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Fórmula 1

Alonso foi o piloto mais respeitado de sua geração. E o mais controverso

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Londres (ING)

14/08/2018 18h00

Os números vão dizer que Fernando Alonso conquistou dois títulos mundiais, venceu 32 corridas e fez 22 poles positions em mais de 300 GPs disputados na Fórmula 1, pouco em comparação com outros grandes de sua geração, como Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, que lutam para ver quem será pentacampeão primeiro nesta temporada.

Hamilton e Alonso em 2007 - Reuters - Reuters
Alonso teve relação conturbada com o companheiro Hamilton em 2007
Imagem: Reuters
A biografia, por sua vez, sempre vai lembrar que o espanhol entregou dados comprometedores de sua própria equipe à federação em 2007, a fim de pressionar o então chefe Ron Dennis a lhe dar tratamento preferencial na briga interna com o estreante Hamilton, na McLaren. E, no ano seguinte, na Renault, venceu uma corrida (GP de Singapura) cujo resultado foi tramado por sua equipe.

Os companheiros reconhecerão seu talento, mas sempre com o adendo de que a maneira como Alonso queria era que toda a equipe trabalhasse em função dele, muitas vezes de forma contraproducente. E há quem diga que os tais números “tímidos” são o puro reflexo disso, juntamente de decisões erradas na carreira.

Mas, independentemente de todos os questionamentos, há uma constante que se manteve pelo menos desde que Fernando Alonso conquistou seu primeiro título mundial, aos 25 anos, em 2005: ele sempre foi considerado o piloto mais completo do grid.

Ele mesmo disse várias vezes: "Não sou o melhor em classificação, não sou quem melhor ultrapassa, não sou o melhor na chuva. Mas sou 9 ou 9,5 em tudo". Com o anúncio de que não vai disputar a temporada de 2019 da Fórmula 1 - mas evitando usar a palavra aposentadoria, deixando aberta a possibilidade de voltar - Alonso vai em busca de somar outras habilidades em categorias diferentes e se firmar não apenas como um grande da Fórmula 1, como também um gigante do automobilismo.

Obrigação de vencer

E pensar que a carreira de Alonso poderia sequer ter acontecido quando, na adolescência, seu pai, um engenheiro de minas terrestres, lhe disse que o dinheiro havia acabado, mesmo com o então kartista trabalhando como mecânico dos meninos mais jovens para ajudar o pai. Até que Josep Marcó, um preparador de karts, sentiu falta daquele garoto que ganhava tudo na Espanha e foi procurá-lo. Disse-lhe que, se ele ganhasse a corrida daquele fim de semana, o levaria para a Itália, onde o kartismo é muito mais forte. E assim foi a carreira de Alonso a partir dali: ganhando uma corrida para poder participar da próxima, até se tornar campeão mundial de kart.

Com o apoio de empresas espanholas, o piloto de um país na época sem tradição no esporte estreou pela nanica Minardi, em 2001. No ano seguinte, amargou uma temporada como piloto de testes da Renault, mas assumiu o posto de titular em 2003, ainda nos anos de domínio de Schumacher e da Ferrari. Quando o time italiano caiu de produção, era ele, então o vencedor e pole mais jovem da história, quem estava pronto para assumir o reinado.

Alonso 2005 - Mark Thompson/Getty Images - Mark Thompson/Getty Images
Alonso celebra o primeiro título, conquistado em Interlagos em 2005
Imagem: Mark Thompson/Getty Images
O primeiro título veio em cima de Kimi Raikkonen, com uma McLaren rápida, mas pouco confiável. O segundo teve o gosto especial de derrotar ninguém menos que o próprio Schumacher. E tudo parecia caminhar para uma enxurrada de títulos nos anos seguintes.

Mas veio o caso de espionagem da McLaren em 2007, a fraude no GP de Singapura de 2008 e aquele Alonso que foi obrigado a fazer de tudo para vencer e salvar sua carreira na adolescência voltou a aparecer. Mesmo assim, com seu talento inquestionável e resultados falando por si, foi contratado pela Ferrari.

Cinco anos, três vices

Em Maranello, chegou muito perto do título em duas oportunidades nos três primeiros anos, mesmo sem ter o melhor carro, e seria vice ainda uma terceira vez, em 2013. As decepções constantes e a queda ferrarista quando o regulamento de 2014 foi introduzido azedaram a relação entre Alonso e os italianos, que contrataram Sebastian Vettel para seu lugar ao final daquele ano.

alonso interlagos meme - Reprodução - Reprodução
Nos últimos anos de McLaren, Alonso várias vezes virou meme devido a suas reações frente às dificuldades da equipe
Imagem: Reprodução
O bicampeão, então, surpreendeu, e voltou para a McLaren, onde tivera aquele turbulento 2007. Mas o rendimento do time inglês já não era o mesmo e Alonso acabou amargando três temporadas e meia - e nada indica que isso vá mudar até o final do ano - brigando por posições intermediárias e virando o personagem de vários memes e piadas por conta de seus ataques de raiva no rádio. Mesmo assim, seguiu tendo boas performances, como no GP do Brasil do ano passado. E continuou pelo menos no top 3 da lista dos melhores do grid.

Sem Alonso em 2019, a Fórmula 1 ganha um pouco de bom humor, é verdade. Mas perde um piloto estrategista dentro da pista, inteligente, rápido, e que inúmeras vezes transformou situações difíceis em oportunidades. Um nota 9,5 em tudo.

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