Técnico-torcedor tatua escudo do time na perna e leva time à decisão no futebol de várzea

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Bruno Doro/UOL Esporte

    Detalhe da tatuagem de Tukinha, técnico do Ajax, da Vila Rica

    Detalhe da tatuagem de Tukinha, técnico do Ajax, da Vila Rica

Em 2009, Aílton de Lessa, o Tukinha, poderia ser o herói do primeiro título do Ajax, da Vila Rica, na Copa Kaiser. Na decisão por pênaltis, porém, ele errou sua cobrança. A falha tirou da equipe, uma das mais tradicionais do futebol de várzea de São Paulo, seu primeiro título na história da competição. Hoje, quatro anos depois, ele tem a chance de redenção.

Aos 40 anos, Tukinha deixou de correr. Agora é técnico e considerado o grande responsável pela surpreendente campanha do time da Vila Rica em 2012. Ele assumiu o comando ainda na segunda fase, quando os diretores resolveram trocar o comando técnico. "O time tinha acabado de perder um jogo, estava desacreditado. Foi aí que os torcedores sugeriram o nome dele", explica Francisco Prince, o Kiko, presidente do Ajax.

TÉCNICO RIVAL TAMBÉM ERA JOGADOR E ASSUMIU APÓS REVOLTA DO ELENCO

  • Bruno Doro/UOL

    Em 2010, a Turma do Baffô, rival do Ajax na final do próximo domingo, conquistou o vice-campeonato em três torneios diferentes. Após a terceira derrota em uma final, porém, o time se revoltou. Vencendo por 1 a 0 no intervalo, o técnico fez seis substituições no segundo tempo e o rival virou o placar. Foi a senha para uma revolta no vestiário, incluindo ameaças de aposentadoria e abandono de clube caso o treinador fosse mantido.

    Foi então que o treinador de maior sucesso na várzea nos últimos dois anos surgiu. Juninho, então volante de marcação da equipe, já tinha anunciado sua aposentadoria e ouviu dos colegas o convite: "Você conhece o elenco, montou esse time, conhece muito de futebol. Porque você não vira o treinador?"

    O convite foi aceito e, em dois anos, ele já classificou sua equipe para duas finais de Copa Kaiser. Em cada uma delas teve de montar elencos praticamente do zero. "Mas o time de 2011 era mais limitado, só tínhamos um jeito de atuar. Dessa vez, estamos bem servidos em todas as posições, podemos montar o time de acordo com o adversário", diz Juninho.

    Esse time polivalente, porém, contrasta com a imagem de Juninho quando jogador: "Ele era volante, de marcação, daqueles que tem dificuldade com o passe. Mas era um cara muito útil. Fui eu que coloquei ele no time titular. E, em todos os jogos, ele sempre marcava o melhor cara do time. Mas como técnico, ele é muito melhor", elogia Claudio Rosa, presidente e fundador do Baffô.

     

A opção pelo ex-jogador foi muito mais emocional do que racional. Ex-jogador profissional, Tukinha nunca tinha sido treinador. Por outro lado, a identificação com o "Corinthians da várzea" era enorme. À beira do campo, todos conseguem ver a tatuagem com o escudo do clube na panturrilha esquerda. Mas essa ligação com o Ajax é mais profunda.

"Eu fui jogador do Ajax por 29 anos. Mesmo quando eu já era profissional, nas férias sempre voltava para casa e fazia questão de jogar pelo time. Eu posso ter errado o pênalti em 2009, mas antes disso, dei muitos títulos para a equipe", afirma, orgulhoso.

Aceitar o convite, no entanto, não foi uma decisão fácil. "Tivemos de reunir uma comissão grande e ir até a casa dele para convencê-lo", lembra Kiko. "Eu só disse sim porque queria mostrar que a gente que é coração também pode ser importante para o time", completa.

Apesar do sucesso, a mudança de função em campo ainda deixa o treinador novato nervoso. "Ainda penso como jogador. A parte mais difícil é a comunicação com o elenco. Não estava acostumado", admite. Por essa inexperiência, é fácil ver, durante os jogos, membros da diretoria e até torcedores do Ajax conversando com Tukinha, dando palpites sobre como o time deveria estar jogando.

"Eu sei que existe a confiança. Sou eu que escalo o time, que digo como os jogadores vão atuar. Mas agora, que estamos na final, todo mundo quer falar. Só que ninguém queria pegar o time quando estava sem técnico, com chance de ser eliminado. Quem assumiu a bronca fui eu. Agora, não posso deixar todo mundo comandar", explica o treinador.

Outra pessoa chave na nova empreitada de Tukinha é seu auxiliar, Gordinho. "Quando o Tukinha assumiu, a gente sabia que ele não tinha experiência como técnico. Por isso, escolhemos o Gordinho para ser o auxiliar e ajudar. Nunca vi, no futebol de várzea, uma dupla que deu tão certo. Eles são como o Telê Santana e o Muricy Ramalho no São Paulo", elogia Kiko.

No próximo domingo, Tukinha terá a chance de dar para a torcida do Ajax o título que não veio em 2009. O jogo está marcada para 12h45, no Pacaembu, contra o atual vice-campeão do torneio, a Turma do Baffô, do técnico Juninho (veja a história no quadro acima). A entrada é franca e a organização espera mais de 15 mil torcedores.

Copa Kaiser de futebol amador
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