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Trump causa polêmica com draft da NFL ao ignorar #1 negro

Kyler Murray, número 1 do draft da NFL, posa com sua nova camisa como quarterback do Arizona Cardinals durante coletiva - Christian Petersen/Getty Images/AFP
Kyler Murray, número 1 do draft da NFL, posa com sua nova camisa como quarterback do Arizona Cardinals durante coletiva Imagem: Christian Petersen/Getty Images/AFP

Rubens Lisboa

Colaboração para o UOL, de São Paulo

30/04/2019 12h00

Kyler Murray é negro, foi a primeira escolha no draft da NFL, concluído na última semana, e obteve um contrato com salário recorde para calouros. Além disso, é o único da história a ser draftado na rodada inicial de duas ligas principais americanas, a NFL e a MLB. Mas foi ignorado pelo presidente Donald Trump, que preferiu parabenizar Nick Bosa, o segundo escolhido, branco e com atuação controversa envolvendo racismo e homofobia.

Quarterback que atuou na liga universitária em Oklahoma, Kyler Murray foi escolhido pelo Arizona Cardinals. Ele venceu o troféu Heisman, como melhor jogador universitário de 2018 e foi o primeiro atleta escolhido na rodada inicial tanto na NFL quanto na MLB, a liga de beisebol, em 2018, optando pelo futebol americano com um contrato de quatro anos por US$ 35 milhões, maior valor para um calouro.

Já Nick Bosa, defensive end que atuou em Ohio State, foi escolhido para defender o San Francisco 49ers, a mesma franquia pela qual atuou Colin Kaepernick - que chamou a atenção ao liderar manifestações na liga, ajoelhando durante a execução do hino nacional em protesto contra o racismo e a brutalidade policial contra negros e minorias em seu país.

Os protestos de Kaepernick ganharam apoio de personalidades como LeBron James, astro da NBA, e a cantora Rihanna, que se recusou a cantar no Super Bowl em defesa do quarterback, que está sem contrato desde 2017. Na época, Bosa o chamou de "palhaço" em um tuíte. O novo jogador do 49ers também polemizou outras vezes escrevendo que Pantera Negra foi o "Pior filme da Marvel em todos os tempos" e que a música de Beyoncé era "um lixo completo".

Bosa apagou os tuítes polêmicos e também os de apoio a Donald Trump, a quem chegou a chamar de GOAT (Maior de Todos os Tempos) em uma das publicações, alegou que seu agente os deletou para evitar que fosse prejudicado na escolha do draft e pediu desculpas a Kaepernick em conferência da NFL na última semana.

"Eu, como um jovem garoto, pensei em algo e decidi tuitar. Escolha errada. Respeito o que ele fez. Se isso empodera alguém, então ele fez algo bom. E eu peço desculpas por isso", se justificou Bosa.

"Tomei decisões insensíveis ao longo da minha vida. Estou empolgado por estar aqui com uma ficha limpa. Lamento se machuquei alguém. Eu definitivamente não pretendia que esse fosse o caso", completou o irmão de Joey Bosa, draftado pelo Los Angeles Chargers em 2016, e filho de John Bosa, escolhido pelo Miami Dolphins, em 1987.

Trump causou variadas reações ao escrever a mensagem ao atleta no Twitter no último sábado: "Parabéns a Nick Bosa por ter sido o segundo escolhido no Draft da NFL. Você será um grande jogador pelos próximos anos, talvez um dos melhores. Grande talento! San Francisco irá abraçá-lo, mas o mais importante, sempre permanecer fiel a si mesmo". Ele finalizou o texto com o slogan de sua campanha presidencial.

O presidente americano recebeu diversas respostas questionando se não parabenizaria também o primeiro escolhido, Kyler Murray. Entre as críticas a Trump, estão acusações de racismo -- questão recorrente em sua carreira desde quando bancou um anúncios em diversos jornais de Nova York pedindo o retorno da pena de morte ao Estado para punição de cinco jovens negros e hispânicos acusados de estuprar uma corredora no Central Park, principal parque de Manhattan, em 1989. Os menores, no caso conhecido como Central Park Five, foram condenados injustamente e ficaram presos até o real culpado confessar o crime treze anos depois. A história foi recentemente transformada em série pela badalada diretora e ativista negra Ava DuVernay e estreará na Netflix no fim de maio.

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Ignorado por Trump, Murray também já teve um histórico polêmico no Twitter, com mensagens de teor homofóbico, utilizando o termo "queer" para zombar outras pessoas. No fim do ano passado, quando venceu o Troféu Heisman como melhor atleta universitário, ele se desculpou.

"Peço desculpas pelos tuítes que vieram à luz hoje de quando eu tinha 14 ou 15 anos. Eu fiz uma má escolha de palavras que não refletem quem eu sou ou o que eu acredito. E não tinha a intenção de ofender nenhum indivíduo ou grupo".

Nick Bosa foi o único branco entre as cinco primeiras escolhas do draft. Além dele e de Murray, o defensive tackle Quinnen Williams foi o terceiro escolhido, pelo New York Jets, o defensive end Clelin Ferrell o quarto, pelo Oakland Raiders, e o linebacker Devin White, o quinto, pelo Tampa Bay Buccaneers.

A próxima temporada da NFL será a 100ª da história e tem início marcado para o dia 5 de setembro.