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Libertadores - 2019

Espremidos no Pacaembu, "carboneros" cantam, choram e apoiam o Peñarol até o fim

Torcedores do Peñarol ficam na área destina para visitantes no Pacaembu - Roberto Setton/UOL
Torcedores do Peñarol ficam na área destina para visitantes no Pacaembu Imagem: Roberto Setton/UOL

Mauricio Stycer

Em São Paulo

23/06/2011 07h02

São 19h e os “carboneros”, como são conhecidos os torcedores do Peñarol, cantam sem parar no cantinho a eles destinado no Pacaembu. A cantoria iria prosseguir por cinco horas seguidas, até a entrega das medalhas de segundo lugar aos jogadores da equipe.

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Cerca de 2,5 mil torcedores se espremeram na arquibancada. Fora do estádio, cerca de 400, sem ingressos, não conseguiram entrar no início do jogo. Com ingressos falsos na mão, adquiridos de cambistas, algumas dezenas de uruguaios também foram barrados na entrada.

O aperto dentro do estádio era tão grande que a cônsul-geral do Uruguai em São Paulo, Brígida Scaffo, negociou pessoalmente com a Polícia Militar uma ampliação da área destinada aos torcedores uruguaios.

Segundo ela, entre os “carboneros” na arquibancada havia autoridades do país, como o ministro dos Transportes, Enrique Pintado, e deputados. A PM disse que alargaria em alguns centímetros o espaço assim que o jogo começasse, mas não cumpriu a promessa.

O adversário era o Santos, mas o principal grito de guerra dos torcedores, cantado o tempo todo, faz referências pouco elogiosas ao Nacional, principal rival do Peñarol no Uruguai. Uma outra música que cantam muito, para espanto dos brasileiros, é uma versão do “Ilariê”, de Xuxa.

“Loucura sem cura” diz uma das faixas estendidas pelos “carboneros” no Pacaembu. Faz sentido. Outra pede: “A cara e perro”, algo como “mostrem os dentes”. “Um gol a gente vai fazer”, me diz um jornalista uruguaio, sem preocupação alguma com a isenção, antes do início do jogo. “Não sei se a gente vai ganhar”, concede. “Mas um gol a gente faz”.

Há muitos senhores de cabelos brancos na torcida, algumas mulheres e uma maioria de jovens. Um homem numa cadeira de rodas e outro com dificuldades para andar assistem o jogo ao meu lado, no alto da arquibancada.

Todos vestem a camisa do time. Numa das mangas, há oito estrelas, três douradas e cinco prateadas. Representam, respectivamente, os títulos mundiais e da Libertadores já conquistados pelo Peñarol.

Não à toa, tanto antes quanto depois da partida, os “carboneros” provocam os santistas contando em voz alta: “Um, dois, três, quatro, cinco!” Os brasileiros respondem xingando os uruguaios em portunhol: “Maricão! Hijo da puta!”

A vingança ocorre aos 15 minutos do primeiro tempo quando a torcida do Santos no Tobogã abre uma bandeira gigante, de cabeça para baixo. Os “carboneros” morrem de rir e os santistas recolhem rapidamente o manto alvinegro.

O jogo segue amarrado, sem graça, no primeiro tempo, e o uruguaio ao meu lado explica: “O Peñarol não está acostumado a jogar em gramado bom”. É uma referência nada elogiosa ao estado do campo no estádio Centenário, em Montevidéu.

O gol de Neymar logo no início do segundo tempo esfria, por alguns minutos, a cantoria dos “carboneros”, mas eles logo recomeçam, pedindo: “Um pouco mais de jogo!!!”

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O Santos faz 2 a 0 e um brasileiro começa a tripudiar: “Vai passar fome no Uruguai!”. Um torcedor responde: “Fome passam vocês no Brasil”.

O Uruguai faz o seu gol aos 34 minutos e a torcida volta a cantar como se o time fosse campeão. Mas não dá.

A partida termina e muitos “carboneros” choram. A briga dentro do gramado não empolga os torcedores. Passada a confusão, três jogadores do time, entre os quais o craque Martinuccio, aproximam-se do alambrado e jogam suas camisas para a torcida.

Um espetáculo de fidelidade e amor por um time. Pacífico, educado, apaixonado.