Zagueiro nigeriano é enganado por empresário e termina jogando no futebol de várzea de SP

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Milton Flores/Divulgação/Copa Kaiser

    Odebe (amarelo) em lance de Ajax (Vila Rica) 1 x 1 Botafogo (Vila Nhocuné)

    Odebe (amarelo) em lance de Ajax (Vila Rica) 1 x 1 Botafogo (Vila Nhocuné)

O nigeriano Frederick Odebe é um zagueiro clássico. Sobe alto nas jogadas aéreas, é duro na marcação e forte no desarme. Poderia estar jogando no futebol profissional brasileiro. Mas acabou esquecido no Brasil, sem falar português, sem emprego e sem empresário. A salvação veio quando o africano chegou ao Ajax, da Vila Rica, um dos times mais importantes do futebol de várzea de São Paulo.

ZAGUEIRO CLÁSSICO, SEM FALTA

  • Milton Flores/Divulgação/Copa Kaiser

    O UOL Esporte acompanhou um jogo de Odebe na Copa Kaiser. E o zagueiro impressionou. O vigor físico é típico dos africanos. Ele divide na defesa e consegue subir ao ataque com naturalidade. O que mais impressionou foi o fato de que Odebe quase terminou o jogo com o uniforme limpo, apesar de estar jogando em meio a muito barro. Sem dar carrinhos, o zagueirão ganhou quase todas as bolas que disputou em pé. Só se sujou (como a foto abaixo mostra), quando subiu para o ataque em um escanteio, foi deslocado e caiu na área.

  • Milton Flores/UOL Esporte

"Ele foi enganado pelo empresário, que o deixou sozinho em Caxias, no Rio Grande do Sul. Agora, estamos ajudando, orientando o Frederick como conseguir o visto de permanência e um emprego", conta Marcelo Thomas, da diretoria do time.

Odebe foi acolhido pela comunidade do Ajax, que forneceu auxílio moradia para o jogador. Além disso, empresários ligados ao clube conseguiram um emprego para o zagueiro. Ele começa a trabalhar na segunda-feira. Essa não é a primeira vez que a comunidade do Ajax ajuda na temporada: campeão do mundo, o volante Gilmar Fubá era alvo de uma série de times da várzea, mas está jogando no Ajax graças a uma parceria entre o clube e uma empresa de baterias automotivas.

"O Ajax pode não ser profissional, mas é um time grande. E os empresários reconhecem a importância do time e ajudam. Um deles, o seu Luis, da Autolex, está nos ajudando a pagar o Gilmar Fubá. Agora, outro empresário está dando uma oportunidade importante para a vida do Frederick com esse emprego", comemora Francisco Prince Ribeiro, o Kiko, presidente do clube.

Um final feliz para uma história que começou da pior maneira possível. No ano passado, Odebe jogava na Argentina quando recebeu uma proposta para vir ao Brasil. O destino era o Grêmio Prudente, que estava montando o time para disputar o Campeonato Paulista. O nigeriano, porém, chegou já no final da pré-temporada, ouviu que o grupo para a competição estava fechado e ele não teria lugar. O empresário que o trouxe ao Brasil o levou, então, para o Rio Grande do Sul.

"Como não deu certo em Presidente Prudente, fui para tentar jogar o Gauchão. Mas também não deu certo", conta o jogador, em inglês. No Caxias também não durou muito. E, o pior: o empresário que o levou para o clube desapareceu. "Eu queria continuar jogando futebol, mas sem empresário não dá. Quando eu estava na Argentina, apareceu o convite para vir para o Brasil. Mas depois do Caxias, não apareceu mais nada".

Sem o agente, a carreira de Odebe no futebol profissional terminou. O nigeriano chegou a São Paulo no início do ano. Não conseguiu encontrar emprego e sobreviveu de bicos até chegar ao Ajax. "Um amigo conhecia a minha história, sabia o que eu estava passando e me apresentou para o Ajax. É um time muito bom e a Kaiser é um grande campeonato", diz o nigeriano.

Apesar dos problemas, Odebe está feliz no Brasil. "É o país de todos. Fui muito bem recebido e muita gente está me ajudando".

Copa Kaiser de futebol amador
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