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Coach, Rene ajuda a moldar mente de Carille e dá conselho pós 1ª derrota

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

22/08/2017 04h00

A breve passagem de quatro partidas pelo Macaé-RJ foi provavelmente a última da carreira de Rene Simões como treinador. Desde fevereiro, ele se dedica exclusivamente ao trabalho de coaching e orienta, em especial, técnicos como ele. Rene, por um conceito de respeito a privacidade também muito comum a psicólogos, normalmente não diz quais são seus clientes. Mas, como o próprio Fábio Carille já revelou a parceria entre eles ao jornal "Lance!" há alguns meses, Simões topou atender o UOL Esporte.

Nesta entrevista, o responsável por levar a Jamaica à Copa do Mundo de 1998, entre outros momentos importantes como a conquista da Série B 2007 pelo Coritiba, explica o trabalho com Carille. Nada entre eles diz respeito às quatro linhas, mas simplesmente tudo que está ao redor delas e, sobretudo, a afirmação de convicções. Com o experiente Rene Simões ao lado, o treinador corintiano tem aliado importante para seguir à frente do Brasileirão e superar, por exemplo, a primeira derrota na competição sofrida no último sábado.

Confira os melhores trechos da entrevista com Rene Simões:

O QUE FAZ RENE SIMÕES COM OS TREINADORES
Atuo na formação profissional deles. Por exemplo, os mais novos tendem a achar que os bons resultados fazem eles serem bons. Isso não é a realidade. Por eles serem bons, os bons resultados aparecem. Como os jovens no Brasil não podem achar que são bons, pois isso é pedantismo ou excesso de confiança, tenho que ajudar e lembra-los de suas qualidades. Os mais antigos sabem disso, mas às vezes se esquecem. Uma mentira dita tantas vezes se torna verdade.

O TRABALHO COM CARILLE
Ele fez um estágio comigo em 2007 quando eu dirigia o Coritiba. Segundo ele narra, ficou muito impressionado com o que viu de treinamentos, da condução e da forma como fiz o trabalho com ele. O respeito e o conhecimento dele começaram daí. A ideia de trabalhar com ele começou esse ano, com a minha decisão de sair do campo.

NA PRÁTICA, QUAL É O TRABALHO?
Atuo na psicologia positiva. Troco o FARM (foco, ação, resultados e melhoria contínua) pelo PERMA (emoções positivas, engajamento, relações positivas, significado, resultados e conquistas). O PERMA preconiza que os envolvidos sejam felizes com o que fazem e não tenham somente o resultado como objetivo. E possível lutar por ele e ser feliz ao conseguir o resultado.

CARILLE EM 2022
Minha preocupação é como ele estará em cinco anos. Meu trabalho é para solidificar convicções, e ele vai muito bem, sempre muito tranquilo e ouve bastante nesse aspecto. Então, o nosso contato é diário. Mando mensagens diárias, ligo para ele ou ele me liga. Quando vou a São Paulo nós jantamos, então só fui ao Corinthians uma ou duas vezes. Eu não ia muito porque ficava com medo de tornar público esse trabalho e evitava. Ele vai ser um dos maiores do Brasil.

Nota da Redação.: O próprio Carille contou, ao jornal "Lance!", que tinha Rene como coach. Até então, o agora ex-treinador trabalhava de maneira confidencial. 

RENE VÊ TITE EM CARILLE
Ele tem uma liderança muito legal, muito positiva com o grupo e ter isso não é fácil. O Fábio aprendeu muito com o Tite, que foi um belíssimo professor. Trabalhou também com outros: tem o Adílson (Batista) como um camarada dentro de campo muito bom, tem o Mano como alguém bom em dar treinamentos. O Oswaldo de Oliveira trabalhou com ele. Então, teve bons professores.

COMO LIDAR COM A PRIMEIRA DERROTA
Eu converso com ele e, olha, vejo como tudo muito tranquilo. Tenho um ditado de quando enfrentei o Tite. Eu estava no Coritiba, disputamos a semifinal da Copa do Brasil (2009) e o time estava invicto havia muito tempo, mas o Inter ganhou por 3 a 1. Digo que quando mais se ganha, mais perto está de perder. Não existe time imbatível e isso é estatístico. Quanto mais ganha, mais perto da derrota está. Mas algumas coisas boas aconteceram, porque o Vitória não é concorrente direto, não era jogo de seis pontos, e os principais times de cima perderam pontos na rodada.

A DECISÃO DE PENDURAR A PRANCHETA
Já venho desde os 60 anos (hoje tem 64 anos) me preparando para isso, porque ou você deixa o futebol uma hora ou o futebol te deixa. Resolvi que ia começar a estudar. Tenho restaurantes, uma rede pequenininha, então fiz o curso Empretec (do Sebrae) e aí fui melhorar um pouco o nível de gerenciamento e de governança na empresa. Mas entendi que eu deveria estar no futebol. Fui fazer coaching e me encantei com a teoria do positive coaching e resolvi criar uma linha de trabalho. No boca a boca, já são quatro treinadores aqui e um na Jamaica, além de trabalho com outros coachs e palestras.

NR.: O site de Rene Simões é o Mais Palestras.