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Como brasileiro rejeitado pela F-1 nos anos 90 se tornou chefão da McLaren

Gil de Ferran é chefe da McLaren desde julho deste ano - Charles Coates/Getty Images
Gil de Ferran é chefe da McLaren desde julho deste ano Imagem: Charles Coates/Getty Images

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Londres (ING)

14/08/2018 04h00

Gil de Ferran foi um dos pilotos brasileiros com bons resultados nas categorias de base do automobilismo europeu no final dos anos 1980, mas traçou um caminho completamente diferente de seu contemporâneo Rubens Barrichello. Tão diferente que acabou o levando à chefia da equipe McLaren na F-1.

Mais do que isso, é a segunda vez que De Ferran ocupa um cargo de poder em uma equipe na categoria. A primeira oportunidade foi na BAR-Honda, entre 2005 e 2007, período difícil do time que foi comprado pela Mercedes em 2010 e atualmente coleciona títulos mundiais. Hoje, porém, o brasileiro se sente muito mais bem preparado. "Todas as experiências que eu tive na minha vida vão ser importantes para mim aqui", disse ao UOL Esporte. "Desde as conversas com meu pai, passando pelos anos em que estive na F-1, e depois tocando minha equipe. Eu tenho 50 anos de idade e, desde que parei de correr, vim tendo experiências como gestor e investidor e tudo fez parte da minha formação".

Gil de Ferran é um caso raro de ex-piloto sem passagem pela F-1 que foi "abraçado" pela categoria anos depois, como seu colega de Red Bull, Christian Horner. O brasileiro vinha de uma carreira promissora na Europa, ainda que com poucos recursos, culminando com o título da então prestigiosa F-3 Britânica em 1992.

Gil de Ferran prost - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Gil em seu primeiro teste na F1, ao lado de Alain Prost
Imagem: Arquivo Pessoal
Isso lhe rendeu o primeiro dos dois testes com a Fórmula 1, como prêmio pelo título, e logo pela Williams, que dominava a categoria na época. Mas de Ferran acabou andando no carro de Nigel Mansell, mais baixo do que ele, e, incomodado com a posição do cockpit, não conseguiu impressionar o suficiente para conseguir uma vaga como piloto de testes. Posteriormente, teve outra chance na Footwork, andando ao lado de Jos Verstappen.

Com novos problemas para entrar no cockpit, ele bateu a cabeça e se feriu enquanto esperava que os mecânicos resolvessem o problema. Foi quando resolveu ir aos Estados Unidos ver uma corrida da Fórmula Indy, na época em que Mansell, Emerson Fittipaldi e Mario Andretti disputavam a categoria. E se impressionou com o que viu. Logo, conseguiu um teste por lá e assinou um contrato de três anos. Seria o começo de uma carreira vitoriosa, de 1995 a 2003.

Comandado por aquele que cita como grande influência, Roger Penske, foi campeão da ChampCar em 2000 e 2001 e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis de 2003. Ainda pilotando e chefiando sua própria equipe, foi segundo colocado na LMP1 da Le Mans Series americana. A experiência aconteceu depois dos dois anos em que o brasileiro foi diretor esportivo da BAR-Honda. De volta aos EUA, ele ainda chefiou a De Ferran Dragon Racing, na F-Indy. Com isso, criou um currículo ao mesmo tempo com conhecimento técnico e de gestão de equipes.

Gil de Ferran Indy - Reuters - Reuters
Piloto brasileiro ganhou as 500 Milhas de Indianápolis em 2003
Imagem: Reuters
Conselheiro de Alonso
A relação com a McLaren se estreitou por dois motivos: a longa amizade com o atual CEO da equipe, Zak Brown, com quem Gil correu nos EUA. E seu papel de “coach” de Fernando Alonso quando o espanhol disputou as 500 Milhas de Indianápolis em 2017. Mas De Ferran não quer saber do rótulo de homem-forte de Brown ou protegido de Alonso. “Trabalhamos juntos e isso estreitou nosso relacionamento, e isso foi ótimo. Até porque, sem um bom relacionamento, você não consegue trabalhar com ninguém. Mas quero pensar que eu estou aqui por minha competência. E ponto”, disse.

Após a chegada de Gil, no lugar de Eric Boullier, em julho, a McLaren segue em sua reestruturação, com o anúncio recente do projetista James Key, bem visto no paddock e que estava na Toro Rosso. O time passa por uma das piores fases da história, sem vitórias desde 2012 e atualmente ocupando a sétima colocação no Mundial de Construtores.

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