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Azul, defensivo e na caça dos grandes, Novo Hamburgo é o "Leicester gaúcho"

N. Hamburgo derrubou o Grêmio, empatou o primeiro jogo e pode surpreender o Inter - Divulgação/ECNH
N. Hamburgo derrubou o Grêmio, empatou o primeiro jogo e pode surpreender o Inter Imagem: Divulgação/ECNH

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

04/05/2017 04h00

Eles vestem azul, não ligam para posse de bola, têm uma defesa sólida e um contra-ataque mortal. Batem de frente com os grandes e estão fazendo história. Tais características poderiam muito bem anteceder uma reportagem sobre o Leicester City, que surpreendeu o mundo ao ser campeão inglês da temporada 2015/2016. Mas se referem ao Novo Hamburgo, a versão gaúcha do time de Claudio Ranieri.

Tal qual os ingleses, o "Nóia" começou o Gauchão com objetivo de simplesmente não ser rebaixado. Com uma das menores folhas de pagamento entre os 12 disputantes do torneio, gasta R$ 150 mil por mês com o futebol. Não são jogadores renomados ou com passagens recentes pela dupla Gre-Nal, mas são experientes e unidos por um objetivo comum: o sucesso.

"A gente viu vários jogos do Leicester no Campeonato Inglês, mas isso foi encorpando durante o campeonato. Dentro das características de jogadores que temos, procuramos montar um time que jogue desta forma. Nem sempre se consegue que dê certo, para nós deu. Mudamos um pouco o posicionamento na semi contra o Grêmio e na final contra o Inter, do que vínhamos fazendo na primeira fase. Posso dizer que é parecido com o Leicester nossa forma de jogar, sim", concordou o técnico Beto Campos em entrevista exclusiva UOL Esporte.

Não foi premeditado. Quando assumiu a equipe, Beto queria apenas encontrar a melhor forma de atuar. A expectativa estava longe do que pode acontecer neste domingo, quando joga por uma vitória simples contra o Inter para ser campeão gaúcho. Foi, aos poucos, moldando o 'seu Leicester'.

"Não te diria que tentamos fazer igual ou que fizemos igual ao Leicester. Mas dentro do que conseguimos observar do elenco, das características, e durante o campeonato os jogadores dando a resposta... Fomos vendo que poderíamos adotar esta estratégia de jogo. Deu certo", completou o treinador.

Números confirmam, mas não era essa a intenção

João Paulo, atacante do Novo Hamburgo, comemora gol marcado contra o Inter - Divulgação/ECNH - Divulgação/ECNH
João Paulo, atacante do Novo Hamburgo, é o "Vardy" do Leicester gaúcho
Imagem: Divulgação/ECNH

Os números impressionam. O Novo Hamburgo tem a melhor campanha do Gauchão com nove vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas. Esteve invicto por cinco rodadas. Marcou 25 gols, e divide o melhor ataque do torneio com o Grêmio. Sofreu apenas 13 e também é um dos times com melhor defesa. E por isso sonha alto.

"Eu tenho dito desde a semifinal que sonhamos com isso [o título]. Estamos bem perto, a um jogo. Com muita dificuldade pela qualidade do adversário, num campo neutro [a final será disputada em Caxias porque o Estádio do Vale tem capacidade inferior a 10 mil torcedores], que aumentou a dificuldade, mas acreditamos, sim, que possamos novamente fazer um bom jogo, equilibrado e as possibilidades estão próximas", opinou Beto.

Ranieri, Vardy e Kanté gaúchos

Em campo a equipe se aproxima ainda mais do atual campeão inglês. Aplicados durante os 90 minutos, os jogadores do Novo Hamburgo não fazem questão alguma de posse de bola ou domínio territorial. Postam-se atrás da linha do meio, esperando um erro do adversário, para sair em velocidade e com poucos toques chegar ao gol. Assim não foi derrotado nem por Inter nem por Grêmio na competição. Empatou as três com o Tricolor, levando a classificação nos pênaltis na semifinal. Bateu o Inter dentro do Beira-Rio na primeira fase e empatou o jogo de ida da decisão em 2 a 2.

"Eu vejo muito [parecido com Leicester] a obediência tática do nosso time. Aquilo que trabalhamos para o jogo, que conversamos, que vimos em vídeo, pedimos para os atletas e eles fazem. Conseguimos os resultados e é tudo mérito deles", elogiou o técnico. "Temos um grupo experiente, cinco ou seis jogadores já passaram por times maiores, já foram campeões estaduais. Isso ajuda muito para que consigamos desenvolver o trabalho. Um grupo solidário que dentro da estratégia que criamos aceitou e se entrega ao máximo", completou.

Campos, o Ranieri do Leicester gaúcho, não irá conquistar o prêmio de melhor técnico do mundo, como o italiano, mas está muito perto de ser eleito o melhor treinador do Rio Grande do Sul. O Vardy versão RS é João Paulo, que não atuava na várzea, mas rodou por uma série de equipes pequenas até a condição atual. Jardel, o Kanté, dará um salto profissional. Não do Leicester para o Chelsea, como o francês, mas irá para o Londrina, onde disputará a Série B nacional, algo relevante para quem jogou praticamente apenas no interior gaúcho durante toda a carreira.

"Eu fico muito feliz porque joguei no interior por 20 anos, tenho 15 como técnico sempre no interior, fiz várias campanhas boas mas agora é a decisão. Os números que fizemos, deixa claro que o que penso de futebol, o que visualizo, está no caminho certo. Nossa característica, o que temos feito, corrido, trabalhado, por isso acontece. Me sinto valorizado e muito feliz", finalizou Beto Campos.