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Brady e Patriots voltam ao Super Bowl após polêmica, trapaça e suspensão

Jimmy Garoppolo - Maddie Meyer/Getty Images - Maddie Meyer/Getty Images
Jimmy Garoppolo, substituto de Brady no início da atual temporada da NFL
Imagem: Maddie Meyer/Getty Images

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

05/02/2017 04h00

Em fevereiro de 2015, o New England Patriots conseguiu um feito notável: conquistou o quarto Super Bowl da sua história, todos eles com o quarterback Tom Brady e o treinador Bill Belichik no comando em um intervalo de 13 anos. A 'dinastia Patriots', como os norte-americanos gostam de definir, não passou ilesa de inimigos e polêmicas, a maior delas com ramificações para a temporada que será concluída neste domingo (5), com o Super Bowl LI em Houston.

A história tem origem na final de conferência da temporada concluída em 2015. A partida, disputada no dia 18 de janeiro daquele ano, foi um massacre dos Patriots no Gillette Stadium, casa da equipe em Foxborough. Vitória fácil por 45 a 7 sobre o Indianapolis Colts.

Uma denúncia dos Colts, no entanto, virou o centro da discussão: o ataque comandado por Tom Brady teria jogado com bolas mais murchas do que as regras da NFL permitem. A vantagem nisso? Mais flexível, a bola oval se torna mais fácil de segurar. Uma acusação de trapaça, investigada com afinco pela NFL.

Um total de 11 das 12 bolas utilizadas pelos Patriots estavam com a pressão abaixo do permitido, apontou a investigação da liga norte-americana. A polêmica foi batizada de “Deflategate” e surgiu nas semanas que antecederam o Super Bowl contra o Seattle Seahawks, vitória por 28 a 24 dos Patriots. Título manchado? Brady e Belichik negaram qualquer participação no caso.

Brady Super Bowl XLIX - Rob Carr/Getty Images - Rob Carr/Getty Images
Brady chegou pressionado, mas foi bem no Super Bowl XLIX contra os Seahawks
Imagem: Rob Carr/Getty Images

“Eu não alterei as bolas de qualquer forma. Eu tenho um processo que faço antes de todo o jogo, no qual eu escolho as bolas que eu quero usar na partida. Os caras do nosso equipamento fazem um bom trabalho. Passam pelo processo deles. Quando eu pego as bolas, elas estão perfeitas. Eu não quero ninguém tocando nelas depois disso, acariciando-as, colocando ou tirando ar delas. Para mim elas estão perfeitas e é isso que eu espero quando eu entro no campo. Então o que aconteceu na noite de domingo foi o mesmo processo que eu sempre realizo”, disse Brady.

“Em relação às bolas, tenho certeza que qualquer ex ou atual jogador meu diria a vocês que as bolas que treinamos estão no pior estado que elas podem estar: molhadas, grudentas, geladas e escorregadias. O quão pior eu puder deixá-las, eu o faço. Todas as vezes que os jogadores reclamam da qualidade das bolas, eu torno elas piores e isso acaba com as reclamações. Nós nunca usamos a condição das bolas como uma desculpa”, declarou Belichik.

Investigação e consequências

A NFL contratou um investigador independente para apurar o caso. O relatório apontou que "possivelmente" Jim McNally, um atendente do vestiário dos árbitros do Gillette Stadium, pegou as 11 bolas após a fiscalização dos juízes, levou-as para o banheiro e esvaziou-as supostamente a pedido de Brady - a quem McNally e outro funcionário dos Patriots, John Jastremski, mencionaram em conversas por mensagem de celular.

Mesmo sem clareza na conclusão da investigação, a NFL decidiu em maio de 2015 punir Brady com quatro jogos de suspensão sem remuneração da temporada seguinte (2015/16). Ainda aplicou uma multa de US 1 milhão aos Patriots, que perderam sua primeira escolha no Draft de 2016 e a escolha de quarta rodada do Draft da temporada de 2017.

