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Rivais do Atlético-MG fizeram bico para complementar renda como jogadores

Atlético-AC se preparou para duelo com o Atlético-MG no campo da Federação de Futebol do Acre - Reprodução Twitter do Atlético-AC
Atlético-AC se preparou para duelo com o Atlético-MG no campo da Federação de Futebol do Acre Imagem: Reprodução Twitter do Atlético-AC

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

07/02/2018 10h07

O Atlético-MG começa nesta quarta-feira a caminhada em busca do segundo título da Copa do Brasil. O clube mineiro estreia diante do Atlético-AC, às 21h45 (horário de Brasília), na Arena da Floresta, em Rio Branco, no Acre. Se de um lado tem uma das maiores agremiações do futebol brasileiro, o sexto que mais faturou dinheiro na temporada 2016 (balanços financeiros de 2017 ainda não foram divulgados) e com uma das folhas salariais mais altas do país, do outro lado está uma equipe modesta, que até o final do ano passado era semiprofissional.

“Um atleta de peso do Atlético-MG paga a nossa folha do ano todo. É o duelo do primo rico com o primo pobre. É o Atlético rico contra o Atlético pobre. Nossa folha é R$ 120 mil por mês. Mas é isso que nos motiva. É um grupo que já está junto há algum tempo, atletas da base, são jogadores que valorizam esse trabalho”, disse Elison Azevedo, presidente do clube acreano, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Como deixou claro o mandatário do Atlético-AC, a semelhança entre os dois clubes começa no nome e termina no Galo, mascote de ambos. Enquanto o Atlético-MG é capaz de dar as melhores condições possíveis a seus atletas, o modesto rival do Acre subiu um pouco de patamar em 2018. Os bons resultados em campo nas temporadas anteriores fizeram com que o Atlético-AC pudesse montar um elenco com dedicação exclusiva ao futebol.

Algo que era impensável até o ano passado. Apesar do bicampeonato estadual e do acesso na Série D do Campeonato Brasileiro, o Galo de Rio Branco contava com um bom número de jogadores que precisavam fazer bicos em outras áreas, para completarem a renda mensal.

“Como o Atlético-AC alcançou a Série C e teve a verba da Copa do Brasil, conseguimos acabar com isso. Então, hoje, nosso elenco se dedica exclusivamente com o futebol. No ano passado, a maioria tinha de trabalhar fora. Agora, a gente tem a condição de pagar um pouco melhor, para cobrir os bicos que eles faziam fora e atualmente todos podem se dedicar apenas ao futebol”, explicou Elison Azevedo.

Classificação garante salários até dezembro

Só por entrar em campo, o Atlético-MG vai receber R$ 1 milhão pela participação na primeira fase da Copa do Brasil. O xará acreano, por ser uma equipe do grupo 3, definido pela posição no ranking da CBF, vai pegar R$ 500 mil. Uma quantia que já faz muita diferença no orçamento anual do time de Rio Branco.

E pode ficar ainda melhor, caso o Atlético-AC consiga surpreender e eliminar rival famoso. Se passar de fase, o Galo do Acre vai receber R$ 600 mil. Se o classificado for o de Minas, a premiação será de R$ 1,2 milhão. Para o Atlético-MG, os valores das duas primeiras etapas do torneio significam menos de 1% do orçamento de 2018. Já para o Atlético-AC, faturar mais de R$ 1 milhão na Copa do Brasil vale a garantia dos salários até dezembro, como revelou o mandatário Elison Azevedo.

“Passar de fase nos daria conforto para trabalhar o restante do ano, um conforto financeiro, garantiria a folha salarial até dezembro”.

O custo mensal do clube com o futebol é pouco maior do que R$ 100 mil. Com o dinheiro que vai receber dos patrocinadores, a cota da Copa do Brasil seria determinante para que o dirigente do Atlético-AC não tivesse de usar recursos próprios e nem mesmo recorrer a amigos, para honrar os compromissos do clube.

“Temos alguns patrocinadores locais. Mas isso não cobre 50% da folha e dos gastos mensais do clube. O restante a gente completa do bolso, busca recursos com amigos. É dessa forma que estamos mantendo o clube. E uma forma de buscar recurso é a Copa do Brasil, que dá um retorno financeiro imediato”.

A busca por uma “Cidade do Galo” em Rio Branco

Treino do Atlético-AC no Frotão, o Centro de Treinamento do clube - Reprodução Twitter do Atlético-AC - Reprodução Twitter do Atlético-AC
Treino do Atlético-AC no Frotão, o Centro de Treinamento do clube
Imagem: Reprodução Twitter do Atlético-AC

O Atlético-AC até possui um Centro de Treinamento, o Frotão. Mas é um espaço modesto, com apenas um campo e sem as melhores condições. Situação que é agravada com o período de chuvas intensas no Acre, como acontece nos primeiros meses do ano. Por esse motivo, a cada dia o clube que vai enfrentar o Atlético-MG na Copa do Brasil precisar ir atrás de um campo diferente para treinar.

Por esse motivo, a Cidade do Galo é mais um exemplo para o Atlético-AC. Caso consiga a classificação na Copa do Brasil, parte da cota que receberá da CBF será utilizada para melhorar a estrutura de trabalho.

“Classificar nos deixaria numa situação financeira tranquila e também nos daria condições de investir na nossa estrutura, no CT, nos campos. Basta ver que treinamos num campo emprestado, pela Federação (de Futebol do Acre). Nossa CT, pela época do ano, é muita chuva, então ficamos atrás de locais para treinar. Se a gente passar pelo Atlético-MG, vamos ter condições de melhorar nossas condições”, disse Elison Azevedo.

Rotina que o Atlético-MG tinha até o final da década de 1990. Antes de investir na Cidade do Galo, o clube mineiro contava com ajuda de terceiro para poder treinar. A partir dos anos 2000, o Galo tornou seu Centro de Treinamento o melhor do Brasil e um dos melhores do América Latina. Atualmente, o CT alvinegro tem oito campos, sendo um de grama sintética e outro que será transformado num miniestádio, além de dois hotéis, para a base e outro para os profissionais.

Faltou um Ronaldinho ou um Robinho

“A animação é muito grande. É um jogo contra uma das grandes equipes do futebol brasileiro, a gente sabe do potencial do Clube Atlético Mineiro. Então, para nós é uma honra jogar a competição nacional e enfrentar uma equipe desse nível”, descreve Azevedo.

Porém, a animação parece estar somente dentro do clube. A expectativa de público está na casa de 5 mil torcedores, nem metade da capacidade da Arena da Floresta. Na visão do presidente do clube acreano, caso o confronto com o xará de Minas Gerais fosse em outra época, quando o Galo tinha Ronaldinho, ou até mesmo Robinho, a procura por ingressos seria bem maior.

“Todo mundo queria ver um Ronaldinho ou um Robinho. Um elenco assim, que leva o torcedor para o estádio. Certamente o público seria maior. Mas nossa meta, já com esse jogo, é apresentar um futebol bom, capaz de atrair cada vez mais público para as nossas partidas”, completou o mandatário do Atlético-AC.