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Baku versão "Nutella" da F1 mascara problemas. Mas não conquista locais

Daniel Ricciardo durante GP de Baku - AFP
Daniel Ricciardo durante GP de Baku Imagem: AFP

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Baku (Azerbaijão)

27/04/2019 07h10

Prédios com arquitetura neoclássica misturados com um trecho da cidade velha com uma muralha medieval preservada e arquibancadas com bom público. Quem vê o GP do Azerbaijão pela TV pode imaginar que a cidade de Baku, que para muita gente só entrou realmente no mapa depois que começou a sediar uma das etapas da F-1, em 2016, conta os dias para os carros voltarem a cada ano. Mas a Baku da TV é a versão Nutella de uma cidade que, na quarta edição da prova, ainda não apoia totalmente a competição.

São dois os motivos apontados pelos locais para torcer o nariz para a Fórmula 1. Um deles é a dificuldade que o fechamento do coração da cidade traz para o trânsito, principalmente porque não há um padrão para horários de fechamento de vias ou mesmo quais delas têm o trânsito interrompido.

Baku - Julianne Cerasoli/UOL Esporte - Julianne Cerasoli/UOL Esporte
Taxistas são os que mais reclamam do GP em Baku
Imagem: Julianne Cerasoli/UOL Esporte

"Acho que é predominantemente pela inconveniência que certamente causamos para os locais durante a semana da corrida. Tentamos montar as coisas o mais tarde possível para minimizar a inconveniência, mas não há muito o que possamos fazer nos dias que antecedem a corrida. Nós temos que fechar o centro da cidade. Mas tentamos criar passagens à noite, quando não há atividade de pista", reconhece o promotor do GP do Azerbaijão, Arif Rahimov.

O outro questionamento é em relação ao investimento. O Azerbaijão é ao mesmo tempo um país rico devido ao petróleo e outras fontes de energia, mas desigual e coberto de casos de corrupção e o salário mínimo não passa de 300 reais. A média salarial não passa de 1200 reais e, fora da área do circuito, falta infraestrutura básica nas ruas, o que gera questionamentos em relação ao alto investimento para receber a Fórmula 1.

Isso porque o contrato de Baku é um dos mais lucrativos para a categoria. Negociado ainda na época em que Bernie Ecclestone comandava o esporte, o contrato é de 60 milhões de dólares por ano, e isso não inclui o gasto com a montagem do circuito. "Temos que refazer toda a estrutura todo ano", diz Rahimov, ao mesmo tempo em que defende que o GP tem trazido lucro para o Azerbaijão.

Baku 2 - Julianne Cerasoli/UOL Esporte - Julianne Cerasoli/UOL Esporte
Prédios fora da região do circuito são bem diferentes da arquitetura clássica do centro
Imagem: Julianne Cerasoli/UOL Esporte

"Fizemos um estudo econômico para determinar o impacto da corrida, e o resultado foi de que a prova movimentou 280 milhões de dólares só nos dois primeiros anos e gerou mais de 100 milhões de dólares em termos de valor de mídia. Sentimos que são números fortes e tentamos mostrar esses números para a população, porque as pessoas não sabem desses detalhes. Mas muita gente é teimosa e é difícil mudar a cabeça das pessoas. Não há ganho sem sacrifício e acho que o ganho que a F1 traz para o país é muito mais que o sacrifício de algumas pessoas que não querem uma corrida no quintal das suas casas", disse Rahimov ao UOL Esporte.

Sobre os problemas de trânsito, o promotor lembrou que reclamações do tipo ocorrem em outros lugares que recebem provas de rua. De fato, em Singapura, há reclamações do mesmo tipo e é outra prova que tem um público considerável de estrangeiros. Em Baku, um terço dos torcedores vem de fora do país, principalmente da vizinha Rússia, do Reino Unido e da Alemanha, até porque o preço dos ingressos está fora da realidade da grande maioria da população. O bilhete mais barato custa 580 reais para o sábado e o domingo.

No calendário desde 2016, o GP do Azerbaijão tem contrato com a Fórmula 1 até 2023.

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