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Do vandalismo à melhor atuação do ano: como Inter se reconstruiu em um mês

Inter conseguiu se recuperar em um mês e vive seu melhor momento na Série B - Divulgação/Internacional
Inter conseguiu se recuperar em um mês e vive seu melhor momento na Série B Imagem: Divulgação/Internacional

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

02/08/2017 11h24

Gritos vindos do lado de fora do Beira-Rio. Torcedores se acumulam perto da passarela que liga o estádio ao estacionamento onde ficam os carros dos atletas. Aguardam a passagem dos jogadores para... aplaudir. As primeiras frases poderiam remontar os fortes protestos ocorridos há um mês, mas desenham o que houve após a vitória sobre 3 a 0 contra o Goiás, nesta terça-feira, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Em 30 dias, o Colorado foi dos protestos mais fortes do ano para a melhor atuação na temporada.

"Foi nossa melhor partida no Beira-Rio. Teve o jogo contra o Palmeiras (pela Copa do Brasil), mas se não foi no mesmo nível, o de hoje foi melhor. Desperdiçamos algumas oportunidades, mas fizemos três e poderia ser mais. Enxergamos a evolução da equipe. Tenho certeza que, com essa entrega, dedicação e competitividade, vamos chegar", disse o vice de futebol Roberto Melo comemorando a reconstrução colorada. 

Mas antes foi duro. Contra o Criciúma no começo de julho, o Internacional empatou após sofrer muito e viu, depois da partida, um clima longe do ideal. A torcida depredou o Beira-Rio, entrou em conflito com a polícia, brigou entre si. Até a loja oficial do clube foi saqueada. Duas organizadas foram suspensas.

O protesto violento foi ápice da irritação com a condição da equipe. Oscilando na Série B, o Inter atuava muito mal em casa, perdia pontos importantes e tinha o técnico Guto Ferreira, recentemente contratado, ameaçado de demissão. Em 30 dias, tudo mudou.

Os primeiros passos da reconstrução do Inter ainda não foram firmes. Em seguida ao clima de guerra no Beira-Rio, o Colorado venceu bem o Ceará fora de casa. Mas voltou a decepcionar na derrota para o CRB. Contra o Luverdense só ganhou graças a um gol polêmico nos momentos finais de jogo, em seguida voltou a perder, para o Vila Nova-GO. E a oscilação só teve fim nas vitórias sobre Oeste e agora Goiás, ambas com atuações muito boas.

"Sempre se falou da qualidade do grupo e dos jogadores que chegaram. É evidente que se sabia da dificuldade de se fazer uma reformulação. Hoje estrearam dois jogadores. Era necessário que se fizesse. Muitas vezes não aconteceu no tempo que poderia acontecer, por dificuldades até mesmo financeiras, mas sabíamos que daria resultado. O treinador ainda não completou dois meses no comando, teve poucas semanas cheias de trabalho. Nossa convicção é essa. Passamos ainda por um período de adaptação ao campeonato. Temos que, no mínimo, igualar na competitividade para daí sim nossa qualidade fazer a diferença", atestou o vice.

Convicção, pressão e tempo

A trinca de convicção, pressão e tempo explica bem a remontagem do Inter. Primeiro, a direção do clube não abandonou o projeto com Guto Ferreira. Mesmo abalados pela falta de resultados e desempenho imediato, a cúpula vermelha não se influenciou por fatores externos e manteve o técnico.

Só que a manutenção não significou esconder o descontentamento. Os responsáveis pelo clube foram claros na cobrança ao técnico. No pico da oscilação, após a derrota para o Vila Nova-GO, Guto Ferreira tomou um ultimato. Ou mostrava trabalho nos dois próximos jogos, ou estava fora. O Inter ganhou ambos.

Na avaliação do técnico, porém, o tempo foi o mais importante. Depois de dar repetição de treinamento aos jogadores, a melhora se deve principalmente a compreensão do que é necessário fazer nas partidas.

"Demos um passo importante, mas temos muito a crescer e melhorara. A intensidade que começamos a jogar é importante. Já foi assim contra o Oeste, contra o Criciúma mesmo sem o resultado, contra o Luverdense, mesmo com dificuldades para botar a bola para dentro. E a bola está começando a entrar. Tivemos um número muito alto de conclusões, jogamos com a marcação no campo do adversário, conseguimos completar 50% das nossas jogadas, sendo que o comum é chegar perto de 30%.Trabalhamos a intensidade, marcação, a retomada de bola no ataque, que nos dá condição de ter um ataque mais sólido. Os números mostram toda nossa evolução", disse Guto. "Trabalho sempre, repetição e busca sempre", completou.

Até mesmo entre os jogadores a recuperação do time passou pela insistência. O coletivo cresceu a partir dos treinamentos e assim os resultados acabam se construindo de uma forma mais tranquila. "Quando o coletivo funciona, a equipe faz uma grande atuação. Hoje não tivemos nenhum jogador abaixo da média. Quando o conjunto funciona, o individual aparece. Foi uma grande partida. Mas temos mais 20 rodadas para manter o nível alto na competição", avaliou William Pottker.

Com duas vitórias seguidas pela segunda vez na Série B, o Internacional pulou para a segunda posição na classificação. Na próxima rodada encara o Guarani, em Campinas.