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Revelação na mira do Arsenal teve de ser adotado para jogar no Paraná Clube

Jhonny Lucas no profissional do Paraná: adoção para jogar no clube e Arsenal no caminho - Assessoria de imprensa Jhonny Lucas
Jhonny Lucas no profissional do Paraná: adoção para jogar no clube e Arsenal no caminho Imagem: Assessoria de imprensa Jhonny Lucas

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

04/05/2018 11h08

Jhonny Lucas fez o primeiro gol do Paraná Clube na Série A após 10 anos de ausência – o último havia sido do zagueiro Paulo Rodrigues, na derrota por 3 a 2 para o Santos, na penúltima rodada de 2007. O momento não foi o melhor para celebrar. A equipe perdeu para o Sport por 2 a 1 em casa. O time ocupa a lanterna, após três jogos. Mas nada disso é uma dificuldade real para Jhonny Lucas, meia de 18 anos, que chamou a atenção do Arsenal e foi convocado para a Seleção Brasileira Sub-20 pelo técnico Carlos Amadeu.

Jhonny nasceu em uma família pobre e perdeu o pai com um ano de idade – um roteiro relativamente comum no futebol brasileiro. Ganhou uma chance de entrar no futsal do Paraná ainda criança, desde os 6 anos. Mas, para jogar no clube, precisava ser filho de sócio. “Aí o diretor do futsal perguntou se ele poderia ser colocado como dependente no meu título. Aí eu topei, o tempo passou, a mãe dele não tinha condições. Acabei ficando de responsável dele. Ele vai na casa da mãe dele. Ele entrou pra nossa família, vive comigo desde os 6, 7 anos”, contou Mario Vieira, o Mazola, que é reconhecido por Jhonny como pai.

Jhonny Lucas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jhonny Lucas e a família adotiva
Imagem: Arquivo pessoal

Não houve adoção legal. A mãe de Jhonny, Clarice, é viva e mora numa comunidade pobre em Curitiba. Mazola se tornou responsável legal pelo garoto. “Eu não quis até por ele ter mãe. Eu peguei um papel de responsabilidade civil. Mudei ele de escola, puxei do bairro até o centro. A partir de 11 anos mudou a grade de treinos e da escola, aí não tinha mesmo como ir pra casa mais. Foi ficando mais difícil e ele passou a morar em definitivo com a gente”, relatou Mazola.

Jhonny tem outros quatro irmãos, três deles “do coração”, como ele mesmo fala – como Tatá, filho biológico de Mazola e que também tenta a carreira de jogador. O garoto demonstra gratidão ao pai, mas não esqueceu a mãe biológica. “É um cara que me ajudou muito, sempre do meu lado, faz tudo por mim”, disse, para contar que está comprando uma casa melhor para a mãe e que vê o futebol como a saída para uma vida melhor: “(Meu futuro) Jogando bastante, uma vida financeira mito boa, poder ajudar a família. Jogar não importa aonde.”

Proposta do Atlético-MG, monitoramento do Arsenal e impasse com a Seleção

Jhonny foi convocado para um período de treinos com a Seleção Sub-20, mas o Paraná Clube pediu sua dispensa – não confirmada até o fechamento desta reportagem. O clube entende que precisa dele em campo para ajudar na reação no Brasileirão. Ele ficaria fora dos jogos contra Chapecoense e Santos, apenas para treinar com o grupo. Um impasse que se dá por conta da importância que o Tricolor vê no garoto. Tanto que recusou uma proposta do Atlético-MG pelo jogador. “Fico feliz pelo reconhecimento, mas teve a opção de não aceitarem. Eu só penso em jogar, deixo essas coisas extracampo com o meu pai, com a diretoria”, disse.

Jhonny Lucas futsal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jhonny Lucas no futsal do Paraná
Imagem: Arquivo pessoal

O Paraná vê em Jhonny uma chance de recuperar bem o caixa. A sondagem do Arsenal rendeu uma carta de intenções à diretoria, num valor estimado de 12 milhões de euros. O negócio, segundo o pai, está num estágio embrionário. Outros clubes foram citados por ele, como o Monaco e o Shahktar Donetsk. Mazola diz que o plano é fazer com que Jhonny deixe um legado financeiro ao Paraná. “Ele é paranista de deixar de ir no cinema com os irmãos depois do jogo porque estava triste. Nenhum (jogador) teve uma grande venda na história do clube. Thiago Neves, Ricardinho, nenhum”, projetou.

O menino ainda curte os primeiros momentos como profissional. “Pra mim é a realização de um sonho, estou muito feliz. Jogar na Capanema, fazer um gol, satisfatório demais. A fase do time é... como posso dizer, vai passar. A gente tem um bom trabalho com o (técnico Rogério Micale) e tem certeza que vai sair dessa.

Formação na base e ajuda de atual opositor da diretoria

Do futsal à base, e agora no profissional, Jhonny tem 12 anos de Paraná Clube. Atuando como segundo volante, tem feito gols desde a formação. “Me adaptei bem, sempre entrando na área pra sobrar uma bolinha e fazer um gol.” Com Micale, trabalha com um técnico que conhece os caminhos das seleções de base. “Ele conversa bastante comigo, às vezes não consigo assimilar muito as coisas. Ele tenta passar essa experiência com a base pra me ajudar a ir o mais rápido possível.”

O contrato dele com o Tricolor é até dezembro de 2021, foi prorrogado em março deste ano. O Paraná afirma ter 100% dos direitos do jogador. Um personagem de destaque na política recente do Paraná, o empresário Carlos Werner, fez parte da formação do jogador e chegou a emprestar dinheiro à família.

“O Carlos Werner teve uma responsabilidade na volta do Jhonny. Eles foram dispensados do Paraná por que não queriam mais seguir no futsal. E quando apertou a situação ele emprestou um dinheiro. Mas ficou uma amizade, não um compromisso. Ninguém tem nada”, relatou o pai, corroborando a versão do clube. Werner foi investidor no Paraná e é um dos credores do clube na Justiça. Ele apoiou a entrada da atual gestão, de Leonardo Oliveira, mas um rompimento no final de 2017 o colocou como opositor, em ano eleitoral, o que faz o clube viver uma ebulição política.