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Como Ferrari usou tecnologia das ruas para ter o melhor motor da F-1

Sebastian Vettel, da Ferrari, no GP da Alemanha - AFP PHOTO / Christof STACHE
Sebastian Vettel, da Ferrari, no GP da Alemanha Imagem: AFP PHOTO / Christof STACHE

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Londres

20/08/2018 04h00

A evolução dos motores Ferrari tem chamado a atenção desde o início da temporada na Fórmula 1 e já foi alvo de muitas suspeitas dos times rivais, especialmente a Mercedes, que vê seu domínio ameaçado depois de quatro títulos seguidos, todos esses conquistados após a introdução do motor turbo híbrido V6, em 2014.

A suspeita é de que a Ferrari use mais energia híbrida do que o permitido pelo regulamento. A Federação Internacional de Automobilismo, contudo, vem assegurando que o motor é normal, ainda que exista uma dúvida recorrente no mundo da F-1: seria ele legal levando o regulamento ao pé da letra, mas desrespeitando o espírito das regras?

A resposta pode estar em uma tecnologia recentemente patenteada pela Ferrari no Instituto Europeu para carros de rua: um tipo diferente de turbocompressor que ajuda a alimentação das baterias do motor híbrido e cujo funcionamento não é sequer previsto pelo regulamento da F-1.

Assim, o motor italiano recarrega suas baterias mais rapidamente, diminuindo os episódios do chamado de-rating, ou seja, quando apenas o motor de combustão gera energia pois o estoque de energia híbrida está zerado. Isso, é claro, significa perda de potência e acontece principalmente em circuitos com menos zonas de frenagem forte, uma vez que essa é uma das principais formas da unidade de potência usada na F-1 para recuperar energia.

Essa utilização mais eficiente das baterias ficou especialmente claro no GP da Inglaterra, pista em que o de-rating é um problema e no qual a Ferrari venceu, um ano depois de ter sido completamente dominada pela Mercedes. Outra prova da evolução do motor italiano é a performance de suas duas clientes: a Haas, caçula do grid, está em quinto lugar no campeonato e a Sauber, ex-lanterna, hoje é figura constante no top 10.

Normalmente, as montadoras usam uma turbina para comprimir o ar. Na patente da Ferrari, além disso, há a alimentação por meio dos gases do escapamento, algo que está ligado a um gerador de eletricidade que, por sua vez, alimenta a bateria e, depois, a tal turbina elétrica. Por conta desse movimento duplo, a tecnologia ganhou o nome de “baterias gêmeas”. Isso é diferente dos demais motores da F-1 porque uma mesma bateria é funcionalmente dividida em duas (a alimentada pelo MGU-K e pelo MGU-H) e é esse descarga paralela que permite liberar mais energia que os rivais.

Na prática, isso significa que a Ferrari está usando mais energia que o permitido mas, como ela estaria fora do sistema previsto no regulamento, textualmente seria legal.

O time italiano, assim como deve acontecer com a Mercedes, vai introduzir a terceira geração do motor de 2018 na volta das férias da F-1, na Bélgica, dia 26 de agosto, e a expectativa é de que ele seja ainda melhor. Nos bastidores da categoria, comenta-se em 40 cavalos a mais, um ganho excepcional para os padrões do esporte.

Se confirmada a evolução, seria um grande instrumento para Sebastian Vettel reverter o quadro do campeonato, que Lewis Hamilton, da Mercedes, lidera com 24 pontos de vantagem.

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