Time que apostou em Gilmar Fuba tenta chegar à final com elenco de profissionais da várzea

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

Quando a Copa Kaiser, principal torneio de futebol amador de São Paulo, começou, o Ajax da Vila Rica era considerado uma das atrações do torneio por causa de um jogador: o campeão mundial pelo Corinthians, Gilmar Fubá. Hoje, quase oito meses depois, o time abriu mão do folclórico volante e vai disputar uma vaga na decisão, contra o Juventus da Liberdade, no domingo, às 13h45, no campo do Nacional, na Barra Funda, com um elenco recheado de profissionais da várzea.

  • Milton Flores/UOL

O motor do time, que assumiu a função com a saída de Fubá, tem nome de craque, mesmo sem nunca ter tido uma oportunidade real no futebol profissional. Josimar é um meio-campista de qualidade, passe preciso, que parece estar em todos os lados do campo e ainda chega ao ataque para marcar os seus gols. Lembrou alguém? O apelido Ramires não deixa dúvida sobre a qualidade do jogador.

"Antes, me chamavam de Hugo, aquele do São Paulo. Mas quando o Ramires foi convocado pela primeira vez para a seleção, eu fui jogar um amistoso no dia seguinte. Começaram a me chamar assim e o apelido pegou", conta o jogador de 25 anos.

ATRAÇÃO NAS PARTIDAS, MASSAGISTA DO AJAX SOMA 14 TÍTULOS, INCLUINDO KAISER

  • Milton Flores/UOL

    Sempre que ele entra em campo, a torcida vai à loucura. Ligeirinho, o massagista conhecido por suas passadas rápidas sempre que vai atender a um jogador, é uma das atrações do Ajax. Com 35 anos de futebol amador, Ligeirinho chegou a jogar nas categorias de base do Sport de Recife, mas se encontrou mesmo no futebol amador de São Paulo. Tanto que soma títulos que até mesmo o seu clube, o Ajax, não tem.

    "Eu tenho 14 troféus. Até a Copa Kaiser. Ganhei com o Leões da Geolândia e com o Boa Esperança de São Mateus", diz o folclórico massagista, que garante: sabe quando um jogador caído está fazendo cera. "Eu posso falar muita besteira, mas isso eu sei. Sempre gostei de estudar, leio bastante. Conheço quando o cara está fazendo 'maresia' e quando está machucado mesmo. É aí que a bolsa fica mais pesada ou mais leve. Em semifinal, ela pesa demais. Em jogo de meio de campeonato, parece que está vazia".

Apesar da qualidade em campo, sua única chance em um time profissional aconteceu na adolescência. Quando tinha 14 anos, treinou por dez meses nas categorias de base do São Paulo. Quando foi dispensado, não procurou mais oportunidades. "Eu não tinha empresário, então era difícil seguir buscando o futebol. Fui trabalhar".

Mesmo assim, a várzea ainda fazia parte de sua vida. Jogando todo fim de semana, ele voltou a chamar atenção. "Vira e mexe alguém liga, diz que é empresário, que vai levar para algum time. Eu não quero. Aqui no bairro onde moro tem uns cinco que aceitaram a proposta. Foram para o interior e voltaram depois de um tempo, sem nada. Isso não é para mim".

Na várzea, porém, ele encontrou um caminho de sucesso. Começou em Itapecerica da Serra e passou a receber convites. Joga em Diadema, pelo Tricolor, e pelo Ajax. Chegou ao time da Vila Rica há dois anos, após três temporadas pelo Turma do Baffô, time que pode encarar na final da Kaiser. Com isso, hoje vive do futebol de várzea, com o que ganha pelas equipes. "Eu vivo do futebol. Minha família toda está em Minas, aqui em São Paulo, só eu e minha mulher. Então, dá para viver. E o pessoal do Ajax cuida muito bem, ajuda com o que a gente precisa".

O caso é parecido com outro profissional da várzea do Ajax, o atacante Uochiton Baraúna. Artilheiro do time com oito gols, ele joga até quatro partidas por fim de semana. Para manter a forma, durante a semana ele bate ponto em uma academia, preparando o corpo para o fim de semana.

Outro destaque do time da Vila Rica é um zagueiro com uma história incomum. Fred Odebe é nigeriano, chegou a ser convocado para a seleção de seu país e chegou ao Brasil para defender o Grêmio Barueri. Sem conseguir ficar, foi abandonado pelos empresários que o trouxeram ao país. Mesmo sem falar português, encontrou abrigo no Ajax. O time de várzea ajudou o zagueiro a conseguir um emprego e, como retribuição, hoje ele ajuda a fechar a defesa.

No domingo, esses três são as apostas do Ajax para manter vivo o sonho de conquistar o primeiro título da Kaiser. Apesar de ser um dos mais populares do futebol amador da cidade, o time ainda não conseguiu ser campeão do principal torneio. A melhor campanha foi em 2009, quando perdeu a final para o Vida Loka, da Vila Brasilândia. O rival na semifinal, o Juventus da Liberdade, é um novato no campeonato: no ano passado, o time estava na Série B. 

Copa Kaiser de futebol amador
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