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Laços afetivos x meta profissional: Adilson Batista encara o Atlético-PR

Adilson Batista (à esquerda, no fundo) com os garotos do Atlético na década de 80, dirigido por Levir Culpi - Arquivo pessoal
Adilson Batista (à esquerda, no fundo) com os garotos do Atlético na década de 80, dirigido por Levir Culpi Imagem: Arquivo pessoal

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

06/10/2018 04h00

Adilson Batista é técnico do América-MG. E, nunca escondeu de ninguém, é também torcedor do Atlético-PR, clube que o revelou para o futebol. Neste sábado, 16h na Arena da Baixada, ambos vão se enfrentar buscando distância da zona de rebaixamento e ainda um último suspiro para ficar perto do G-6, torcendo por vagas extras na Libertadores. Em choque, uma paixão muito viva em Adilson, que esteve afastado do futebol por três anos até a chance no América, contra o objetivo mais imediato do Coelho: se manter na Série A.

A história entre Adilson Batista e o Furacão é rica em detalhes, alegria e sofrimento. Ainda menino, Adilson chegou à um Atlético completamente diferente em 1988, há 30 anos. Um clube que vivia os últimos anos no Pinheirão e, mesmo em uma década positiva, com semifinal de Brasileiro e cinco títulos estaduais, temia pelo futuro, imerso em dívidas.

“Sou muito grato ao Atlético por abrir as portas quando vim de Adrianópolis (cidade na Região Metropolitana de Curitiba, quase divisa com o Estado de São Paulo). Tenho um carinho enorme, um amor mesmo, gratidão, por me abrir as portas, gostar do clube”, contou em entrevista recente ao UOL Esporte. Ele citou o histórico dirigente Valmor Zimmermann como responsável por leva-lo para atuar no clube, que mudou muito de lá para cá: “A gente vê o Atlético hoje e até se emociona. Era “baixadinha”, jogar no Pinheirão... hoje eu vejo com orgulho, toda a estrutura.”

Adilson CAP - Tábata Viapiana - Tábata Viapiana
Adilson Batista de folga, curtindo o Furacão na Arena da Baixada
Imagem: Tábata Viapiana

Já treinador, Adilson teve uma chance de dirigir o Atlético, em 2011. Acabou em desastre para ambos: após cinco derrotas nos seis primeiros jogos no Brasileirão, com apenas um ponto somado em 18 disputados, Adilson pediu demissão. “É um momento difícil e, pelo bem do clube, estou deixando o Atlético. Errar, todos erramos. Tenho minha parcela e assumo. Eu decidi de coração e é melhor para o Atlético", disse à época, em registro nos jornais. Ele saiu e o Atlético não se recuperou a tempo de evitar a queda.

“Naquela época foi feita uma coisa que, pra mim, foi maldosa com o Geninho (ex-técnico do Furacão), que foi demitido com percentual de aproveitamento muito bom. Mas o sonho era o Adilson. Sempre foi um sonho de consumo do Atlético, por que foi um jogador formado, que sempre se identificou como torcedor” relembrou o então diretor de futebol Ocimar Bolicenho, hoje no Londrina. Ele próprio deixou o clube antes mesmo de Adilson Batista sair, descontente com as mudanças.

Adilson procurou seguir a carreira, mas demorou a voltar a ter destaque, como consegue hoje no Coelho. Em 2013, os caminhos voltaram a se cruzar com os do Furacão. Era a última rodada do Brasileiro e ele treinava o Vasco, que precisava vencer o Atlético e ainda torcer para evitar o rebaixamento. O jogo acabou 5 a 1 para o Furacão, com rebaixamento vascaíno e briga nas arquibancadas da Arena Joinville, onde o time paranaense mandou o jogo. Mas, para Adilson, uma dor muito pior ainda estava por chegar.

“Minha mãe morreu e eu estava no Vasco, bem no dia de Vasco x Atlético, aquela tragédia em Joinville. Fui pra casa visitar a mãe, ela estava meio pálida, eu a levei no hospital. Ela estava com embolia pulmonar e não resistiu”, contou. Depois, uma passagem sem sucesso pelo Joinville iniciou o ciclo longe do trabalho, encerrado agora com o América-MG.

Neste intervalo, Adilson fez curso de técnico, viajou para conhecer clubes na Europa, Argentina e Uruguai. Mas, quando estava em casa, em Curitiba – onde estão as filhas e a esposa – era figura carimbada nas arquibancadas da Arena da Baixada. Neste ano, vibrou como qualquer torcedor comum faria ao derrotar o Coritiba na final do Estadual. A diferença é que, bem relacionado com a diretoria atleticana, teve a chance de ir aos vestiários cumprimentar o adversário deste sábado, Tiago Nunes, técnico do time Sub-23 que levantou o título profissional no Paranaense.

“Eu até falei pro Tiago que eu tinha até chorado no título dos meninos. Falei, ‘fiquei muito feliz, passa um filme', a gente foi campeão em 1988 com um time jovem”, contou Adílson, que é sócio do clube, com três cadeiras na Arena. Neste sábado, elas estarão ocupadas pelos familiares, que deixarão o coração dividido entre a paixão e o sucesso profissional do treinador do América.

FICHA TÉCNICA

ATLÉTICO-PR X AMÉRICA-MG

Local: Arena da Baixada, em Curitiba (PR)
Motivo: 28ª rodada do Campeonato Brasileiro
Data: Sábado, 06 de outubro de 2018
Horário: 16h (de Brasília)
Árbitro: Raphael Claus (SP/FIFA)
Assistentes: Danilo Ricardo Simon Manis (SP-FIFA) e Daniel Luis Marques (SP)

ATLÉTICO-PR
Santos; Jonathan, Paulo André, Thiago Heleno e Renan Lodi; Wellington, Lucho González e Raphael Veiga; Nikão, Marcelo Cirino e Pablo.
Técnico: Tiago Nunes.

AMÉRICA-MG
João Ricardo; Paulão, Matheus Ferraz, Messias e Carlinhos; Leandro Donizete, David (Juninho), Robinho, Ruy e Luan; Wesley Pacheco.
Técnico: Adilson Batista.