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Wilsinho sobre Lauda: "Não era superpiloto, mas tirava mais do carro"

Niki Lauda durante o GP de Mônaco de 1984, com a McLaren - Bob Harmeyer/Getty Images
Niki Lauda durante o GP de Mônaco de 1984, com a McLaren Imagem: Bob Harmeyer/Getty Images

Lito Cavalcanti

Colaboração para o UOL Esporte, em São Paulo

26/05/2019 04h00

Wilson Fittipaldi Júnior e Niki Lauda foram contemporâneos desde o primeiro ano na Fórmula 2 até ingressarem na Fórmula 1. Mais do que isso, o brasileiro foi amigo do tricampeão austríaco, morto essa semana aos 70 anos. O ano era 1971 e ambos eram novatos no disputadíssimo Campeonato Europeu de Fórmula 2, o primeiro passo realmente internacional depois da F3, que na época se dividia em vários torneios nacionais.

Tinham também em comum as finanças apertadas, o dinheiro contado e a determinação de chegarem à Fórmula 1. Muitas vezes vizinhos nos boxes, brincavam com frequência entre si. "Vou te deixar para trás hoje, nem adianta mexer muito nesse carro", dizia um para o outro. Na pista, porém, a disputa era duríssima, mas sempre leal, como relembra hoje o mais velho dos irmãos Fittipaldi.

"Niki era um adversário duro, mas incapaz de qualquer deslealdade. Dos primeiros anos até o tricampeonato dele, nunca vi ou ouvi nada neste sentido", elogia Wilsinho, que o via como um piloto de certa forma limitado por um lado e brilhante por outro.

"Ele não era um superpiloto, mas sua atenção aos detalhes e seu conhecimento de mecânica e de física lhe permitiam tirar muito mais dos acertos dos carros do que os outros. Trabalhava muito, era atento a tudo e essa dedicação se pagava no cronômetro".

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Naquele primeiro ano, Lauda não estava à altura do brasileiro. Ele terminou o campeonato na 10ª posição, com oito pontos, o brasileiro foi o sexto colocado, com 16. Wilson tinha sua própria equipe, o Team Bardahl, e corria com um carro Brabham, sem apoio da fábrica. Niki corria pela March, mas por contrato a equipe carregava o nome de seu patrocinador, Bosch Racing Team.

Com melhor estrutura, e utilizando a experiência adquirida no ano anterior, Lauda superou o brasileiro em 1972 e depois de chegar três vezes ao pódio e estabelecer duas pole positions, terminou o ano em quinto, com 25 pontos, enquanto Wilson, em um ano difícil, foi o 10º colocado.

A rivalidade, porém, não interferia na amizade. "Nas vezes em que conseguíamos sair das pistas em tempo, o que não ocorria com frequência porque sempre havia o que fazer nos carros, jantávamos juntos. Tínhamos um relacionamento um pouco mais próximo do que com outros pilotos. Ele era sério, tinha um humor muito próprio. Seu traço mais forte era o jeito direto, um tanto áspero, de se expressar. Não se dava ao trabalho de escolher as palavras, falava o que pensava da maneira mais direta, mas sempre foi um bom amigo".

Wilson mostra muito respeito principalmente pela coragem demonstrada após o terrível acidente em Nurburgring, no GP da Alemanha.

"Ele quis voltar a correr o mais rápido possível, e quando voltou tinha limpado aquele horror da cabeça. Estava decidido a aproveitar a grande qualidade que a Ferrari tinha e acabou conseguindo. Mas como ele passou a ter muita preocupação com a segurança depois daquele horror que passou, acabou abrindo mão do título ao se recusar a ficar na pista com o dilúvio que caiu em Fuji no GP do Japão. Ele deu a primeira volta, avaliou o risco enorme que todos corriam e resolveu que não ia correr, entrou nos boxes e abandonou a corrida. Foi uma decisão que todos teriam a coragem de tomar. Niki era assim. Ele marcou uma época e contribuiu muito para a evolução da Fórmula 1".

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