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Por que Hamilton, um dos gênios da F1, não é tão querido na Inglaterra?

Lewis Hamilton, Valtteri Bottas e Max Verstappen no pódio do Grande Prêmio do Japão de Fórmula 1 - Issei Kato/Reuters
Lewis Hamilton, Valtteri Bottas e Max Verstappen no pódio do Grande Prêmio do Japão de Fórmula 1 Imagem: Issei Kato/Reuters

Julianne Cerasoli

De Londres (ING)

04/01/2019 04h00

Não é a toa que Lewis Hamilton é apontado como um dos maiores pilotos da história da Fórmula 1. Afinal, seus números são apenas superados por Michael Schumacher, o grande recordista da categoria. São cinco títulos mundiais, 72 vitórias e 83 poles (o que é um recorde absoluto) em uma carreira de 12 anos. Para completar, há anos ele é o esportista britânico mais bem pago do mundo e hoje figura no top 12 no mundo. Tantas conquistas deveriam torná-lo uma lenda em seu país. Mas não é isso que acontece na Inglaterra.

Um exemplo dessa resistência aconteceu recentemente, durante a entrega do prestigiado prêmio de Esportista do Ano da BBC. Hamilton, que conquistou o pentacampeonato em seu melhor campeonato da carreira em termos de pilotagem, era um dos indicados, mas perdeu, em eleição popular, para o ciclista Geraint Thomas, que também conseguiu um grande feito: o ciclista venceu o Tour de France.

Ao fazer um discurso no evento, o piloto disse que sua vida tinha sido "uma longa jornada, saindo da favela." Ele rapidamente retirou o termo, dizendo "não favela exatamente, mas sair de um lugar e fazer algo diferente." A polêmica, contudo, já estava armada e os moradores de sua cidade natal, Stevenage, exigiram uma retratação, o que o piloto fez por meio de suas mídias sociais.

"Tenho muito orgulho de minhas origens e espero que vocês saibam que eu tento representá-las da melhor forma possível, mas ninguém é perfeito. Eu definitivamente cometo erros e particularmente quando você tem uma plateia na sua frente e está tentando encontrar as palavras certas. Eu escolhi as palavras erradas", admitiu.

O deslize gerou uma enxurrada de críticas na imprensa britânica, com jornais como o Independent duvidando que a infância de Hamilton tenha sido tão difícil como ele apregoa, citando o ensino privado que ele teve para terminar o Ensino Médio, algo que, na verdade, foi pago pela McLaren depois que o piloto passou a ser apoiado pelo time, aos 13 anos.

Críticas à maneira como Hamilton se expressa são comuns, especialmente devido a seu sotaque, que os britânicos consideram falso e americanizado.

Mas a grande crítica, que sempre acompanhou o inglês em sua carreira na Fórmula 1, é devido ao fato dele ter residência fixada em Mônaco, e por conta disso não pagar impostos no Reino Unido. "Ele sempre vai dividir opiniões no país por conta disso", publicou o The Times em artigo sobre o fato do nome do piloto ter sido citado no dossiê Paradise Papers em novembro de 2017 por ter evitado o pagamento de quase R$ 80 milhões em impostos ao usar um esquema da Ilha de Man para abrigar seu jatinho particular. O piloto nunca foi formalmente processado pelo caso. 

Porém, ao mesmo tempo em que recebe duras críticas em seu país, Hamilton também tem um grande número de fãs na Inglaterra. Prova disso é o entusiasmo dos britânicos pela corrida de Silverstone, que tem ficado entre as de maior público nas últimas temporadas. Em 2018, o GP da Grã-Bretanha foi o de maior público na temporada, com 340 mil pessoas presentes nos três dias de evento.
 

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