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'Taiti' da Copinha se despede com pior campanha da história e realiza sonho

Ricardo Espina

Do UOL, em Guarulhos (SP)

12/01/2014 06h00

Pouco importou para o Imagine encerrar sua participação nesta Copa São Paulo de Juniores como o maior saco de pancadas da história da competição. Nem mesmo a goleada por 8 a 1 para o Juventus neste sábado, em Guarulhos, desanimou a delegação da equipe de Tocantins. Seu objetivo já estava garantido: marcar pelo menos um gol e cair nas graças da torcida. Algo divino, assim como o nome do autor do único tento do time na Copinha.

A campanha do time de Palmas se tornou a pior de todos os tempos na competição. O Imagine estreou levando um 9 a 0 do Flamengo de Guarulhos; já o adversário seguinte foi ainda mais impiedoso: o Vitória massacrou por 12 a 0, maior goleada desta edição. Até então, o recordista negativo era o Ypiranga-AP, que perdeu para Nacional-AM (12 a 0), Flamengo (11 a 1) e XV de Piracicaba (2 a 0) em 2008.

A fragilidade da equipe conquistou os torcedores que compareceram ao estádio Antônio Soares Oliveira e a comparação foi inevitável. O grito de “Vai, Taiti!” se tornou comum durante o jogo contra o Juventus. Os taitianos viraram o xodó da torcida durante a Copa das Confederações, no ano passado. A seleção só apanhou (6 a 1 para a Nigéria, 10 a 0 para a Espanha e 8 a 0 para o Uruguai), mas ganhou os aplausos do público pela simpatia e força de vontade mesmo com placares tão desfavoráveis. Assim como foi para o Taiti, o Imagine não deixou a Copinha com a sensação de ter protagonizado um vexame.

“O certo e o errado são relativos no futebol. Viemos aqui para divulgar nossas ideias e projetos, e nossa vitória mais expressiva foi esta. Conseguimos a atenção da mídia e mostramos nossa filosofia”, afirmou Paulo Kraemer, presidente do Imagine – que também desempenha o papel de massagista, assessor de imprensa e qualquer outra tarefa que esteja ao seu alcance.

Kraemer fundou o Imagine há quatro anos, com o intuito de “usar o futebol como ferramenta de socialização”. No elenco que disputou a Copinha, há garotos que enfrentaram problemas com drogas ou vivem uma situação familiar e financeira difícil. “Daí vem o nome Imagine, do sonho, de querer voar”, afirmou o presidente. A explicação frustra quem esperava a relação com a famosa música de John Lennon, “mas não deixa de ter a ver”, como ressalta o dirigente.

A canção diz “Você pode dizer/Que sou um sonhador/Mas não sou o único”. E o sonho do Imagine se tornou real quando Divino, camisa 8 do time de Tocantins, converteu a cobrança de pênalti e fez o único gol do time na Copinha. “Futebol é mais do que resultado”, comemorou Kraemer.

Enquanto irônicos gritos de “olé” surgiam todas as vezes nas quais os jogadores do Imagine trocavam passes, outros torcedores se preocupavam em fazer trocadilhos com o nome do time. “Imagine que perdeu para eles e não veio para a Copinha”, “Nem imagino quem pode ser pior” ou “Dá para imaginar algo tão ruim assim?”, seguidos de muitas risadas, deram o tom à medida que o já eliminado Juventus deslanchava no placar. Algo que não incomodou Kraemer.

“Críticas destrutivas são comuns. Viemos para cá com um time muito jovem, com garotos dois ou três anos mais novos do que nossos adversários. Era óbvio que não ganharíamos. Não tinha ilusão de vencer um Vitória, por exemplo. O que queríamos era abrir portas e sensibilizar as pessoas, e isso foi feito”, destacou.

Como lição após três goleadas, o Imagine “viu na prática o que é o primeiro mundo do futebol e agora tem parâmetros como se portar em termos de administração, alimentação, entre outros fatores”. Uma experiência que será a principal bagagem levada pelo clube na longa viagem de volta para Palmas – de 25 a 26 horas de ônibus.