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Espanhol - 2019

Como Sampaoli, um Simeone "às avessas", faz o Sevilla ameaçar gigantes

Sampaoli comanda o Sevilla; técnico argentino é sensação na Europa com ofensividade - Jorge Guerrero/AFP Photo
Sampaoli comanda o Sevilla; técnico argentino é sensação na Europa com ofensividade Imagem: Jorge Guerrero/AFP Photo

Do UOL, em São Paulo

21/01/2017 04h00

Nos últimos anos, o torcedor que acompanha o futebol europeu se acostumou a ver o Atlético de Madri se intrometer entre Real Madrid e Barcelona com muita aplicação tática e uma defesa implacável. Neste ano, ao que tudo indica, esse papel caberá a outro clube. Depois de mais da metade da temporada, o Sevilla está a um ponto do líder e é o “rebelde” com mais chance de incomodar os gigantes. Culpa de Jorge Sampaoli, que para chegar lá pegou um caminho bem diferente de Diego Simeone.

Sampaoli assumiu o Sevilla após três anos de Unay Emery, de saída para o PSG após um tricampeonato da Liga Europa. Junto ao comando técnico, mudou o time. Foram 12 reforços na janela do meio do ano, muitos com status de titular. O treinador argentino precisava compor com as novas peças. Para completar, chegou com uma filosofia “estranha” para o clube.

Na disputa direta com Real Madrid e Barcelona, o bom senso recomenda que os postulantes a zebra tenham cautela. Foi assim que Simeone, por exemplo, encontrou seu caminho. Sampaoli chegou apontando o caminho contrário do campo. Ainda que se apoie na mesma “raça sul-americana” do compatriota, o técnico do Chile entende que se deve jogar de uma forma diferente, tendo o ataque como principal objetivo.

“O futebol tem a ver com jogar com a bola. É um encontro de futebol, não importa quem seja o rival. É uma loucura, é para jogá-lo e senti-lo”, disse Sampaoli ao Diário de Sevilla após ver seu time fazer 9 a 1 no modesto Formentera, pela Copa do Rei.

As estatísticas mostram essa diferença. Mesmo na vice-liderança, o Sevilla tomou oito gols a mais que o Atlético até agora (22 contra 14) e é disparado a pior defesa dos quatro primeiros do Espanhol. Lá na frente, porém, é quem mais se aproxima da dupla Real e Barcelona (38 contra 46 e 47, respectivamente). Placares elásticos como o 6 a 4 contra o Espanyol, na abertura do campeonato, se repetiram desde então, na maioria das vezes a favor de Sampaoli.

A determinação ofensiva exige muito dos jogadores. O técnico argentino alterna frequentemente seu esquema de jogo, usando linhas de defesa com três, quatro ou até cinco jogadores. Polivalência, entendimento tático e entrega em campo são fatores fundamentais para ganhar espaço na gestão de Sampaoli, o que em parte explica a pouca utilização de Paulo Henrique Ganso até agora.

O ex-são-paulino, diga-se, não é o único reforço que está sofrendo com poucos minutos. Como ele, o argentino Kranevitter, contratado para destruir e construir no meio-campo, tem ficado mais na reserva que em campo. No lugar dele joga Steven N’Zonzi, francês que chegou no clube há duas temporadas e oferece a Sampaoli mais segurança e virou um dos jogadores mais utilizados do ano.

O resultado é um time capaz de façanhas como a virada sobre o Real Madrid, no fim de semana passado, quebrando a invencibilidade de 40 jogos da equipe merengue. Sampaoli, de repente, virou o técnico “da moda”. Até Sergio Ramos, persona non grata em Sevilha, elogiou o rival, a quem abraçou antes do confronto do último domingo. “Viva as pessoas com coragem. Você é um desses”, disse o zagueiro ao ouvido de Sampaoli, em um lance captado pela TV. O argentino agradece, mas não dá sinais de se comover com os holofotes.

“A moda se acaba rápido e amanhã será outro treinador. O que sempre valorizo é estar em um lugar em que possamos implementar uma ideia que nos permita ser realidade. Quanto tempo isso vai durar? Não sei. Podemos ser felizes por muito tempo aqui”, disse Sampaoli na última sexta.