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Atento aos puxa-sacos, R.Guedes faz promessa por título e cobra corintiano

Róger Guedes tem se apresentado como um dos destaques do Palmeiras no Brasileiro - Cesar Greco/Fotoarena
Róger Guedes tem se apresentado como um dos destaques do Palmeiras no Brasileiro Imagem: Cesar Greco/Fotoarena

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo (SP)

07/10/2016 06h00

Um garoto de apenas 20 anos, nascido na pequena Ibirubá – cidade de 20 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul -, convive diariamente com a pressão de defender um time com mais de 12 milhões de torcedores. Em poucos meses, o atacante Róger Guedes experimentou a empolgação, as críticas e a redenção no Palmeiras.

Novamente titular e importante, como no confronto da última segunda-feira contra o Santa Cruz, quando anotou o gol da vitória por 3 a 2, o camisa 23 recebeu o UOL Esporte na Academia de Futebol para uma conversa exclusiva sobre o atual momento.

A proposta da Europa no meio do ano, a amizade com o corintiano Gustavo – que deve um jantar ao palmeirense pela derrota no clássico recentemente disputado -, a parceria com Gabriel Jesus e Mina e a disputa pelo título do Campeonato Brasileiro são assuntos abordados no leve papo com o atacante, que se deleita com a boa fase.

Sobre a competição nacional, desde a chegada à Academia de Futebol, Róger Guedes mentalizou uma ideia a ser concretizada em caso de conquista da Série A.

Róger Guedes em treino - Cesar Greco/Fotoarena - Cesar Greco/Fotoarena
Imagem: Cesar Greco/Fotoarena

“Tenho a promessa de fazer uma tatuagem desde que cheguei aqui no Palmeiras. (...) É o campeonato mais difícil que tem. Se a gente conseguir este título, vou tatuar a taça se a gente levantá-la”, prometeu Róger, que perdeu as contas do número de tatuagens que possui na pele.

Confira na íntegra a entrevista com Róger Guedes:

UOL Esporte: Paternidade, vida em São Paulo e time grande. Tudo aconteceu muito rápido para você. Já caiu a ficha de tudo isso?
Róger Guedes: Agora já caiu sim. No começo, quando cheguei, não; isso de vir para um time tão grande quanto o Palmeiras, o maior time do Brasil, para mim. É muito bom estar vestindo esta camisa; a torcida sempre lota o estádio e isso foi bom para mim logo quando cheguei, já que estava inseguro com os jogadores 'de nome' que estavam aqui. A confiança do grupo me ajudou muito, do Cuca também, e isso me ajudou muito a me adaptar.

Esperava uma ascensão tão rápida no Palmeiras?
Claro que, quando eu vim, não esperava começar jogando. Achei que teria um pouquinho mais de adaptação; lógico que queria dar o meu melhor, sabia que poderia jogar aqui no Palmeiras se repetisse o que estava fazendo no Criciúma. Graças a Deus deu certo. Volto a repetir, a confiança que todo mundo deu e fui muito bem acolhido, isso facilitou.

Quem te ajuda a trabalhar a pressão de ser importante em um time grande tão cedo?
Sobre pressão, desde moleque eu encaro com tranquilidade o fato de jogar em estádio cheio; para a minha idade eu consigo lidar bem com isso. Sobre pressão e nervosismo, nunca senti e espero nunca sentir. Só aquele friozinho na barriga de estreia, mas isso para mim foi sempre tranquilo.

Acredito que chegaram muito ‘puxa-sacos’ com a tua ascensão ao Palmeiras. Você chegou a se empolgar demais pelo destaque tão repentino?
Em nenhum momento eu me empolguei; sou um garoto que tem a cabeça no lugar e sabe o que é o certo e o errado. [Sobre os puxa-sacos] Sempre acontece quando você está bem, gente que vem e te abraça, mas que vira as costas quando você joga um jogo mal; nessa hora que você vê quem é o verdadeiro amigo. Isso é normal, consigo lidar muito bem com isso, junto com a minha família e a minha esposa.

