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Carlos Ghosn foi importante para Renault voltar à F1. Mas nada muda sem ele

Carlos Ghosn em visita a Interlagos durante o GP do Brasil de 2012 - Mark Thompson/Getty Images
Carlos Ghosn em visita a Interlagos durante o GP do Brasil de 2012 Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Abu Dhabi (EAU)

24/11/2018 04h00

A prisão do chefe-executivo da Renault, Carlos Ghosn, em Tóquio na última segunda-feira não deve ter desdobramentos imediatos na equipe de Fórmula 1 da montadora, que também fornece motores para a McLaren. Embora tenha sido importante para o retorno da Renault como equipe de fábrica, há três anos, o dirigente nunca foi um grande entusiasta da presença na categoria e, como salientou o chefe da equipe francesa, Cyril Abiteboul, não se trata de “uma decisão de um homem só.”

Por quase uma década, Ghosn foi o principal entrave para a Renault aumentar seu investimento na Fórmula 1. Mesmo na época em que a equipe conquistou o bicampeonato com Fernando Alonso, em 2005 e 2006, o empresário questionava o investimento de centenas de milhões de dólares ao ano em um esporte que, para ele, trazia pouca relevância em termos de ganho de imagem para uma marca como a Renault.

Com a adoção das tecnologias híbridas em 2014 e o maior protagonismo das montadoras, Ghosn passou a apoiar um investimento mais pesado da Renault, que comprou de volta sua equipe do grupo de investimentos Genni há três anos.

“Acho que é justo dizer que Carlos Ghosn foi fundamental na decisão de voltar, no final de 2015, mas obviamente não foi uma decisão de um homem só”, afirmou Abiteboul. “Foi algo debatido pelo comitê executivo. Estamos na Fórmula 1 há mais de 40 anos e estamos no meio de uma jornada de longo prazo, de seis anos. Temos seis anos para construir a equipe e tentar desafiar os grandes. Esse é nosso foco. Há uma continuidade clara das operações com Thierry Bolloré, que não é estranho à F1, já que é diretor dos acionistas desde 2016.”

Abiteboul afirmou que não acredita que haverá qualquer impacto direto da prisão de Ghosn na equipe de F1 e que a mensagem interna entre os chefes é de ter continuidade. “No momento [a mensagem é de] continuidade, foco no que temos de fazer e na segunda fase do nosso plano na F1, e é esse sucesso que importa. Acho que os motivos pelos quais voltamos à F1 ainda estão aqui: exposição da marca e desenvolvimento de tecnologia. Não há motivo nenhum para estes motivos desaparecerem.”

Entenda o caso
O chefe executivo da Renault/Nissan, Carlos Ghosn, foi preso na última segunda-feira, no Japão, por má conduta fiscal. Apesar dele não ter sido ainda formalmente acusado, os problemas encontrados em auditorias internas da Nissan, que também faz parte da Renault, vão de declarações de valores falsos na Bolsa de Tóquio ao pagamento de salário em propriedades no Brasil, Líbano e França para driblar o pagamento de impostos. As quantias desviadas estariam perto dos 170 milhões de reais ao longo de cinco anos.

Franco-brasileiro com origem libanesa, Ghosn chegou à Renault como vice-presidente executivo em 1996 e recuperou a marca por meio de uma política de corte de gastos. O empresário foi importante na junção com a Nissan em 2001, realizando o mesmo processo e também recuperando a empresa.

Foi justamente no braço japonês que uma acusação interna levou a uma investigação que apontou discrepâncias entre as quantias que Ghosn dizia receber e seu salário de fato.

Após a prisão de Ghosn, a Renault anunciou a nomeação do chefe-executivo interino Thierry Bolloré. O francês está na companhia desde 2006 e participa de vários conselhos administrativos dentro da Renault.

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