Topo

'Efeito Renato' leva Grêmio da fila de 15 anos à confiança em mata-mata

Treinador completa 150 jogos à frente do Grêmio defendendo nova fase do clube - JEFFERSON BERNARDES/AFP
Treinador completa 150 jogos à frente do Grêmio defendendo nova fase do clube Imagem: JEFFERSON BERNARDES/AFP

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

31/05/2017 04h00

O Grêmio saiu da fila de 15 anos e enfrenta o Fluminense, nesta quarta-feira (31), seguindo um método que cada vez fica mais claro. Renato Gaúcho voltou ao clube e injetou ânimo, além de ajustes e, mais recentemente, ideias próprias ao time. O treinador é o centro de uma estratégia que valoriza o mata-mata e cria um clima de concentração extrema.

Foi assim na reta final do ano passado e tem sido assim agora. No jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, o Grêmio fez 3 a 1 no Flu e não foi por acaso.

Faz parte da abordagem de Renato, nessa terceira passagem como treinador do Grêmio, insistir com o time sobre o primeiro jogo. A ideia é construir vantagem, deixar o cenário encaminhado e, na partida de volta, confirmar a classificação.

Em 2016, Renato assumiu o Grêmio no segundo jogo contra o Atlético-PR. O Tricolor se classificou nos pênaltis e depois encarou Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG. Na caminhada até o pentacampeonato, o clube foi aos poucos abrindo mão do Brasileirão. Escalou reservas e mandou até o auxiliar técnico em partidas fora de casa para comandar a equipe.

O aspecto mais palpável desse planejamento era o lado físico, mas internamente tinham outras camadas sendo trabalhadas. O tônico de confiança dado por Renato aos jogadores era apoiado pela diretoria. Sem nenhuma conquista nacional desde 2001, o Grêmio passou a trabalhar uma nova perspectiva no vestiário: sai o fardo e entra a oportunidade.

“Havia, em situações anteriores, uma carga forte sobre os 15 anos sem títulos. E havia chamamento de responsabilidade, uma oneração demasiada aos jogadores. Nós fizemos um trabalho muito forte, mas muito forte mesmo, de desoneração do grupo, do momento, em relação aos 15 anos. Procurando transmitir que não era obrigação deles resgatar os 15 anos. Ao contrário, seria uma glória”, diz Adalberto Preis, vice de futebol no segundo semestre do ano passado.

O fim da síndrome

Nas últimas temporadas, Grêmio passou a sofrer com duelos eliminatórios. Caiu para Millionarios-COL e Santa Fe-COL em Copa Sul-Americana e Libertadores. Foi derrotado por Palmeiras e Atlético-PR na Copa do Brasil. Ficou fora da final do Estadual em 2016.

E cada insucesso aumentava a pressão externa e interna. A cada jogo decisivo, a síndrome de falhar na hora decisiva voltava. Após a saída de Roger Machado, o clube procurou uma solução a curto prazo e com identificação. Renato caiu como uma luva.

“O Renato consegue ter os jogadores na mão e consegue fazer o ambiente ficar ótimo para trabalhar. Todo mundo respeita e luta pelo mesmo objetivo”, relata Gabriel, ex-lateral direito de Fluminense, Cruzeiro, Grêmio e Internacional. Jogador de Renato tanto nas Laranjeiras como no antigo estádio Olímpico.

Entre os dois jogos da final da Copa do Brasil, o avião da Chapecoense caiu na Colômbia e comoveu o mundo futebol. A segunda partida contra o Atlético-MG foi adiada e o Grêmio agiu para mudar o ambiente pesado pela tragédia. Renato e os jogadores pediram a contratação de um humorista para visitar a concentração. Paulinho Mixaria, artista gaúcho, foi o nome escolhido.

"A gente nunca sabe como isso traz resultado, é difícil mensurar, mas isso ajudou a descontrair o ambiente que estava muito carregado", aponta Preis.

150 vezes

O jogo contra o Fluminense tem outro ponto histórico. Além do método que levou o Grêmio ao título, Renato completa no Maracanã 150 jogos como treinador do clube gaúcho. Ídolo como jogador, ídolo como treinador, o ex-camisa 7 é exaltado justamente por ter controle pleno do vestiário e dar confiança ao time.

“Ele dá confiança, isso é o principal. Isso é muito importante, faz o jogador se sentir importante. Sabendo que pode fazer sua função tranquilo. Ele me deu muita confiança desde que cheguei”, conta Lucas Barrios, artilheiro do time no ano.

“Não tem ninguém jogando melhor que o Grêmio no Brasil. No momento, é o melhor time do país”, afirma Paulo Pelaipe, ex-diretor de futebol do Tricolor. “O segredo é que o Grêmio vem mantendo uma política de futebol e contratou um técnico que tem empatia com o clube. E que comanda o vestiário como ninguém”, completa.

O Grêmio de 2017 se tornou mais vertical, na comparação com o ano passado e ainda com princípios de jogos implantados por Roger Machado. O time também passou a dividir mais os gols e ter poder de fogo ainda maior - com grande taxa de participação de Lucas Barios e Miller Bolaños. Renato é o responsável por isso e por tirar o time da fila. Com injeção de ânimo e muito mais.