Você recebeu elogios de publicações espanholas, em meio às negociações do Jesus. Como lidou até com os elogios do Barcelona?
Depois do jogo contra o América-MG [primeiro turno], fiquei sabendo disso e é lógico que a gente fica muito feliz e até tive um contato sobre isso. Meu pensamento é só no Palmeiras, devo muito ao Palmeiras por ter me contratado e estou muito feliz.

Contato? Como assim?
Conversa normal depois do jogo, de boatos. Não diretamente da minha pessoa com o Barcelona. Como falei, fiquei muito feliz, isso é normal. Qual pessoa que não quer jogar lá fora em um time grande da Europa? Isso deixa a gente feliz, mas nada que suba para a cabeça.

A proposta do futebol europeu te balançou? Você pensou em pedir ao Palmeiras para aceita-la? O que fez você ficar?
Não fiquei balançado. Fiquei sabendo da proposta, mas não chegou a mim também. Foi mais o Palmeiras com o clube. Várias pessoas falaram que as osciladas que eu dei em alguns jogos eram por causa da proposta, que não queria jogar, mas isso não. Estou feliz no Palmeiras. Quando for para sair, eu vou sair.

Você passou por um jejum de três meses sem marcar gols. Como foi lidar com isso? Quem te ajudou mais neste momento?
Me cobrava bastante em casa. Queria fazer gol para o meu filho, minha família. Minha esposa sempre falava: ‘não fica pensando nisso’. Os jogadores também falavam para eu não pensar; sempre dizem para eu ficar calmo que uma hora ia sair. Espero que agora tenha ‘aberto a porteira’ para sair vários gols até o final do campeonato.

Mina e Guedes - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Mina e Guedes se aproximaram no Palmeiras
Imagem: Reprodução/Instagram

Parceria com o Mina nasceu rápido. Ele é esta figura mesmo? O que fez vocês se aproximarem tão rápido?
Ele vive dançando aquelas músicas loucas lá! Toda hora fica dançando. Ele sempre convida eu e o Gabriel Jesus para dançar; nós vamos aprendendo aos poucos. É muito difícil dançar, não é nem dança: aquilo é uma loucura para a gente! Ele também quer que a gente ensine passinhos de funk para ele, mas é mais com o Gabriel Jesus.

Rola até ensaio na concentração?
Neste último jogo contra o Coritiba, acabamos dançando na concentração. Fazia tempo que ele pedia para, caso um de nós três fizesse um gol, para fazer a dancinha. Se ele estivesse neste jogo [Santa Cruz], a gente faria a dancinha também. Espero que no próximo jogo a gente faça a dancinha que ensaiamos.

Aproximaram rápido?
Foi desde o dia que ele chegou. Ele é jovem também, tem uns 21, 22 anos, isso ajuda bastante. A galera sempre se enturma com os mais novos, foi assim comigo quando cheguei em relação ao Gabriel Jesus; temos uma parceria muito boa. Quando ele chegou, o Mina me deu um doce lá de fora para mim e os meus pais. A conversa de vestiário ajudou também.

Lembra qual foi este doce?
Era um doce de leite. Até no dia que teve a entrevista dele aí [Esporte Fantástico, da Record, levou um carrinho de arepas, uma espécie de pão típico da Colômbia], comemos também. Era muito bom, doce para caramba.

Gabriel é outro parceiro teu no elenco. Vi que o funk aproximou vocês. É o tempo todo ouvindo este ritmo na concentração?
No vestiário também deixamos a caixinha de som do Fabrício. Escutamos de tudo: funk, pagode, sertanejo; toca de tudo ali. Tem até rap, já que o Zé Roberto gosta muito de rap.

Funk preferido da dupla?
Não tem nenhum preferido [risos]. A maioria dos vídeos que tem, a gente coloca ‘Os moleque é liso’ [MC Rodolfinho], mas escutamos todos os tipos e vários MCs.

