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Hostilizado no Peru, Tinga já havia sofrido preconceito racial no Brasil

Do UOL, em Belo Horizonte

13/02/2014 10h45

Vítima de injuria racial de torcedores peruanos durante a derrota do Cruzeiro para o Real Garcilaso, por 2 a 1, em Huancayo, na noite de quarta-feira, o volante Tinga, de 36 anos, já havia sido alvo de preconceito em sua carreira. O experiente foi hostilizado por torcedores brasileiros em 2005.

“Aconteceu uma vez, um tempo atrás, em Caxias, há muito tempo, foi superado e se passaram quase 15 anos para acontecer uma coisa dessa. A gente fica chateado”, disse o volante, em entrevista a Fox Sports. O volante lamentou que manifestações racistas ainda ocorram no futebol.

“A gente que sempre briga no futebol pelas coisas corretas, justas, é difícil ver acontecer isso. Fico muito chateado, infelizmente tem acontecido isso em todos os lugares e hoje não foi deferente. A gente fica triste por existir preconceito em pleno ano de 2014”, acrescentou o atleta.

Em 2005, ainda quando atuava pelo Internacional, o jogador foi hostilizado da mesma forma pela torcida do Juventude. A partida ocorreu no dia 22 de outubro daquele ano, no estádio Alfredo Jaconi, e o clube da Serra Gaúcha acabou penalizado pelos atos de sua torcida, que foram denunciados pelo árbitro mineiro Alicio Pena Júnior.

O árbitro relatou em súmula que a torcida local “imitava um macaco todas as vezes” que Tinga encostava na bola, a exemplo do que aconteceu em Huancayo, quando a torcida anfitriã hostilizou o jogador com gestos e sons fazendo referência ao animal.

Na ocasião, o Juventude acabou sendo penalizado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), em decisão unânime, com multa de R$ 200 mil e perda de dois mandos de campo, e se tornou a primeira agremiação brasileira a ser punida por conta de racismo.

A Conmebol já se manifestou pelo perfil oficial da Copa Libertadores no twitter dizendo que irá tomar providências em relação ao fato e que irá aplicar sanções aos peruanos. A diretoria celeste também disse que irá entrar com uma representação na entidade máxima do futebol sul-americano exigindo atitudes em relação ao caso de Tinga e os demais problemas que o clube enfrentou no Peru.

Peruanos são reincidentes em atos racistas

Não foi a primeira vez que um jogador brasileiro sofreu com insultos racistas em território peruano. Em 2011, durante uma partida entre Brasil e Bolívia pelo Sul-Americano sub-20, uma pequena parte da torcida presente ao estádio 25 de Noviembre, em Moquegua, hostilizou o atacante Diego Maurício.

Depois de entrar no segundo tempo da partida, o jogador da seleção brasileira passou a ser ofendido por torcedores, que imitavam, assim como ocorreu com Tinga, sons de macaco. Depois do jogo, o atacante lamentou o incidente.

“Eu fico triste, mas isso não me afeta em nenhum momento. Independentemente de raça, somos todos seres humanos. Dentro de campo vou sempre mostrar meu trabalho e não dou bola para isso”, disse o jogador na época.

Apesar da evidente discriminação ao atacante brasileiro, os peruanos, torcedores em geral e até autoridades, consideraram normal e mesmo “engraçada” a atitude de parte da torcida de imitar sons de macaco quando Diego Maurício pegava na bola.

Um policial que estava no estádio disse que era apenas um gesto usado pela torcida para “atrapalhar” os jogadores de “pele escura”. Um jornalista peruano afirmou que se tratava de uma tradição no país e uma “brincadeira”, mas recuou envergonhado ao ser questionado se não se tratava de uma discriminação racial.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cobrou explicações da Conmebol sobre o comportamento dos torcedores. A iniciativa gerou uma reação da entidade sul-americana, que criou uma campanha para tentar coibir atos racistas durante o Sul-Americano sub-20.

Uma faixa com a frase “Não ao racismo” foi afixada próxima aos torcedores durante os jogos. Além disso, o pedido foi reforçado por alto-falantes dos estádios.