A decisão irritou Robert Kraft, dono da franquia, que considerou as punições muito mais rígidas do que o esperado. “Apesar de nossa convicção que não houve adulteração nas bolas, era nossa intenção aceitar qualquer punição definida pela liga. A punição de hoje, no entanto, excedeu muito qualquer expectativa sensata. Foi baseada completamente em evidências circunstanciais em vez de conclusivas”, opinou.

Por meio da associação de jogadores da NFL (NFLPA), Brady entrou com um recurso contra a suspensão de quatro jogos. Roger Goodell, comissário da liga e responsável por encomendar a investigação contra o jogador, foi o presidente da audiência do quarterback, contrariando o pedido da NFLPA de um árbitro neutro no caso. O encontro realizado em junho levou 10 horas, mas não mudou nada: no final de julho, Goodell anunciou a manutenção da punição a Brady.

Tom Brady audiência - Spencer Platt/Getty Images - Spencer Platt/Getty Images
Imagem: Spencer Platt/Getty Images

Fim da história? Nada disso. O jogador publicou um comunicado criticando o comissário da NFL e a liga, assim como Robert Kraft voltou a se posicionar em defesa ao quarterback. O processo continuou, só que na justiça comum. Para alegria de Brady e dos Patriots, o juiz Richard Berman anulou a suspensão imposta pela NFL, após uma série de tentativas de ambas as partes para se chegar a um acordo.

Insatisfeita, a NFL recorreu à decisão, mas viu Brady jogar todas as partidas daquela temporada pelos Patriots. A franquia de New England terminou em segundo na Conferência Americana (AFC) e foi até a final de conferência contra o Denver Broncos, que venceu por 20 a 18 e posteriormente conquistou o Super Bowl 50.

Roger Goodell, comissário da NFL - Spencer Platt/Getty Images - Spencer Platt/Getty Images
Roger Goodell, comissário da NFL e adversário de Brady em polêmica
Imagem: Spencer Platt/Getty Images

Na pós-temporada, o processo de Brady voltou a ser notícia. O caso voltou à Justiça em março de 2016 e, no final de abril, a pena de quatro jogos de suspensão foi reinstaurada. O quarterback tentou apelar à decisão, mas teve seu pedido negado e lhe restaram apenas duas opções: ir à Suprema Corte dos EUA ou acatar a punição, que foi o que ele fez.

Punidos, Patriots dominam conferência

Sem seu principal jogador, o New England Patriots teve começar a temporada 2016/17 com o quarterback Jimmy Garoppolo como titular. Preciso, ele levou o time à vitória contra o Arizona Cardinals na estreia e teve ótimo desempenho contra o Miami Dolphins até deixar o campo machucado.

Jacoby Brissett, novato escolhido na terceira rodada do Draft, assumiu as rédeas do time e garantiu mais um triunfo. Terceiro reserva do elenco, ele foi titular nos dois jogos seguintes, uma vitória por 27 a 0 sobre o Houston Texans e uma derrota por 16 a 0 para o Buffalo Bills.

De volta para a partida contra o Cleveland Browns na quinta semana da temporada, Brady começou sua caminhada sem objeções rumo ao Super Bowl. Foram 11 vitórias e uma derrota na temporada regular, com a melhor relação touchdown para interceptação da liga: 28 para 2, ou uma interceptação a cada 14 touchdowns.

Apesar de um jogo abaixo da média contra o Houston Texans na semifinal de conferência, que foi uma vitória fácil dos Patriots, Brady teve uma apresentação irretocável na prévia do Super Bowl, com 384 jardas e três touchdowns contra o Pittsbugh Steelers no triunfo por 36 a 17 que resultou no título da AFC.

Aos 39 anos, Brady busca fazer história e se isolar como o quarterback com mais vitórias em Super Bowls - está empatado no topo com quatro vitórias em seis participações. Mas, além de entrar no livro dos recordes da NFL, Brady também quer vingança contra a liga que o puniu severamente.