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Post no instagram leva a polêmica e à discriminação de cheerleader nos EUA

A ex-líder de torcida Bailey Davis, do New Orleans Saints, em partida da equipe - Reprodução/Instagram
A ex-líder de torcida Bailey Davis, do New Orleans Saints, em partida da equipe Imagem: Reprodução/Instagram

25/03/2018 23h13

Quando colocou uma foto em que aparecia com roupas íntimas no início deste ano, Bailey Davis, líder de torcida do time de futebol americano New Orleans Saints, foi acusada de desrespeitar as regras colocadas às cheerleaders da NFL (sigla da liga do esporte nos EUA). Foi demitida por reclamar das advertências e também por ter participado de uma festa com jogadores do time. A história dela foi tema de reportagem publicada pelo jornal “New York Times” neste domingo (25).

Após a demissão, a animadora de torcida, no entanto, não se calou. Ingressou com um processo administrativo na Comissão para Igualdade de Oportunidade de Emprego dos Estados Unidos, reclamando que foi discriminada por regras que privilegiam homens e destratam mulheres no futebol norte-americano profissional. A autarquia para a qual se queixou é uma agência do governo do país para fiscalizar o cumprimento de leis pela igualdade dos direitos civis.

Na reclamação, Davis diz que o clube estabelece regras que colocam o papel das mulheres no esporte sob uma ótica atrasada. As orientações de conduta seguem os padrões colocados pela NFL para evitar violências doméstica e assédio sexual entre os jogadores e outros empregados da liga.

Não há contrapartida

A equipe do Saints determina normas, segundo a reportagem do “NYT”, que requerem às líderes de torcida que evitem contato com os atletas, no mundo real ou no virtual, sem a mesma contrapartida.

Para isso, impõe que as mulheres devem bloquear os jogadores, homens, de segui-las nas redes. Também as proíbe de publicar imagens com o uniforme de jogo do time, impedindo que elas usem as mídias sociais para se promover. Essas mesmas regras não valem para os esportistas. De acordo com o jornal norte-americano, há cerca de 2000 atletas na NFL, com os mais variados pseudônimos na internet, e as líderes precisam encontrar uma forma de bloquear cada um deles.

Além disso, o clube obriga as animadoras de torcida a não jantar nos mesmos restaurantes que os jogadores ou falar com eles sob nenhuma hipótese. Se alguma entrar em estabelecimento onde há um esportista, ela deve deixar o local. Se a líder já estiver no recinto, precisará sair.

“Se as cheerleaders não podem ter contato com os atletas, então os atletas não deveria ter a permissão de ter contato com as cheerleaders”, diz Sara Blackwell, advogada de Davis. “O estereótipo antiquado de mulheres precisando se esconder para a própria proteção não é permitido nos Estados Unidos, principalmente nos ambientes de trabalho”, complementa.

O Saints justifica a existência das regras para proteger as líderes de serem violentadas pelos homens. Mas coloca o ônus do cumprimento das normas apenas nas mulheres. O porta-voz da equipe se recusou a falar com a reportagem do “NYT”.

Outros casos

O jornal norte-americano relata que não está claro quais outros times da NFL têm regras parecidas às do Saint, mas sugere que o clube não é o único.

Líderes de torcida de Buffalo Bills, antes de a equipe se desfazer por problemas de pagamentos de salário, disseram que receberam ordens para ver se a carne do corpo delas balançava e afirmaram que tiveram que comparecer a um torneio de golfe para patrocinadores onde altos apostadores pagavam em dinheiro. Contam também que suas páginas no Facebook eram monitoradas por funcionários da equipe sem consentimento.

As animadoras do Oakland Raiders acionaram o time na Justiça sobre pagamentos e agora recebem salário mínimo e horas extras. Além delas, integrantes de líderes de outras equipes ganharam ações de milhares de dólares depois de processarem os Cincinnati Bengals, os Bucaneiros de Tampa Bay e os Jets, devido a desrespeito a leis trabalhistas por exigências que elas pagassem por sua própria maquiagem, uniformes e transporte.

Procurados pelo “NYT”, os representantes da NFL e dos outros clubes citados também não quiseram se manifestar.

Se a queixa de Davis seja aceita pela Comissão para Igualdade de Oportunidade, o caso irá ingressar na Justiça dos Estados Unidos. Além de reparação aos danos pessoais, a ex-líder de torcida do Saints diz que insistirá na reclamação para que outras mulheres não sofram o mesmo. "Estou fazendo isso para elas, para que possam fazer o que amam e se sentirem protegidas e fortalecidas, e serem profissionais do sexo feminino que não sejam jogados de canto para se sentirem sem importância", disse.