Ela comenta futebol americano no Brasil. E quer mais espaço para mulheres
Quando começou a comentar futebol americano para a "Rádio Universidade AM", emissora oficial da Universidade Federal de Santa Maria, Janaína Wille não imaginava que fosse ganhar tanta repercussão. Por trabalhar com um esporte em que a mulher é tradicionalmente objetificada, a estudante de jornalismo comemora a barreira derrubada e pede mais espaço para outras seguirem seus passos.
Janaína entrou na faculdade de jornalismo já disposta a trabalhar com esportes. Quando entrou na universidade, começou a trabalhar no Radar Esportivo, programa da rádio. Em agosto do ano passado, aproveitou seu conhecimento sobre futebol americano para começar a trabalhar como repórter nas transmissões de jogos do Santa Maria Soldiers, que disputa o Campeonato Gaúcho e a Liga Nacional.
Mesmo acompanhando a modalidade desde 2011, Janaína, hoje aos 18 anos de idade, afirma que ainda há quem duvide de seu conhecimento pelo simples fato de se tratar de uma mulher.
"A gente enfrenta sim bastante machismo, mas um machismo velado, enrustido. Ninguém nunca falou que eu não podia comentar por ser mulher, mas as pessoas ainda se assustam. 'Ah, até que tu entende'. Você percebe os olhares, fica sabendo de coisas que as pessoas falam", afirmou, ao UOL Esporte.
O Rio Grande do Sul, Estado em que Janaína estuda e trabalha, foi recentemente caso de mais um episódio machista no esporte brasileiro envolvendo Guto Ferreira, treinador do Internacional, e a jornalista Kelly Costa. Janaína lamenta o caso e se sente aliviada por nunca ter passado por uma situação do tipo envolvendo atletas e comissões técnicas.
"A gente fica bastante triste. Para mim, nunca aconteceu. Felizmente, o pessoal é bastante receptivo. Ficam felizes de ver mulheres acompanhando. O futebol americano é um esporte com poucos times femininos e poucas mulheres na comissão técnica. É um esporte em que a mulher tem espaço como cheerleader (animadora de torcida). Nos Estados Unidos, a principal liga feminina é a de lingerie", lamenta.
Por ter quebrado o tabu e começado a comentar a Liga Nacional da modalidade, Janaína foi ganhando notoriedade até o caso chegar a seu ídolo. Everaldo Marques, que narra jogos da NFL na "ESPN", chegou a mandar uma mensagem de apoio para Janaína.
"Ele faz um trabalho sensacional. Ele já falou sobre mim, gravou um vídeo comentando. Eu não acreditei quando vi que ele sabe que eu existo. Ele é minha principal referência", comemorou.
Pioneira no Brasil, Janaína quer que cada vez mais mulheres tenham cargos como comentaristas no Brasil. Como conselho para quem quer seguir seus passos, a estudante pede persistência.
"Eu aconselho a nunca desistirem. Se é o que elas querem, vão atrás. Nunca vai ser fácil. Em qualquer meio, as mulheres enfrentam mais dificuldades", declarou.
Com apenas 18 anos, Janaína já conquistou seu espaço. Agora, quer que mais mulheres façam o mesmo.
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