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Goleiro herói da Copa SP diz pegar pênalti com apoio da irmã, morta em 2015

Gerson pegou três pênaltis e foi ovacionado por companheiros do Batatais - Arquivo pessoal
Gerson pegou três pênaltis e foi ovacionado por companheiros do Batatais Imagem: Arquivo pessoal

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

20/01/2017 04h00

O goleiro Gerson Augusto (que também atende por Gersinho, Junior, Juninho, Jujuzim, Ju ou Gu) se tornou aos 19 anos um dos grandes nomes da Copa São Paulo ao ajudar a classificar o Batatais à semifinal da competição. Ele sempre entra em campo segurando uma camiseta especial, na qual se pode ver o rosto da irmã Emanuelle, que morreu em um acidente de carro em 2015.

Na última quarta-feira, o goleiro vestiu a camiseta da irmã por baixo do uniforme do Batatais, o time de uma cidade de 60 mil habitantes, no noroeste de São Paulo, e foi assim que começou a disputa de pênaltis contra o Botafogo, atual campeão nacional da categoria.

O final da história é de conto de fadas: Gerson defendeu três cobranças, foi abraçado pelo time e foi comemorar com amigos e a mãe, que assistiam à partida atrás do gol.

Gerson - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gerson com a irmã Emmanuelle
Imagem: Arquivo pessoal

“Treinar pênalti especificamente, não treino”, disse ele em contato com a reportagem do UOL Esporte, uma das mais de vinte entrevistas que ele deu após fechar o gol em Osasco. “Acho que é mais minha irmã ajudando lá de cima, minha maior proteção é dela. Antes do pênalti eu fico lá, pedindo para ela. Não sei o que acontece, não sei se é coisa da minha cabeça, mas parece que eu converso com ela. E ela me dá uma força.”

Ao todo, Gerson já defendeu seis cobranças nesta Copa São Paulo. “Sou católico, mas depois que minha irmã morreu conversei com alguns espíritas”, afirmou ele, que chegou a desistir da carreira depois de perder a irmã.

Emmanuelle morreu aos 20 anos, uma semana antes de Gerson viajar a Portugal onde tinha acabado de ser aprovado em um clube para jogar um campeonato nacional. Para não deixar a mãe sozinha, desistiu da viagem. E do futebol. “Dinheiro a gente consegue de outro jeito, mas minha mãe na fase que estava... era capaz até de eu perder ela”, lembra o goleiro. “Éramos nós três e fazíamos tudo juntos.”

Manu - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Emmanuelle era karateca e foi homenageada pelos companheiros
Imagem: Arquivo pessoal

Fátima Borgui, dona de uma loja de confecção de uniformes em Jardinópolis (SP), conta que a família era muito unida e que Gerson e Emanuelle praticavam esportes juntos. “A gente era pai, mãe, irmão, filho, amigo, confidente, era tudo”, diz ela, que se separou do pai de Gerson, que também se chamava Gerson e também era goleiro, quando os filhos eram crianças.

A Copa São Paulo marca o retorno de Gerson ao futebol. Convocado de surpresa pela comissão técnica do Batatais, ele não esperava chegar tão longe, mas agora já se imagina vestindo a camisa de um grande clube. “Conversas [sobre ser contratado por um time grande] sempre têm. Mas agora nem é bom falar dessas coisas, né”, desconversa ele.

Goleiro "baixinho" quis tomar remédio para crescer

Gerson já chegou a ser dispensado de vários times por ser considerado baixo demais para um goleiro. Hoje ele tem 1,83m, mas quando tinha 12 anos um clube sugeriu a sua mãe que submetesse o garoto a um tratamento hormonal para ganhar altura. “Eu queria, mas minha mãe conversou com médicos e não deixou”, conta ele. “Sempre ficava chateado quando me dispensavam pela questão da altura.”

“Tinha uns pais de uns garotos miudinhos que tomavam remédio e ficavam me dizendo pra dar remédio pro meu filho”, lembra a mãe Fátima. “Mas eu perguntava para os médicos sobre os efeitos colaterais e ninguém sabia dizer com certeza quais seriam.”

A falta de altura o goleiro compensa com impulsão e reflexo. Pulando alto e rápido, ele conseguiu fazer as defesas que garantiram ao Batatais o acesso à semifinal. Gerson admite estar “uns três ou quatro quilos” acima de seu peso ideal e chegou a usar a palavra “gordinho” para descrever seu estado físico.

Para ele, isso se deve ao período em que ficou parado. “Ele está voltando agora”, minimiza a mãe, que fez um bate-volta na quarta pra ver o filho jogar. “A estrutura dele é grande mesmo, ele é cheio de músculo.”

“Eu aparento ser gordinho por conta das pernas, que são grossas mesmo”, disse ele, que não sabe e nem quer saber quanto pesa exatamente. “Nem fui atrás de peso, minha preocupação agora é a semifinal.”

O Batatais de Gerson enfrentará o Paulista de Jundiaí, em Jundiaí, domingo, às 10h. O Sportv transmitirá a partida. Na outra semifinal se enfrentam Corinthians e Juventus, às 19h45.