, por problemas de saúde.

O ítalo-canadense, conhecido pela linha dura, será substituído por dois nomes: o novo CEO do grupo Fiat Chrysler será Mike Manley, que já estava no grupo no comando da Jeep, e o CEO da Ferrari será Louis Camilleri, ligado à Philip Morris, a exemplo do chefe da equipe de F-1, Maurizio Arrivabene.

A saúde de Marchionne se deteriorou rapidamente nos últimos dois meses por conta de um câncer de pulmão. Como seu contrato ia até abril do ano que vem, ele não retornará ao cargo e a confirmação de Camilleri depende apenas de ratificação dos acionistas, o que deve acontecer nos próximos dias.

Marchionne assumiu a presidência do grupo em 2014 e, embora tenha sido extremamente importante para a recuperação financeira da Fiat, exercia forte pressão dentro da equipe Ferrari na Fórmula 1, mesmo não tendo qualquer experiência no esporte.

Espião e demissões

Na era Marchionne, duras reuniões nas segundas-feiras depois dos GPs se tornaram regra, e até mesmo Arrivabene não era ouvido, mesmo tendo sido indicado por ele.

O estilo de Marchionne era se livrar rapidamente de nomes que ele considerava ineficientes, o que causou uma série de demissões. Antes mesmo dele assumir a presidência da Fiat, teve envolvimento direto nas saídas dos chefes da Scuderia Stefano Domenicali e Marco Mattiacci. Além disso, foi o responsável pela substituição do diretor técnico James Allison e do chefe de motores, Lorenzo Sassi, ambos contratados pela Mercedes.
Sassi, inclusive, acabou se tornando o centro de uma polêmica neste ano, ao fornecer aos rivais da Ferrari dados importantes sobre a construção do motor, que permitiu à Mercedes questionar a legalidade do equipamento dos italianos.

Ameaça de deixar a F-1

Outra influência negativa de Marchionne, que teria inclusive um homem de confiança dentro do time servindo de espião para descobrir se o presidente era questionado internamente, era nas negociações com a Liberty Media, grupo que comprou a Fórmula 1 no final de 2016.

Por inúmeras vezes, Marchionne ameaçou tirar a Ferrari da Fórmula 1 caso os benefícios do time não fossem mantidos. Enquanto a Liberty tenta implementar um esquema de distribuição de renda mais igualitário, o presidente da Fiat defendia que a Scuderia continuasse como o time que mais recebe dinheiro vindo dos direitos comerciais e mantivesse outras regalias, como o direito de veto a regras.

“Temos tempo até 2020 para encontrar uma solução que beneficie a Ferrari. A ameaça de deixar a F-1 é séria”, disse o ex-presidente no final do ano passado. “Temos que encontrar uma solução que seja boa para o esporte, mas também temos de deixar claro o que não vamos ceder.”

Não se sabe qual será o nível de influência ou o estilo de comando do novo CEO da Ferrari. Mas, pelo menos para o chefe Arrivabene, a chegada de Camilleri deve ser um alívio, uma vez que Maurizio também fez sua carreira na Philip Morris, parceira histórica da equipe ferrarista.

Outra dúvida que fica é em relação à escolha do companheiro de Sebastian Vettel para a próxima temporada. Marchionne exercia forte pressão para a contratação de Charles Leclerc para o lugar de Kimi Raikkonen.

A mudança no comando da companhia acontece exatamente na metade de um campeonato de altos e baixos tanto para a Ferrari, quanto para a Mercedes. Porém, no momento, a vantagem é dos italianos: Vettel tem oito pontos de vantagem para Lewis Hamilton no campeonato de pilotos e a Ferrari também lidera entre os construtores.

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