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"Não sabia se seria pagodeiro, jogador ou bailarino", diz pai de Deyverson

Alan Kardec Palmeiras - Vinicius Pereira/Folhapress - Vinicius Pereira/Folhapress
Alan Kardec, amigo de Deyverson há anos, em ação com a camisa do Palmeiras
Imagem: Vinicius Pereira/Folhapress

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/07/2017 04h00

Precisou uma “chamada” dos pais para Deyverson Brum Silva Acosta iniciar a vida adulta focado no sonho de vencer no futebol. Hoje tratado como badalado reforço do Palmeiras, o atacante por pouco não abdicou realmente dos gramados para iniciar uma carreira na música. Antes de se firmar como jogador, o sonho dele era se arriscar no pagode romântico consagrado por artistas como Belo.

O cantor, por sinal, virou inspiração para o jogador até na apresentação oficial, ocorrida na tarde da última segunda-feira, quando cantou uma música do ex-vocalista do Soweto. Quem influenciou na decisão pelas chuteiras foram os pais. Quem conta é Carlos Roberto Silva, o pai do agora atacante palmeirense e protagonista de um abraço emocionado com o novo camisa 16 do time, em meio às perguntas dos jornalistas.

“Ele tinha crise de identidade. Não sabia se era pagodeiro, cantor ou jogador, ou até bailarino, porque ele dança. Forte dele é dança. Tem um talento. (...) Dei uma travada no Deyverson, porque ele tinha que definir a vida dele por estar chegando, na época, na vida adulta”, contou o pai do jogador.

Esta “chamada” serviu para afastar Deyverson das "tentações" da música. Na Associação Esportiva Social e Cultural Mamaô, clube do bairro Santa Margarida, no Rio de Janeiro, onde o jogador cresceu, as festas constantes criaram uma persistente dúvida no então adolescente.

“Meu bairro é muito festivo, tem muito pagode; é muita festa. Quem bebe da água de Santa Margarida não quer sair de lá. É muito pagodeiro, muito show na associação. Aí ele queria ir para o lado do pagode; ainda pagode romântico, como o Belo. Ele não canta nada, mas, enfim [risos]”, relembrou Carlão.

“Ele ainda vendia salgado lá, mas era ruim de serviço. Comia mais do que vendia. Quando ia receber, já tinha quitado tudo por comer cinco, seis salgados. Era o dia de pagamento dele”, afirmou Carlão, que condicionou o apoio ao filho somente após Deyverson rumar definitivamente para o futebol.

“Ele me disse: ‘pai, vou voltar a jogar’. Eu respondi: ‘se voltar, eu te apoio, mas não fica nesta de sair do clube e de ‘quero ser cantor, dançarino’. Com esta dura, ele melhorou e voltou para o Grêmio Mangaratibense. Os caras comiam cebola com farinha lá, às vezes nem comiam; era café sem açúcar. Foi perrengue”, recorda-se.

A “rédea curta” dos pais, com a maioridade, afrouxou. Os conselhos, no entanto, ainda são diários. Agora em um clube grande do país, o deslumbramento é o que mais preocupa.

“Ele é tranquilo. Não é de balada, dorme cedo, se cuida. Estou sempre do lado dele ou a mãe, né? Sempre o acompanhamos, porque sabemos como é o mundo do futebol, o mundo em si. A gente aconselha para aproveitar, conversamos. A última decisão é dele, não compete ficar puxando a orelha dele. Ficamos em cima alertando para os perigos da vida, do glamour. Tem de ter cuidado”, recomenda.

Amizade com Alan Kardec e coração vascaíno

Deyverson já sabe em quem pode se inspirar com a camisa do Palmeiras. Em Portugal, onde defendeu o time B do Benfica, o atacante criou uma relação de proximidade com Alan Kardec, atleta com passagem pela Academia de Futebol entre 2013 e 2014.

O novo reforço do Palmeiras morou na casa de Kardec, que defendeu o time principal do Benfica entre 2010 e 2011 e depois 2012 e 2013. Neste último período, quando defendeu a equipe B, Kardec se aproximou de Deyverson e criou uma amizade que perdura até hoje.

“Alan é amigo de frequentar a casa um do outro. Com certeza, eles devem ter tido alguma ‘resenha’ sobre esta vinda para o Palmeiras”, afirmou Carlos, ainda descrente na badalação recente na carreira do filho.

“Ainda estou aprendendo. Deixamos tudo na mão do empresário, até para não criar expectativa. Tinha uma opinião, mas não prevaleceu a minha, prevaleceu a dele de querer um dia vestir a camisa da seleção. Ele estar aqui é um dos maiores sonhos da vida, em um time com tanta história”

“Nem ele acreditou, a ficha ainda está caindo. Domingo já estava roendo as unhas. Agora o meu coração fica dividido; meu coração está enorme: um pouquinho Benfica, um pouquinho Levante, um pouquinho Palmeiras, e vascaíno também. Nem tudo é perfeito”, encerrou o orgulhoso pai.