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Líder do "Big Brother da Ponte", Abel revê um de seus amores

Abel volta ao Estádio Moisés Lucarelli, casa da Ponte Preta - Lucas Merçon/Fluminense
Abel volta ao Estádio Moisés Lucarelli, casa da Ponte Preta Imagem: Lucas Merçon/Fluminense

Leo Burlá e Marcello De Vico

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

09/08/2017 04h00

Homem de muitos títulos, o técnico Abel Braga guarda com carinho uma conquista que não valeu taça, mas tem um significado gigantesco em sua caminhada vitoriosa como treinador.

O ano era 2003, a cidade, Campinas. No comando da Ponte Preta, Abel realizou um trabalho que ele mesmo qualifica como um dos mais memoráveis ao longo destes anos. Nesta quarta, às 20h, Abel, hoje à frente do Fluminense, reencontra a Ponte e revisita sua própria história no Moisés Lucarelli, em partida adiada por conta da morte de João Pedro Braga, filho do comandante.

Naquela temporada, o clube convivia com oito meses de salários atrasados, e ele teve de ser um líder em campo, mas também um pai fora dele. Não foram poucas as vezes em que socorreu os que ganhavam menos e pagou seus salários do próprio bolso. Em certa ocasião, antecipou a concentração de oito juniores para garantir que eles tivessem o que comer no café e no almoço.

A missão de livrar a Macaca da Série B era dada como impossível para muitos, mas Abel não desistiu e alcançou a missão. Naquele momento, seguir o trabalho no Alvinegro não foi opção para  nada menos que 21 jogadores, que abandonaram o barco por falta de pagamento e promessas que nunca foram cumpridas.

"Tem uma história muito legal. Na época os caras falavam na televisão que tinha o Big Brother da Ponte Preta, porque cada dia ia um ou dois embora. Como eu era dos mais velhos, o Abel conversava comigo e falava para mim: “Pô, Piá, está indo todo mundo embora. Só vamos ficar os dois”. Aí o Abel se reuniu com a gente e falou para todo mundo: “Olha, gente, não tem como eu segurar, quem quiser ir embora, pode ir, só que eu estou assumindo a responsabilidade de que eu vou até o final. Independentemente de pagarem ou não, eu não vou sair. Então, quem quiser ir, pode ir”, relembrou Piá, camisa 10 e capitão daquele time.

A campanha histórica fez com que a Ponte virasse um dos "clubes do coração" do técnico. Sempre que perguntado, ele diz que torce por Fluminense, Internacional e pela "Macaca Querida", como o próprio fala. E quem participou daquela trajetória heroica também guarda com carinho as lembranças de tempos difíceis, mas gratificantes.

"Assim que ele chegou ao clube, ele disse que a disputa para o gol estava entre o Hiram e o Alexandre, e que a questão seria resolvida pelo preparador de goleiros. O Alexandre foi uma época para a seleção olímpica, tive uma sequência de nove jogos e fui bem. Veio aquele jogo contra o Flamengo e fiz o gol de empate [de cabeça] nos acréscimos. Depois daquele lance ele veio correndo, me abraçou e falou: "Isso é um sinal divino, você não sai mais do time", recordou o goleiro Lauro.

Lembranças e sentimentos à parte, o técnico sabe que o Fluminense precisa de uma vitória para colar na Zona de Libertadores. Ao menos por 90 minutos, o coração de Abel não baterá pela Macaca.