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Além da NFL: Veja outros protestos no esporte contra entidades políticas

Jogadores do Baltimore Ravens protestam contra Trump - AP Photo/Matt Dunham
Jogadores do Baltimore Ravens protestam contra Trump Imagem: AP Photo/Matt Dunham

Do UOL, em São Paulo

27/09/2017 11h00

A ideia de Donald Trump, que sugeriu que donos das franquias da NFL deveriam demitir jogadores que se ajoelham durante o hino nacional, não foi vista com bons olhos na modalidade. Durante os jogos da última rodada, a maioria dos atletas, até mesmo amigos do presidente dos EUA, como o quarterback Tom Brady, aderiru às manifestações, que se iniciaram em 2016, após o ex-San Francisco 49ers Colin Kaepernick protestar sentado, e depois se ajoelhar, contra a violência contra os negros no país.

Por mais que os atos tenham deixado muitos fãs chocados, manifestações contra políticos e entidades não é bem uma novidade no esporte. No Brasil e no mundo, atletas de várias modalidades já desafiaram os regulamentos com o intuito de passar uma mensagem que atingisse a sociedade como um todo. Veja outras manifestações no esporte:

Ursinho Misha - France Presse / AFP - France Presse / AFP
Imagem: France Presse / AFP

Guerra fria e boicotes nos Jogos de 1980 e 1984

A Guerra Fria não chegou a protagonizar conflitos militares entre Estados Unidos e União Soviética, mas certamente é a responsável pela queda de nível técnico de dois Jogos Olimpicos. Em protesto contra a invasão do Afeganistão por parte dos soviéticos em 1979, os EUA boicotaram a Olimpíada de 1980, levando outras 68 nações, como Alemanha Ocidental, Canadá e Japão a fazerem a mesma coisa. Na cerimônia de encerramento dos Jogos, a bandeira de Los Angeles foi hasteada no lugar da dos EUA, e o choro do mascote Misha era uma indireta às nações ausentes, já que o urso lamentava o boicote das delegações. Quatro anos depois, foi a vez da URSS e de outros países da Cortina de Ferro deixarem de ir aos Jogos, que ocorreram na cidade da Califórnia, alegando falta de segurança aos seus atletas. Ao contrário dos socialistas, a organização da Olimpíada nos EUA não fez nenhuma menção direta ou indireta ao boicote.

Saudação Black Power - AP - AP
Imagem: AP

Saudação Black Power na Olimpíada de 1968

Também foram atletas norte-americanos os responsáveis pelo ato mais marcante da história do esporte contra o racismo. Após o fim da prova dos 200 metros rasos da Olimpíada de 1968, Tommie Smith e John Carlos, ganhadores das medalhas de ouro e bronze, respectivamente, colocaram uma luva preta e ergueram seus punhos em saudação ao movimento Black Power durante o hino nacional dos EUA. O ato, que representou um protesto à violência contra os negros, fez com que o COI forçasse a delegação dos EUA a expulsar os dois atletas dos Jogos, já que manifestações políticas não são permitidas durante as competições, que ocorreram na Cidade do México. Após o protesto, ambos acabaram no ostracismo do atletismo e passaram a jogar futebol americano um ano depois da Olimpíada. Enquanto Smith atuou na NFL, pelo Cincinnati Bengals, Carlos acabou se aposentando em pouco tempo fazer jogos na liga canadense.

Democracia Corintiana - Jorge Araújo/Folhapress - Jorge Araújo/Folhapress
Imagem: Jorge Araújo/Folhapress

Democracia Corintiana

Por mais que tivesse como principal objetivo dar voto igualitário a todos os funcionários do Corinthians, a Democracia Corintiana também deixou sua participação na luta pelo voto popular. Ainda no auge do movimento, em 1982, o clube estampou em suas camisas a frase "Dia 15 vote", para que a população comparecesse às urnas para a primeira eleição para o governo estadual em 17 anos de regime militar. Principal nome do movimento no clube, Sócrates aderiu à campanha das Diretas Já, e subiu com Wladimir e Casagrande em palanques para lutarem pelo direito do voto para presidente da República. Como o projeto não passou pela Câmara dos Deputados, o ex-camisa 8 da equipe teve que cumprir sua promessa de deixar o clube, reforçando a queda da Democracia Corintiana, que se enfraqueceu após três anos.

Bom Senso FC - Junior Lago/UOL - Junior Lago/UOL
Imagem: Junior Lago/UOL

Bom Senso FC

Em setembro de 2013, o futebol brasileiro viu nascer um movimento de jogadores que visava fazer um calendário com menos jogos, maior pré-temporada, fair-play financeiros para os clubes do país e participação nos conselhos das federações. Liderado por Paulo André, Alex, Rogério Ceni, Seedorf e outros importantes nomes, o Bom Senso FC conquistou rapidamente parte dos esportistas e até dos torcedores, mas foi ignorado pela CBF. Protestos durante jogos do Campeonato Brasileiro em que os atletas ficaram abraçados ou de braços cruzados por 30 segundos foram feitos, mas o principal símbolo do movimento foram os toques de lado na partida entre São Paulo e Flamengo, após o árbitro Alicio Pena Junior ameaçar dar cartão amarelo aos 22 jogadores em campo. O ato fez com que jogadores de basquete fizessem protesto semelhante contra a CNB na mesma época. A falta de greve e o constante desprezo da CBF em abrir as portas para discussões sobre os temas fez com que o grupo caísse no ostracismo. O Bom Senso chegou até a fazer protestos em frente à sede da organização, mas também sem sucesso. Em julho de 2016, o movimento chegou ao seu fim, por falta de engajamento e força.

Jogadores com narizes de palhaço - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

'Palhaços' do vôlei

Pouco depois da Controladoria-Geral da identificar irregularidades de R$ 30 milhões em contratos da CBV, pessoas ligadas ao vôlei brasileiro protestaram não só nas redes sociais, mas também nas quadras. Pouco depois do Banco do Brasil deixar de patrocinar a entidade por conta dos rombos, de 2010 a 2013, atletas brasileiros atuaram em alguns jogos utilizando um nariz de palhaço, a atitude, tomada por gente como Murilo e Lucarelli, foi repetida também entre as jogadoras. Fabiana chegou a atuar com uma faixa preta no braço. Os atletas pediram transparência e deixaram evidentes sua insatisfação com Ary Graça, que presidia a CBV na época das irregularidades e que depois assumiu a FIVB.

Fernando Alvarez - Reprodução/Youtube - Reprodução/Youtube
Imagem: Reprodução/Youtube

Um minuto de silêncio por Barcelona

A manifestação mais recente no mundo ocorreu no último mês de agosto, no Mundial Master de Natação. Após o atentado ocorrido em Barcelona, que matou 13 pessoas em 17 de agosto, o nadador Fernando Álvarez sugeriu à Fina um minuto de silêncio antes da disputa dos 200m peito para a categoria de 70 a 74 anos. Não atendido pela federação, o espanhol se posicionou junto com os outros nadadores, mas após o toque da buzina de largada, Álvarez ficou em posição de respeito, enquanto os outros atletas disputavam a prova.