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Contratos de Ronaldinho previam que Flamengo pagasse comissões de 20%, acima do mercado

Torcedores do Flamengo tiraram nome de Ronaldinho da camisa após o rompimento com o clube  - Reprodução de TV
Torcedores do Flamengo tiraram nome de Ronaldinho da camisa após o rompimento com o clube Imagem: Reprodução de TV

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

06/10/2012 06h00

Os contratos do Flamengo relacionados a Ronaldino previam comissões acima do mercado na venda de propriedades do clube e a cessão do programa sócio-torcedor por nove anos. É o que está descrito nos dois acordos entre o jogador , a Traffic e o clube, todos rompidos atualmente.

UOL Esporte obteve os documentos e mostrou que o compromisso entre o atleta e o time tinha um valor total de R$ 43,75 milhões, aumento salarial e cláusulas lesivas aos rubro-negros. A presidente Patrícia Amorim é quem assinou esses acordos, rescindidos pelo atleta em maio deste ano quando se transferiu para o Atlético-MG.

O contrato entre Flamengo e jogador firmado em 2012 também previa que se pagaria 20% de comissão sobre contratos de patrocínios da camisa e outras propriedades, que estariam relacionadas ao jogador. A prática de mercado é de 5% até no máximo 15% de intermediação por contratos. Em alguns casos, sequer existe a comissão.

“Acima de R$ 30 milhões líquidos/ano: após a subtração de comissão de 20% atribuível à eventual agência de publicidade, o saldo líquido será dividido entre as partes da seguinte forma: Flamengo 50% e atleta 50%”, diz o texto da cláusula 4.7 do contrato. Ou seja, antes de fechar negócio, o clube já previa pagar comissão.

Em outra parte do compromisso, fica estabelecido que o jogador e seu procurador vão ter direito a percentual de 20% sobre eventuais contratos feitos para o uso da imagem do jogador que eles conseguirem. Detalhe: o clube já pagava R$ 958 mil por mês pela imagem de Ronaldinho.

O contrato firmado com a Traffic em 2011 também estabelece comissões acima do mercado para esta. Mas, ressalte-se, a empresa pagava os salários do jogador.

Pelo compromisso assinado entre as três partes, a agência ficaria com 20% do ganho bruto da exploração da camisa do Flamengo que ultrapassasse R$ 30 milhões. Não foi obtido valor acima deste patamar.

Após essa comissão, o restante seria dividido com mais 20% do valor líquido para a Traffic, 30% para o Flamengo e 50% para o atleta. Em resumo, acima dos R$ 30 milhões, o clube ficaria com cerca de um quarto do valor da sua camisa. Isso não se concretizou porque a empresa não fechou nenhum parceiro para o time rubro-negro.

“A comissão, em geral, é combinada previamente. No caso do São Paulo, do patrocínio na camisa, não houve porque foi feito diretamente com o cliente. Quando se tem intermediação, a comissão varia de 5% a 15%”, observou o vice de marketing são-paulino Júlio Casares, falando sobre os patamares gerais do mercado.

Na negociação da camisa do Santos, também não houve pagamento a agenciamento. “Aqui combinamos sempre que é o valor líquido para o clube. Quem remunera a agência, se houver, é o patrocinador”, explicou o vice de marketing do Santos, Armênio Neto.

 No memorando de entendimento entre o Flamengo e a Traffic ainda se estabelecia que o programa de sócio-torcedor seria cedido à empresa por nove anos. Ou seja, começaria em 2011 e iria até cinco anos após o contrato de Ronaldo, que acabava no final de 2014.

Neste acordo, havia uma comissão ainda maior para a Traffic sobre as receitas do programa. A empresa ficaria com 20% sobre as rendas brutas até 2014. E ainda levaria  outros 20% sobre a receita líquida. Ou seja, sua comissão seria de 36%, mais de um terço do total. Esse percentual só cairia quando Ronaldinho saísse do clube, o que levaria o patamar para 15%.

Dificilmente, um clube de futebol assina contratos tão longos quanto nove anos. A parceria do Santos com a CSU relacionada ao seu programa, por exemplo, é de cinco anos. E é o clube quem faz a gestão do projeto.

O vice-presidente Jurídico do Flamengo, Rafael De Piro, não quis falar sobre os contratos relacionados a Ronaldinho feitos pelo clube. Alegou que os documentos estão sob sigilo de justiça no processo trabalhista movido por Ronaldinho.