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Hoje é o dia do Super Bowl! E um bad boy carismático promete roubar a cena

Do UOL, em São Paulo

02/02/2014 06h00

O clima é tenso e a torcida faz um barulho ensurdecedor em Seattle, na esperança de atrapalhar o ataque rival na jogada decisiva. A bola viaja em direção ao adversário e a eliminação é praticamente uma certeza. Então, um defensor surge, desvia a bola e classifica os Seahawks para a final. O herói nem pensa em comemorar: corre direto para um adversário e começa a ironizar a eliminação do maior rival, o que gera uma pequena confusão. Em seguida, aos berros com uma repórter, se diz o melhor da NFL. Assim é Richard Sherman. E quem disse que todo herói é um bom moço?

Com cara e jeito de rapper norte-americano, o camisa 25 dos Seahawks é um dos personagens mais interessantes do Super Bowl, que acontece às 21h30 deste domingo, quando a equipe de Seattle terá pela frente o Denver Broncos. Falastrão e provocador, o atleta é o coração da melhor defesa da NFL na temporada 2013, um dos maiores ídolos de sua atual equipe.

A fama de Sherman chegou a outro nível no dia 19 de janeiro, durante a final da Conferência Nacional (espécie de semifinal do torneio). Protagonista da última jogada da vitória por 23 a 17 sobre o maior rival, o San Francisco 49ers, ele ganhou repercussão mundial por deixar os companheiros e a torcida de lado para ir dar um tapinha no bumbum de Michael Cabtree, recebedor dos 49ers que perdeu a jogada. Como se não bastasse, ele ainda deu uma polêmica entrevista aos berros dizendo ser o melhor da liga em sua posição e sem poupar críticas ao adversário.

“Nunca fale sobre mim. Eu sou o melhor cornerback deste jogo. Não abra a boca para falar sobre o melhor ou eu vou fechá-la rapidamente”, gritou durante transmissão em rede nacional.

A polêmica gerada na final da Conferência Nacional é apenas a mais famosa causada por Sherman. Aos 25 anos e dono de longos dreadlocks, ele tem apenas três anos como jogador profissional, mas já deu muito o que falar e se envolveu em uma série de discussões públicas.

A primeira aconteceu em 2012, quando ele ainda não tinha metade da fama atual. Após a vitória dos Seahawks sobre o New England Patriots, o defensor postou uma foto no Twitter provocando Tom Brady, marido da modelo brasileira Gisele Bündchen e um dos maiores jogadores da história da NFL. Na imagem, Sherman está gritando no rosto do adversário. Além disso, o corneback colocou a legenda: “Você está nervoso, mano?”.

Outros dos momentos mais marcantes foi o verdadeiro bate-boca com o comentarista Skip Bayless, da ESPN. Na ocasião, Sherman se irritou com uma crítica do analista ao ser questionado ao vivo sobre sua qualidade e seus objetivos na liga. Sem se preocupar com a audiência, o cornerback partiu para o ataque, deixando o jornalista completamente sem reação.

“Eu acredito que meus números falam por si. Você pode falar o que quiser. Mas, quando você falar de mim, fale como um All-Pro (jogador escolhido para a seleção da liga) e graduado, porque são coisas que você nunca terá. Eu estou no topo da minha profissão. Sou um dos 22 melhores da NFL. Eu não acho que você está entre os 22 melhores em nada, nem na mídia, nem nos esportes”, disparou.

Fato é que, ao falar dos números, Sherman está realmente certo. Desde que chegou aos Seahawks, ele tem sido o coração da defesa e o pesadelo dos ataques adversários. Logo em seu segundo ano, o cornerback foi vice-líder da NFL em interceptações, com oito. Já nesta temporada, ele manteve o mesmo número e liderou o campeonato no quesito. A confiança é tanta que ele até chega a dar um espaço maior para o recebedor rival durante as jogadas para enganar o lançador e tentar interceptar o passe.

Apesar da marra e do formato “anti-herói”, se engana profundamente que o camisa 25 é um “bad boy” padrão, que só pensa em brigas e discussões. Longe dos gramados, Sherman possui um lado pouco conhecido e pouco explorado pela mídia norte-americana. Filho de um motorista de caminhão de lixo e uma professora, o agora astro nasceu em Compton, uma das periferias mais violentas de Los Angeles. Mesmo rodeado pela criminalidade, ele encontrou no esporte e nos estudos uma forma de deixar o ambiente hostil para trás.

Talentoso desde cedo, o camisa 25 dos Seahawks participou durante muitos anos de provas de atletismo e conseguiu marcas interessantes. Estudante de Stanford, ele praticou os 100m livres, ele chegou a bater 10s77. Outra modalidade que lhe interessava era o salto triplo, onde atingiu 15m44, sendo citado em diversas revistas como uma promessa olímpica.

Porém, o destaque mesmo veio no futebol americano. Por conta das habilidades conquistadas com o atletismo, Sherman curiosamente começou a carreira universitária como jogador de ataque e só depois foi para a defesa. Em 2010, ele se formou em comunicação social e até mesmo começou o mestrado antes de ser draftado na NFL.

A inteligência de o defensor abriu uma discussão para saber se tudo o que ele diz é realmente parte da personalidade de quem nasceu em um lugar desacreditado e se tornou um ídolo ou se tudo não passa de uma tacada de mestre para desestabilizar os adversários. “Bad Boy” ou nerd, fato é que Richard Sherman estará em campo domingo. Resta saber se vai deixar o MetLife Stadium, em Nova Jersey, campeão ou não.