Além da NFL: Veja outros protestos no esporte contra entidades políticas
A ideia de Donald Trump, que sugeriu que donos das franquias da NFL deveriam demitir jogadores que se ajoelham durante o hino nacional, não foi vista com bons olhos na modalidade. Durante os jogos da última rodada, a maioria dos atletas, até mesmo amigos do presidente dos EUA, como o quarterback Tom Brady, aderiru às manifestações, que se iniciaram em 2016, após o ex-San Francisco 49ers Colin Kaepernick protestar sentado, e depois se ajoelhar, contra a violência contra os negros no país.
Por mais que os atos tenham deixado muitos fãs chocados, manifestações contra políticos e entidades não é bem uma novidade no esporte. No Brasil e no mundo, atletas de várias modalidades já desafiaram os regulamentos com o intuito de passar uma mensagem que atingisse a sociedade como um todo. Veja outras manifestações no esporte:
Guerra fria e boicotes nos Jogos de 1980 e 1984
A Guerra Fria não chegou a protagonizar conflitos militares entre Estados Unidos e União Soviética, mas certamente é a responsável pela queda de nível técnico de dois Jogos Olimpicos. Em protesto contra a invasão do Afeganistão por parte dos soviéticos em 1979, os EUA boicotaram a Olimpíada de 1980, levando outras 68 nações, como Alemanha Ocidental, Canadá e Japão a fazerem a mesma coisa. Na cerimônia de encerramento dos Jogos, a bandeira de Los Angeles foi hasteada no lugar da dos EUA, e o choro do mascote Misha era uma indireta às nações ausentes, já que o urso lamentava o boicote das delegações. Quatro anos depois, foi a vez da URSS e de outros países da Cortina de Ferro deixarem de ir aos Jogos, que ocorreram na cidade da Califórnia, alegando falta de segurança aos seus atletas. Ao contrário dos socialistas, a organização da Olimpíada nos EUA não fez nenhuma menção direta ou indireta ao boicote.
Saudação Black Power na Olimpíada de 1968
Também foram atletas norte-americanos os responsáveis pelo ato mais marcante da história do esporte contra o racismo. Após o fim da prova dos 200 metros rasos da Olimpíada de 1968, Tommie Smith e John Carlos, ganhadores das medalhas de ouro e bronze, respectivamente, colocaram uma luva preta e ergueram seus punhos em saudação ao movimento Black Power durante o hino nacional dos EUA. O ato, que representou um protesto à violência contra os negros, fez com que o COI forçasse a delegação dos EUA a expulsar os dois atletas dos Jogos, já que manifestações políticas não são permitidas durante as competições, que ocorreram na Cidade do México. Após o protesto, ambos acabaram no ostracismo do atletismo e passaram a jogar futebol americano um ano depois da Olimpíada. Enquanto Smith atuou na NFL, pelo Cincinnati Bengals, Carlos acabou se aposentando em pouco tempo fazer jogos na liga canadense.
Democracia Corintiana
Por mais que tivesse como principal objetivo dar voto igualitário a todos os funcionários do Corinthians, a Democracia Corintiana também deixou sua participação na luta pelo voto popular. Ainda no auge do movimento, em 1982, o clube estampou em suas camisas a frase "Dia 15 vote", para que a população comparecesse às urnas para a primeira eleição para o governo estadual em 17 anos de regime militar. Principal nome do movimento no clube, Sócrates aderiu à campanha das Diretas Já, e subiu com Wladimir e Casagrande em palanques para lutarem pelo direito do voto para presidente da República. Como o projeto não passou pela Câmara dos Deputados, o ex-camisa 8 da equipe teve que cumprir sua promessa de deixar o clube, reforçando a queda da Democracia Corintiana, que se enfraqueceu após três anos.
Bom Senso FC
Em setembro de 2013, o futebol brasileiro viu nascer um movimento de jogadores que visava fazer um calendário com menos jogos, maior pré-temporada, fair-play financeiros para os clubes do país e participação nos conselhos das federações. Liderado por Paulo André, Alex, Rogério Ceni, Seedorf e outros importantes nomes, o Bom Senso FC conquistou rapidamente parte dos esportistas e até dos torcedores, mas foi ignorado pela CBF. Protestos durante jogos do Campeonato Brasileiro em que os atletas ficaram abraçados ou de braços cruzados por 30 segundos foram feitos, mas o principal símbolo do movimento foram os toques de lado na partida entre São Paulo e Flamengo, após o árbitro Alicio Pena Junior ameaçar dar cartão amarelo aos 22 jogadores em campo. O ato fez com que jogadores de basquete fizessem protesto semelhante contra a CNB na mesma época. A falta de greve e o constante desprezo da CBF em abrir as portas para discussões sobre os temas fez com que o grupo caísse no ostracismo. O Bom Senso chegou até a fazer protestos em frente à sede da organização, mas também sem sucesso. Em julho de 2016, o movimento chegou ao seu fim, por falta de engajamento e força.
'Palhaços' do vôlei
Pouco depois da Controladoria-Geral da identificar irregularidades de R$ 30 milhões em contratos da CBV, pessoas ligadas ao vôlei brasileiro protestaram não só nas redes sociais, mas também nas quadras. Pouco depois do Banco do Brasil deixar de patrocinar a entidade por conta dos rombos, de 2010 a 2013, atletas brasileiros atuaram em alguns jogos utilizando um nariz de palhaço, a atitude, tomada por gente como Murilo e Lucarelli, foi repetida também entre as jogadoras. Fabiana chegou a atuar com uma faixa preta no braço. Os atletas pediram transparência e deixaram evidentes sua insatisfação com Ary Graça, que presidia a CBV na época das irregularidades e que depois assumiu a FIVB.
Um minuto de silêncio por Barcelona
A manifestação mais recente no mundo ocorreu no último mês de agosto, no Mundial Master de Natação. Após o atentado ocorrido em Barcelona, que matou 13 pessoas em 17 de agosto, o nadador Fernando Álvarez sugeriu à Fina um minuto de silêncio antes da disputa dos 200m peito para a categoria de 70 a 74 anos. Não atendido pela federação, o espanhol se posicionou junto com os outros nadadores, mas após o toque da buzina de largada, Álvarez ficou em posição de respeito, enquanto os outros atletas disputavam a prova.
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