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Bola de vôlei, altitude e avião: Flu encara Potosí e desafios além do campo

Goleiro Júlio César, do Fluminense, treina com bola de vôlei: trabalho para a altitude - Lucas Merçon/Fluminense
Goleiro Júlio César, do Fluminense, treina com bola de vôlei: trabalho para a altitude Imagem: Lucas Merçon/Fluminense

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/05/2018 04h00

O rival não é lá de grande qualidade, a vantagem construída no Maracanã [vitória por 3 a 0] é confortável, mas o duelo do Fluminense diante do Nacional de Potosí, às 21h45, no Estádio Vitor Agustín Ugarte, está cercado de desafios que vão muito além das quatro linhas.

Traçada desde que os bolivianos caíram como adversários pela Sul-Americana, a logística tricolor teve de ser alterada em cima da hora. Por conta de protestos na Bolívia, o Flu não pôde ir para Sucre [2.800m de altitude], que está com vias bloqueadas. O plano era “subir aos poucos” até os temidos 4.070m de Potosí, mas o destino foi Santa Cruz de La Sierra, cidade ao nível do mar. A mudança de rota também impediu que o time treinasse em uma condição minimamente parecida.

Em vez do comboio de carros que levaria a delegação de um ponto a outro, o Flu terá de voar até o local do jogo algumas horas antes. Na volta, um novo capítulo da odisseia: por conta do peso do avião, a delegação tricolor voltará para Santa Cruz dividida em dois voos, já que a aeronave estaria pesada demais para encarar a altitude. O diretor esportivo Paulo Autuori chegou a criticar a realização do jogo e relembrou o acidente com o voo da Chapecoense para alertar sobre os perigos.

Os mais de 4 mil metros de altura são hostis para os visitantes, dificilmente habituados a esse tipo de condição. Diante do impasse sobre o adiamento do jogo, foi cogitada a troca de local, hipótese rechaçada imediatamente pelos bolivianos, cientes de que não podem abrir mão dessa arma. Para simular minimamente a condição que será encontrada, os goleiros treinaram com bolas de vôlei, visto que a altitude “tira o peso” da bola.

Em uma partida de características extraordinárias, o setor de fisiologia do clube virou um aliado ainda mais importante. Ciente das dificuldades, o fisiologista Juliano Spineti disse ser impossível modificar toda uma rotina de treinos por conta desta condição específica. Ao UOL Esporte, ele resumiu o que aguarda os tricolores nesta noite:

“Com certeza absoluta, a maior dificuldade em termos de desempenho físico é a recuperação mais lenta por conta do ar rarefeito, a oferta é menor de oxigênio. Os jogadores encontram grandes dificuldades, pois ele precisa de energia, mas faz isso com menor eficiência que o normal”.

Apesar da teórica fragilidade da equipe local, o grupo do Fluminense trata o confronto com todo o cuidado e sabe que fatores extracampo podem ter interferência na luta pela classificação. Com um grupo ainda formado por muitos jogadores sem muita rodagem internacional, a “aventura” em Potosí será uma novidade em suas carreiras. Diante de tantas dificuldades, Abel terá o retorno de Gum e Ayrton Lucas. Para voltar com a vaga na bagagem, o Flu terá de, literalmente, fazer um jogo à altura de sua grandeza.