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Aos 108 anos, Coritiba vive crise política e de identidade

Vovô Coxa faz 108: clube discute o futuro em meio à má fase no Brasileirão - Comunicação CFC
Vovô Coxa faz 108: clube discute o futuro em meio à má fase no Brasileirão Imagem: Comunicação CFC

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

12/10/2017 04h00

Dono de uma torcida apaixonada, campeão brasileiro e uma das equipes mais tradicionais do futebol nacional, o Coritiba chega aos 108 anos neste dia 12 em meio a uma crise mais profunda do que a tabela do Brasileirão mostra. Foi de um de seus maiores ídolos, o meia Alex, a definição: “O Atlético tem futuro (...), não vejo acontecer com o Coritiba”, disse, em uma sabatina com fãs nessa semana, durante o lançamento de uma revista.

Alex deu um retrato da maior discussão interna no Coxa na semana em que comemora mais um ano de fundação: o que esperar do futuro do clube? Com eleições em dezembro e uma diretoria desacreditada, a preocupação mais imediata é com o futebol e a manutenção da vaga na Série A. Nos bastidores, a política toma conta. A situação não lançará chapa, informam seus vice-presidentes, tampouco tentará reeleger Rogério Bacellar; não há uma oposição clara, mas sim duas correntes que pretendem sair com chapas: a “Ala Jovem”, que estuda lançar o presidente licenciado do conselho, o doutor em Direito e professor da UFPR Samir Namur, e uma outra capitaneada pelo médico João Carlos Vialle, que foi diretor de futebol do clube em algumas ocasiões, a última na Série B de 2007. Ninguém quer o apoio de Bacellar.

Bacellar Coritiba - Comunicação CFC - Comunicação CFC
O presidente Rogério Bacellar: desgaste no comando do Coxa
Imagem: Comunicação CFC

Na pauta, um choque de ideias. Enquanto a atual diretoria ainda planeja apresentar um projeto para um novo estádio para o clube, num projeto pessoal do vice-presidente Alceni Guerra, as correntes que pretendem assumir a presidência não querem discutir a ideia. Guerra citou o “atraso em relação ao Atlético” para tentar convencer seus pares, e apresentou uma ideia de captar fundos no exterior para uma obra com “auto-gestão”, sem a entrada de uma construtora; encontrou pouco eco no clube. Nos bastidores, as duas correntes que demonstram interesse na gestão do Coritiba preferem descartar o projeto de um novo estádio, que já virou chacota entre os torcedores, desacreditados.

Sem candidatos claros – Vialle ensaiou lançar sua chapa essa semana, mas ainda carece reunir assinaturas para confirmar o mínimo de inscritos – o Coritiba ainda convive com diretores separados em ideias e no comando do clube. Bacellar passa a maior parte do tempo em Brasília, cuidando de negócios pessoais; seu homem de confiança, o executivo Fernando Cabral, esteve denunciado por se envolver em uma obscura negociação com o futebol chinês; o futebol está nas mãos de Ernesto Pedroso, que não tem cargo oficial no clube atualmente, e trabalha ao lado do profissional contratado Alex Brasil; nas finanças, Gilberto Griebeler dá as cartas, dentro de uma apertada realidade financeira. E Guerra tem Juliano Belletti em sua alçada, na busca por novos negócios, mas com prazo definido para se realizarem, sob pena de não terem sequência.

No jantar comemorativo realizado na última segunda-feira (09), as diferenças entre as correntes no clube puderam ser sentidas. Guerra e Bacellar dividiram mesa, mas Griebeler preferiu sentar-se em outro lugar. Um clima de apreensão tomou conta da festa, que teve cerca de 200 presentes e foi pouco divulgada pelo clube. Para fechar, a torcida se revoltou com a execução do tema de parabéns cantado por Xuxa durante o corte do bolo, uma referência ao apelido pejorativo dado a torcedores coxas-brancas pelos rivais nas redes sociais, “paquitas”. O apresentador da cerimônia identificou a gafe e cortou a música, mas não antes que torcedores se revoltassem com o descuido e promovessem uma “caça” ao organizador da festa.

Kléber Gladiador - Comunicação CFC - Comunicação CFC
Kléber de volta aos treinos: jogador atuou em apenas 11 jogos no Brasileirão
Imagem: Comunicação CFC

Em meio a esse quadro, a equipe tenta sobreviver no Brasileirão. Sem Kléber por quase todo o campeonato e com poucas atuações de Anderson, Marcelo Oliveira tem tentado dar cara a uma equipe que começou bem, mas se complicou no campeonato e ocupa a vice-lanterna, sem vencer já há 8 jogos. Ele segue prestigiado, mas terá outra pedreira pela frente: o Grêmio, domingo, 19h no Couto Pereira.