Você é vidente? Sua adivinhação dos gols até virou reportagem. De onde nasceu isso?
Isso sempre falo que é do momento. Começou no meu primeiro jogo como profissional lá no Criciúma, contra o Flamengo. Levanto os braços bem antes, quando acerto o passe para o Cléber Santana e sai o gol. Foi o gol que levantei mais antes [as mãos]. Aqui no meu primeiro jogo, contra o São Bernardo, dei o passe para o Gabriel [Jesus] e levantei o braço. Nem sinto isso. Acho que levanto o braço para dar sorte, para vibrar. Tem torcedores que falam que dá azar comemorar o gol antes, mas estou mostrando que não dá azar não [risos].

Adivinhar os gols é fácil. Quero ver se já dá para adivinhar quem será o campeão brasileiro...                      
Palmeiras, claro! Estamos no caminho certo; daqui para frente será mais difícil ainda. Teremos dez finais pela frente, espero que a gente vença e levante a taça.

Róger Guedes família - Cesar Greco/Ag. Palmeiras - Cesar Greco/Ag. Palmeiras
'Família': Róger Guedes registrou a palavra no pescoço
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

Tem promessa pelo título?

Tenho a promessa de fazer uma tatuagem desde que cheguei aqui no Palmeiras. Meu objetivo aqui é ganhar títulos. Fomos para a semifinal do Paulista, mas perdemos nos pênaltis; ia ficar muito feliz se chegasse do Criciúma e conquistasse um título logo de cara. Agora temos a chance no Campeonato Brasileiro. Estávamos conversando outro dia: temos apenas três jogadores que foram campeões [Egídio, Edu Dracena e Jean]. É o campeonato mais difícil que tem. Se a gente conseguir este título, vou tatuar a taça se a gente levantá-la.

Quantas tatuagens você tem? Qual a preferida?
Não faço conta, perdi já [risos]. Preferida não, fiz a primeira para os meus pais, depois a Nossa Senhora Aparecida, depois Jesus Cristo...foi indo. Tenho uma homenagem ao meu filho no peito, na perna. Aos poucos fui fazendo, sempre com menções religiosas. Tem uma que fiz que meu pai não gosta muito...[risos]

Qual?
É uma de arminha [duas armas cruzadas]; ele não gosta muito, mas não tem significado nenhum.

Braço Róger GUedes - Cesar Greco/Ag, Palmeiras - Cesar Greco/Ag, Palmeiras
N.S. Aparecida é uma das preferidas
Imagem: Cesar Greco/Ag, Palmeiras

Criciúma, clube do qual você veio para o Palmeiras, virou um celeiro de jogadores. Lucca e Gustavo, por exemplo, defendem o Corinthians. Ainda mantém contato com eles?
Eu e o Gustavo, principalmente. A gente já marcou: ele está me devendo um jantar pelo clássico, já que ele perdeu [Palmeiras venceu por 2 a 0, em Itaquera]. Precisamos marcar o dia, já que ele mora um pouquinho longe e nunca batem os horários dos treinamentos. A gente mantém o contato, e com o Lucca também. Joguei quase o ano passado inteiro com o Lucca no Criciúma. Com o Gustavo tenho mais afinidade, somos mais garotos. Vou levar para a vida inteira.

Gustavo tem passado por uma fase ruim desde que chegou e ainda não marcou nenhum gol. Algum conselho?
Isso é difícil. Quando cheguei aqui, no meu terceiro jogo fiz gol. No Criciúma também. Ele tem que ter calma, ainda mais por ser centroavante, que fica mais ansioso e preocupado para fazer gol. Ele veio contratado pelo Corinthians por fazer 10, 11 gols na Série B. Na hora certa irá sair o gol dele. Não tem essa de torcer contra porque ele joga no Corinthians, isso nunca vai existir. Espero que faça logo, mas que não seja contra a gente.

E tem já aposta pelo campeonato com o Gustavo? Se o Palmeiras for campeão, ele vai ter que te pagar algo?
Sobre isso aí a gente não conversou, mas vamos ver com ele se aceita essa proposta. Acho difícil ele aceitar, já que perdeu uma e vai ter que pagar. Tem que pagar essa primeira, temos que marcar um horário, mas está demorando...[risos]